quinta-feira, 9 de agosto de 2012

SOBRE O ESPETÁCULO Romeu e Julieta, Do Amor que Shakespeare Não Conheceu. - Gilberto Cardoso dos Santos


Romeu e Julieta, Do Amor que Shakespeare Não Conheceu
Não usarei os termos "ri litros", comuns nas análises facebuquieanas juvenis, nem o exagerado "quase me acabo de rir". Todavia, saí do Candinha com vontade de encontrar algum dos talentosos colunistas do blog  BLOG DA APOESC   para comentar positivamente a respeito da peça. Logo deparei-me com os hamletianos amigos Marcos Cavalcanti e Nailson Costa. 

Os três fomos unânimes em elogiar o espetáculo Romeu e Julieta, Do Amor que Shakespeare Não Conheceu. Aliás, Marcos até nos desafiou a escrevermos dando nosso parecer sobre o amor. Lembrando aquelas rusgas infantis em que um diz "Pise aqui pra você ver!" e o outro diz "Pise você primeiro", digo que gostaria de ver o nosso Don Juan de Marco(s) Cavalcanti dando algumas passadas nesse campo minado. Em seguida o seguiríamos, atentando bem para as suas pegadas.


Um outro amigo a quem convidei não compareceu pelo fato de estar cansadíssimo e por suspeitar que aquilo seria apenas um pretexto para evangelização. Concordei com ele, mas fui pela fé. Poderia ser que estivéssemos enganados.

E estava, a despeito dos muitos hinos cantados antes do espetáculo. Melodias agradáveis.

Valeu a pena conferir a bem-humorada análise da famosa obra de Shakespeare. Foi bom, também, reencontrar alguns amigos e ex-alunos.

Imagino que se com mais frequência tivéssemos espetáculos desta natureza a cultura em Santa Cruz "bombaria". Leva os jovens à reflexão.

Concordo com a "nota" que Nailson postou em seu Facebook:

10, quer dizer 9,5, a nota para a peça teatral Rome e Julieta agora há pouco. Teatro superlotado, plateia educada, e texto cômico muito bem dirigido e interpretado pela galera do Shalom, de Natal. Valeu a pena! Quem não foi, perdeu! Tirei 0,5 pt em função de não ter um sistema de som para captar as falas, e isso prejudicou muito quem ficou lá atrás. No mais, valeu. 

Nota dada e aceita, eterno professor Nail... som! Cinco pontinhos a menos para o que não soou bem.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

BATE-PAPO FILOSÓFICO NO IESC - Gilberto Cardoso dos Santos


Gilvan Oliveira, Marcos, Gilberto, Dênisson e  professor Alexandre

Na última sexta-feira (27.07.2012), tivemos um agradável debate filosófico organizado por Gilvan Oliveira, professor de Filosofia. A troca de ideias ocorreu em uma das salas do IESC, e teve como público alvo alunos do ensino médio.
Eu, Marcos Cavalcanti, Dênison (seminarista) e o professor de física e  matemática daquela instituição tivemos o privilégio de contar com a atenção e boa-vontade dos alunos presentes, que se mostraram inteligentes, participativos e bem informados. O debate começou às 10:40 e ultrapassou as 12 h.
Naquele ambiente tão favorável ao diálogo, senti-me como se estivesse no Aerópago, naquele tempo em que a escola significava uma reunião de pessoas que se ajuntavam para filosofar.

Marcos buscou uma melhor interação com os estudantes. Para verificar se havia real entendimento do que dizia, permitia que os alunos  finalizassem suas frases. Exemplos de sua fala:

Os primeiros cinco livros da Bíblia formam o Penta...

teuco!, completavam os alunos.

Nossa vida deve ser regida pela Ética e pela Cidadã...

nia!, finalizavam em coro.

Fez uma breve explanação sobre a história da religião e aconselhou a todos que lessem a Bíblia, principalmente o Velho Testamento, a fim de conhecerem melhor o deus judaico-cristão.

Apesar dos reclames estomacais (já eram doze e meia), quando tocou para que encerrássemos a conversa não foram poucos os alunos que lamentaram e ficaram dando claros sinais de que estavam gostando. 

Apesar da oposição de ideias, não houve mortos nem feridos; saímos dali tão tranquilos quanto antes.
 Os alunos, simpaticíssimos, faziam questão de aplaudir aos debatedores e ao que estava sendo exposto; enviaram por escrito diversas perguntas e observações que, infelizmente, devido a exiguidade do tempo, não foram respondidas. Decerto o professor Gilvan não há de deixá-los sem respostas.
 Os dois docentes do IESC, organizadores do debate, mostraram-se muito queridos pelos alunos. Parecem estar fazendo um excelente trabalho.
                               O professor Alexandre defendeu suas ideias tomando por base a Física e a Matemática. Ex-seminarista, disse-nos que abandonou a vocação quando percebeu que a igreja não fornecia respostas para suas perguntas. Para ele, não existem coincidências na matemática. Ilustrou seu modo de pensar com o desastre do Titanic e citando uma das histórias que o levam a ter fé, intitulada Deus no Porta-Malas.
 Dênisson, de quem já tive o privilégio de ser professor, mostrou-se culto e preparado para defender seu ponto-de-vista. Fez questão de esclarecer que não viera ali para converter ninguém e encarou a polêmica com bom-humor.

 Marcos estava felicíssimo, por se achar num ambiente onde já foi educador e que se mostrou tão favorável ao confronto de ideias.


Nossas escolas e instituições em geral lucrariam muito, acho, caso encontros dessa natureza fossem promovidos dentro do espírito que motivava os pensadores gregos.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FRANCIMÁRIO: UM HOMEM DE BOM CORAÇÃO



Estávamos na escola, em uma reunião, quando tocou o celular da diretora. Pelo silêncio que se seguiu e pesar em seu semblante, sentimos que se tratava de uma notícia triste. 

– Gente, disse-nos ela, lamento ter que lhes dar uma notícia muito muito triste: acaba de morrer Francimário!

Logo me perguntei “quem será Francimário?”, vendo a tristeza que se apossou de todos. Um colega esclareceu que era o irmão do professor Jocemário; alguém que já fora motorista do carro da DIRED e que também era caminhoneiro. Fiquei na mesma, sem saber de quem se tratava. A diretora passou a descrever as circunstâncias de sua morte: tinha se sentido mal enquanto dirigia e, tentando ir até o hospital; acabara batendo em um poste, e morrera imediatamente, vítima de ataque cardíaco.

Explicaram-me que se tratava de um mal de família. Uma familiar dele teria morrido enquanto dançava no clube. “Muito novo ainda”, lamentou alguém. “Era gente muito boa. Nota dez.”

Ao chegar em casa, abri o Facebook e lá estava a seguinte mensagem, publicada por Nailson Costa:

“Amigos, é com profundo pesar que lhes comunico o falecimento de um grande amigo meu de infância, o Sr. Francisco Francimário Praxedes, que veio a óbito agora há pouco, vitimado por um infarto fulminante. Francimário era servidor público estadual e, nas horas vagas, caminhoneiro. Gente muito boa! Amigo de fé e irmão camarada. Seu corpo ainda não se encontra em sua residência, situada na Rua Elóy de Souza, Centro. O sepultamento dar-se-á amanhã, às 16 horas no cemitério de Santa Cruz. Estou aqui com o meu coração cheio de dor, com um engasgo muito grande e uma vontade doida de chorar pra fora. Por esse motivo, excluí um texto cômico que publiquei agora há pouco. Amigo Francimário, obrigado por sua tão boa companhia na nossa infância querida e inesquecível. Deus abra as portas dos grandes salões celestiais e o receba de braços abertos. Adeus.”

Percebi, nas palavras de Nailson, tratar-se de alguém do bem, que deixaria enorme saudade.

Mais tarde, tais impressões foram corroboradas ao ler outra nota, publicada por Paulo Neto:

“Grande amigo Francimário... A gente nunca entende o porquê tem que chegar esse triste momento, porém, é nossa única certeza na vida. Tivemos o prazer de conhecer e compartilhar boas alegrias com seu jeito autêntico e extrovertido, só nos deixou bons exemplos de dignidade humana, pessoa de infinitas qualidades, homem trabalhador e disposto, honesto, humilde, bom pai e bom amigo. Vai em paz meu irmão, mais cedo ou mais tarde a gente se encontra na casa do Pai. Meus sentimentos à família.”

Abaixo, Paulo postou esta foto:



Senti um sobressalto ao vê-la, pois descobri tratar-se de alguém a quem eu já vira muitas vezes e até chegara a trocar algumas palavras. Infelizmente, digo-o agora, nunca me aproximei dele o quanto deveria. Certamente sua boa índole e exemplo teriam tido  boas influências em minha vida.

No outro dia, enquanto dava aula, a supervisora perguntou-me se eu não quereria ir ao enterro de Francimário. Não titubeei na resposta: "Sim!". 

Ao chegar na igreja, Luzenir Galvão, visivelmente emocionada, elogiava o falecido como se com ele falasse, dando destaque à sua paciência, educação, atenção e disposição para servir.
Chegara ao fim da cerimônia fúnebre. A igreja estava lotadíssima.

Ao som de “Segura na mão de Deus”, belamente tocada e cantada, e, posteriormente, de “Como é grande o meu amor por você”, uma enorme fila passou a circular em torno do caixão para o último adeus.
Ví alguns conhecidos  chorando. Ao perguntar se tinham algum grau de parentesco, respondiam-me: “Não. Éramos apenas grandes amigos.”

Zulmira, ex-funcionária da DIRED com emoção e à meia voz, falou-me de sua paciência, gentileza e de quão bom motorista era.

Dizem-nos que quem quiser ser bom morra ou se mude, mas percebi claramente que não era este o caso de Francimário. As pessoas de fato gostavam dele. As muitas lágrimas me disseram isto.
.
Fui ao cemitério onde seria enterrado, mas ao chegar lá vi que o féretro ainda estava distante. Parei para trocar umas ideias com o coveiro local e sua esposa. Estes, por força do ofício, são “duros” em relação a quem morre. De tanto encarar a morte, familiarizaram-se com ela. Enquanto fumava, a mulher foi me explicando que chegavam a enterrar 3 por dia, às vezes. Ela limpava os túmulos, tirava o mato das covas e aguava as flores daqueles que a contratavam para tal. Muitas vezes, disse-me ela, fazia isto à noite.

De repente, porém, passou a falar sobre o morto que aguardávamos. Ao pronunciar seu nome sua voz se quebrou e os olhos ficaram úmidos. Ví que seu esposo não iria cumprir apenas mais uma etapa de seu terrível ofício; naquela tarde, também enterraria um ente querido. 
Traçou-me ela, dentro daquilo que sua limitação vocabular permitia, uma imagem bem positiva do falecido, parecida com a que Nailson, Paulo Neto e tantos outros me haviam passado.

Sim. A família do coveiro também o conhecia e gostava muito dele.

Mais uma vez, lamentei  não ter parado para conhecê-lo melhor quando ainda em vida. A memória, então, me comunicou que em alguma das viagens  que fiz no carro da Dired, o tive como motorista. Nesta viagem, porém, não parei para ver nele algo mais que o fato de ser meu motorista naquele momento. Lamentável, digo-o agora.
A esposa do coveiro tentou resumir tudo em poucas palavras quando a informei que ele tinha apenas 47 anos
“Quem é bom Deus leva logo e quem é ruim fica na Terra.”

Ao companhar aquele enterro, concluí:

Francimário era um homem de bom coração que (infelizmente) não tinha o coração bom.

sábado, 21 de julho de 2012

MISSIVA À ESPOSA - Gilberto Cardoso dos Santos


Por trás deste médio homem, senhora Santos, uma grande mulher jaz na obscuridade por causa das orelhas à frente.

Emocionei-me ao ler o que escreveu  no texto MEU OURO, MEU TESOURO.

Se sorrio sempre, minha querida, e a faço gargalhar, é porque meu bom-humor encontra eco nos corredores de sua alma.

Há que haver contraste entre a maciez do pneu e a dureza da pista para que a viagem aconteça. Você, com pneus ou sem pneus, me amortece e vivifica.

A verdade é que conviver consigo e com sua família é muito prazeroso. Suas irmãs e irmão são ovelhas. Sua benedita mãe está mais para flor que para ofídio.

Você é sábia, prudente, bela, uma companhia agradabilíssima. Seu bom gosto e inteligência tiveram plena revelação quando me escolheu.

Após o aprazível banquete oferecido pelos amigos, veio você e me surpreendeu com tão deliciosa sobremesa.

Não sou seu tesouro, e sim o rico baú em que se encontra. Se sou seu ouro, é porque tenho uma ourives generosa, que me lapida com carinho e faz vistas grossas para as escórias.

A promessa de um seguro de vida foi razão mais que suficiente pra que escrevesse tais encômios. Em  memórias póstumas continuarei a ruminar esta mensagem e enaltecerei tudo que fez.


sábado, 14 de julho de 2012

PUXÃO DE ORELHAS DA SENHORA SANTOS - Gilberto Cardoso dos Santos



A senhora Santos deu-me um puxão de orelhas. Eu estava na sala, nem precisou deslocar-se da cozinha (eis a vantagem de casar-se com um homem todo-ouvidos). Ecoou as palavras de Marcos:

 "Seu blog não é cultural?! Não é sério?! Não tem necessidade de anonimato..."

Em seguida puxou-me para si, alisou-me o cabelo; fez-se convincente.
O computador fica perto da cozinha, território onde ela reina. 
Devo obedecer. Não deixarei que  anônimos, ainda que do bem, atrapalhem nossa relação.
Apesar de todo cuidado que temos tido até agora na filtragem dos comentários, diminuirei a possibilidade de anonimatos. 
Alguns que bem conhecemos,  postam como anônimos e assinam seus posts (Aldenir Dantas, por exemplo). Assim procedem por ser mais fácil, prático. Espero que entendam a nova medida, pois não há porque cortar um pé, mesmo que feio e trôpego, quando há outros tratamentos possíveis.
Joana, Ana, Maria Auxiliadora, Pedro, Ailton, Jailson, Alberto, Sião e tantos outros com quem tanto ansiamos entrar em contato por sempre a nós se dirigirem positivamente, entenderão, espero, esta medida corretiva e continuarão a nos alegrar com suas participações.

INSTRUÇÕES ÀS PESSOAS DO BEM, COMPREENSIVAS, QUE NOS LEEM:

Se tiver e-mail do Google, escolha a opção Conta do Google, ao postar.

Veja:


1. Digite seu comentário na caixa de texto abaixo de "Comente" e expanda o menu "Selecionar perfil..." como na foto:
3. Depois de digitar seu comentário você vai em selecionar perfil
4. Após expandir o menu, escolha a opção mais cabível a você.



Se preferir, selecione "Nome/URL".
Coloque seu nome na parte indicada para o nome.
Em URL digite seu site da web, se você tiver. Se você não tiver coloque seu endereço no Orkut, Facebook ou ponha um e-mail ou Twitter. Clique em continuar e pronto.


"Desenhando" mais ainda esta explicação, veja como ficaria meu Facebook neste comentário: 


Para isto, fui na página do Facebook e cliquei em cima de meu nome. Em seguida copiei o link que apareceu na barra de endereços.

Os senhores anônimos que se sentirem chateados com esta medida, sintam-se à vontade para reclamar utilizando algum dos meios alistados acima.

Abraços e até mais. A senhora Santos me chama.






quinta-feira, 12 de julho de 2012

MEU TÍTULO DE CIDADÃO - Gilberto Cardoso dos Santos


Tornou o comandante: Eu por grande soma de dinheiro adquiri este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento. - Atos 22:28


Lembrei-me hoje de Atos 22:28 ao ser comunicado por Adriano Bezerra, via celular, que Gilvandelma, da Câmara de Vereadores local, estava à minha procura para entregar a carta-convite que me me levará à concessão do título de cidadão. Recordei-me, também, de um trecho da entrevista com Marta Ferraroque nos disse:

"Gostaria de agradecer a todas as autoridades da cidade e os seus cidadãos por me dar o título de cidadã. Um título que nunca na vida eu sonhei receber."

Minhas palavras não difeririam muito das de Marta. Para mim é uma honra, não tendo prata nem ouro, como disse Pedro (Atos 3:6),  ser agraciado com tal reconhecimento. 

Pedro finalizou com uma adversativa alvissareira: "Mas o que tenho isto te dou". Fiquei me questionando sobre as possíveis coisas que dei Santa Cruz nestes anos todos em que aqui resido. Basicamente, dei aulas e trouxe conhecimento a muitos de seus cidadãos legítimos, alguns dos quais encontro hoje na esfera política, religiosa e a alguns que optaram pela área empresarial. Outros tornaram-se funcionários como eu, enfermeiros, advogados... (um outro dia, estando na barbearia de Joelson, um a quem não reconheci passou pelo recinto e logo retornou para dizer-se profundamente grato pelo que lhe ensinei, acrescentando que se tornara bancário); à semelhança do que Pedro fez com o pedinte, aprumei alguns versos de pé quebrados que correram a la Rubinho Barrichelo nas páginas de alguns cordeis e me trouxeram certa notoriedade; dei à cidade o espaço virtual chamado Blog da APOESC e através do "APOESC Recitando o Sertão" ajudei a abanar a fumegante chama da cultura local.

Se a ex-vereadora Odete e todos aqueles que votaram pela minha indicação viram isto como sendo mais importante que prata e ouro, é sinal que ainda há na esfera política quem reconheça o devido valor da arte e da educação.

O comandante, no texto bíblico, disse que adquirira seu título por grande soma de dinheiro. Como Paulo, posso orgulhar-me de não ter dependido disto e mais ainda por nem ter precisado nascer aqui. Se fosse depender disto, jamais me tornaria(m) cidadão.

A cerimônia ocorrerá amanhã à noite, no Teatro Candinha Bezerra, a partir das 19h. De qualquer modo me faria presente a esta cerimônia, pois  o senhor Aderson Leão, da clínica Trairi, também receberá tal título e havia me convidado. Obviamente quando vi no envelope o "Ao Ilustríssimo Senhor Gilberto Cardoso dos Santos", senti uma motivação a mais para comparecer àquela casa de espetáculos, pois não é todo dia que a nós se dirigem utilizando termos tão respeitosos. Ali, serei parte de uma constelação. Vagalumearei timidamente mas com muita felicidade  por entre as estrelas do legislativo.

Ali espero encontrar os brilhantes colaboradores deste blog: Hélio Crisanto, Teixeirinha, Eduardo Paulo, Alessandro Nóbrega, André, Débora Raquiel, João Maria, Lindonete, Nailson, Joseni, Aldenir, Adriano, Camilo Henrique, Ivanilson, Marcos Cavalcanti, Maciel, Marcelo, João Estevam, Rita Luna, Dr. Epitácio e demais porventura penalizados por minha deficiente memória.

A presença de vocês certamente muito contribuirá para abrilhantar este momento único.

domingo, 8 de julho de 2012

O DEUS COM QUEM NÃO SE BRINCA (resposta a Marcos Cavalcanti)



Foto: Marcos Cavalcanti, Gilberto Cardoso

Caro Marcos:

Vaselinarei cada explicação ao “Com Que Deus Não se Brinca?”  na esperança de que estas penetrem com mais suavidade em seu entendimento. Polêmico é o tema do qual tratamos, sujeito a inúmeras interpretações. Sobre o pão duro da matéria buscarei ser como maionese, visando garantir nossa permanência na mesa dos que degustam nossas palavras - dignos de todo o respeito - e trazer melhor sabor a esta saudável porém insípida discussão. Buscarei proceder com aquela mesma atitude respeitosa por você manifestada no sepultamento de Monsenhor Raimundo ao discursar positivamente sobre o ilustre finado umedecendo com lágrimas sinceras o papel em que escrevera seu discurso. Sabedores de suas (des)crenças, todos nos comovemos com a demonstração de respeito e tolerância manifestados na ocasião e passamos a admirá-lo mais ainda. Monsenhor Raimundo, a quem você se dirigiu depois de morto com palavras untadas de poesia como se este pudesse ouvi-lo (dando margem a quem não o conhecesse de pensar tratar-se de uma oração), manifestou, em igual medida, tolerância para com os ateus quando admitiu a possibilidade de que alguém viesse a salvar-se mesmo sendo descrente; para ele importava mais a conduta que a profissão de fé.

Em Com Deus não se brinca quis me referir à concepção cristã do ser supremo. Quando falamos em Deus, inevitavelmente nos referimos ao Deus que pertence à cultura da qual tratamos ou na qual vivemos. Se porventura eu escrevesse em Cabul para um blog afegão sobre palavras ditas por um sheik pouco antes de um naufrágio ocorrido no mar arábico envolvendo pessoas provenientes da Indonésia, meus leitores muçulmanos, ao lerem a palavra “deus” entenderiam estar me referindo a Alá. O Titanic, na noite de seu naufrágio, conduzia uma tripulação dominantemente cristã. Inclusive, teriam cantado o hino  "Nearer, my God, to Thee" (hino cristão protestante), por ocasião do desastre.

O deus a quem faço referência é o Deus da Bíblia. No Novo Testamento, Deus é sinônimo de tudo que é bom. Lemos:

Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” (1 João 4:8).

Muitos estranham a metamorfose que captam na imagem de Deus a partir de Jesus. Alguém disse: “No Velho Testamento temos um Deus que mata; no Novo Testamento vemos um Deus que morre.”

Apesar dos morticínios, mesmo no VT Deus é apresentado como tendo as características de um ser justo, amoroso, imparcial e profundamente preocupado com a felicidade humana. Um profeta escreveu:

Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.”(Jeremias 31:3)

Creio que esta imagem seja crucial para um deus ou para qualquer ser que governe. Até líderes e ditadores famosos que eu e você abominamos sentem a necessidade de manter um conceito próprio contrastante com seus atos. O bom-senso nos diz que um deus perfeito, desejável ou líder ideal, deva ter tais características. Os escritores da Bíblia, mesmo relatando coisas chocantes ao nosso entendimento como matança de crianças (Números 31:17), insistiam na imagem de um Ser bondoso, justo e misericordioso.

O problema é que as ideias de justiça, misericórdia e amor, na prática, são fortemente influenciadas pela formação, características psicológicas de cada um e pela cultura em que se está inserido. Manter escravos, matar e praticar o olho por olho eram perfeitamente compatíveis com a crença em Deus no tempo de Davi. Hoje, isso receberia a condenação de qualquer cristão.

Quando comunistas ateus e inquisidores medievais praticaram suas atrocidades, sentiam-se em perfeita consonância com os ideais de justiça, imparcialidade e amor à espécie humana apregoados pelas ideologias que abraçaram.

Um grande pregador cristão, Dwight Moody, aconselhava que seus fieis lessem a Bíblia como quem come peixe, com todo cuidado para não se engasgar. Eu acho que o pregador estava certo em sua observação: quem quiser manter a fé tem que proceder assim. Tal como Pedro não deveria atentar para os vendavais da incredulidade (Mat 14:30) sob pena de afogamento espiritual, os que se debruçarem sobre a Bíblia com olhar de urubu jamais “subirão como as águias” (Isaías 40:31)  É desse modo que o mundo cristão tem procedido. Buscam aquelas  partes que salientam aspectos positivos sobre o ser supremo, os versículos que estimulam a fé e a devoção.

A ideia de um deus com quem não se deve brincar vem de versículos como os de 2 REIS 2:23-24:

 “Deus é amor, mas também é fogo consumidor”, dizem religiosos, cientes dos muitos relatos em que expressões de blasfêmia resultaram em tragédias. O que tentei foi, a partir dos próprios argumentos fornecidos pela Bíblia e pelos  que usam a ilustração do Titanic, chamar a atenção para possibilidade de se pensar diferente.

Finalizo dizendo: perdoem-me os zelosos da fé que se viram censurados em seus comentários ofensivos à pessoa de Marcos. Apesar das diferenças radicais, ele e Monsenhor Raimundo foram bons amigos até o fim. Não tentem tomar as dores de Deus. Se ele é o ofendido, deixem que Ele mesmo resolva à sua maneira, extraindo água da rocha ou enviando raios.
Meditem nestas belíssimas palavras de Padre Zezinho:

“Eu sei que da verdade não sou dono
Eu sei que não sei tudo sobre Deus
Às vezes quem duvida e faz perguntas
É muito mais honesto do que eu.”



quinta-feira, 5 de julho de 2012

COM DEUS NÃO SE BRINCA - Gilberto Cardoso dos Santos



“Nem Deus pode afundar o Titanic”

A frase acima, supostamente dita por um dos condutores ou marinheiro do maior navio ate então construído, tem sido citada à exaustão nos últimos cem anos em púlpitos cristãos do mundo inteiro como um alerta aos que duvidam do Poder Supremo.
É difícil não despertar temor, medo, no coração daqueles que creem. Muitos, aliás, foram incentivados a temer a Deus por causa dessa história.

A verdade, porém, segundo Richard Howells – expert na história do naufrágio – é que não há provas conclusivas a respeito deste relato; a história teria sido criada pelo imaginário popular após o naufrágio. Nunca, afirmou ele, a White Star Line disse que o navio era invulnerável.

Verdade ou mentira, sempre me soou estranho que Deus, sinônimo de Amor e de Justiça – o mais perfeito dos seres e fonte benfazeja de todos os outros – fosse capaz de se deixar levar por tais ímpetos de destruição. Confesso que quando  ouvia esta história da boca de algum líder religioso, era como tentar engolir um maxixe quente. Ficava pensando em cerca de 1500 embarcadas e nos muitos familiares destes que ficaram em terra; pessoas que não o provocaram, que não disseram nada parecido com isso, mas, como estavam “no mesmo barco”, acabaram sendo penalizados.

Isto o faria parecer alguém imaturo, perigosamente impulsivo. Imagine o mais adulto e antigo dos seres procedendo tolamente como criança! Temperamento sanguíneo!
Ora, isso não combinaria com seu caráter. Imaginemos a cena: um ameninado qualquer da terra, jactancioso, diz: “Não tem quem afunde esse navio... nem Deus!” E Deus, a quem nada escapa, franze o sobrecenho e diz: “Ah, é? Pois eu vou mostrar a esse sujeito quem é que manda aí!” e logo, valendo-se de  monstruoso iceberg,  "prova" para o resto da humanidade quem é o tal. 

Segundo afirmam muitos propagadores dessa história, a frase teria sido dita por brincadeira, o que faria parecer bem mais irrazoável a reação divina. Nós nos sentimos pouco à vontade com pessoas mal-humoradas. Alguma vez um amigo o alertou sobre a inconveniência de brincar com alguém que esquenta com facilidade? - Cuidado, disse. - Ele não gosta de brincadeira -  Creio que sua impressão sobre a pessoa citada não foi das melhores.

Isso faz Deus parecer com  indivíduos imprevisíveis que todos conhecemos; assemelha-o a governantes despóticos, prontos a esmagar quaisquer sinais de insolência. Religiosos fanáticos inquisidores poderiam dizer convincentemente que de fato foram feitos à Sua imagem e semelhança.

Em sendo verdade, justificaria a censura religiosa e perseguição aos escarnecedores. Como deixar à vontade pessoas que blasfemam contra Deus? Professores, pais e autoridades deveriam tentar controlar tudo oque se diz. O ocorrido com o Titanic estaria aí para nos alertar. De repente, alguém em um grande shopping lotado de gente diria: "Duvido alguém derrubar este edifício!" E Deus, sentindo-se provocado, mandava um raio e deixava milhares de famílias destroçadas.

Será que Deus iria querer destruir toda uma multidão de filhos por causa de um único rebelde? Aliás, nem se todos fossem rebeldes. Tal visão talvez tenha pouco a ver com a de um Deus que criou o homem à sua imagem e semelhança e muito a ver com a de um Deus criado à imagem e semelhança do homem.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A MISSA INVISÍVEL - Gilberto Cardoso dos Santos



Na calçada, devidamente paramentado, todas as noites, voltado para a rua, celebra missa para uma plateia inexistente.
Deram-lhe uma batina, provavelmente reciclada de uma peça  de roupa feminina. Veste-a, e, empunhando um microfone desconectado – de brinquedo, talvez – fala coisas pouco inteligíveis. Botou na cabeça que tem uma missão sacerdotal a cumprir. Pensa-se que pense ser um padre, mas, quem sabe, não se julgue bispo. cardeal ou papa?  Frágil jovem que se agiganta aos próprios olhos e faz-se santo de Deus.
Executa gestos solenes e discursa com convicção uma mensagem pouco inteligível, extraída do livro de sua insanidade. Hinos conhecidos são deformados por sua voz anasalada e rebelde às notas. Curva-se respeitosamente diante de uma imagem inexistente, representativa do invisível. Em seguida, pega um pão que outros não veem e, por força de oração, transforma-o no corpo de Cristo. Estende-o às diversas bocas inexistentes daqueles que não se aglomeraram para ouvi-lo. Sua mímica bem feita, própria de quem crê na materialidade do que imagina, leva nosso pensamento a colocar um pão em sua mão e a dar forma a alguém da multidão com quem ele fala ao entregar a hóstia. Sob a parca luminosidade da rua onde mora, os poucos transeuntes que ocasionalmente passam vislumbram o frágil pregador em sua insignificância física, dirigem-lhe breves olhares indiferentes e distanciam-se alheios à solenidade da ocasião.
Nas janelas e portas das casas ao redor, vê-se o piscar das tevês que mantêm a todos presos em seus lares. A apatia parece tomar conta de tudo.
É de admirar a constância com que ele se posta naquela calçada, noite após noite, enquanto o resto da família, já afeita ao barulho de seus discursos, aproveita para ver a novela.

domingo, 27 de maio de 2012

SEPARANDO QUEM ESCREVE DO QUE ESTÁ ESCRITO- Gilberto Cardoso dos Santos



Quando lemos, é sempre bom fazermos um esforço para separar aquele que escreve daquilo que está escrito. O autor, necessariamente, não tem a ver com o eu-poético de seu poema ou com o eu lírico de sua crônica.
Lembremos do que disse Fernando Pessoa, 

"poeta é um fingidor
Finge tão completamente. 
Que chega a fingir que é dor. 
A dor que deveras sente."

A dor ou alegria que o poeta expressa necessariamente não é a sua. Saint-Exupery, o autor, é diferente da criança que fala em o Pequeno Príncipe.
O escritor tem o dom de empatizar  com os seres ao seu redor expressando o que de fato sentem ou emprestando-lhes qualidades inexistentes.

Exemplos?

Quem convive com Marcos Cavalcanti sabe que ele é, comumente, uma pessoa bem-humorada, feliz, que nem de longe pensa em suicídio. Para alguns que não  o conhecem  e leem o seu VIAGENS AO ALÉM-TÚMULO é um ser depressivo, negativista, triste. Isso ocorre devido a confusão entre autor e eu-poético. Numa poesia ele pode dizer "Vem, ó morte", enquanto na vida real vive fugindo dela.

Quem faz ou declama um poema de amor  não significa que esteja apaixonado.  José Paulo Paes escreveu poesias em que nitidamente se escuta uma voz feminina. Isso não significa que ele seja mulher ou gay. Quando Drummond, o itabirano, escreveu "Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói", poderia estar falando de uma dor que deveras sentia (apenas para relembrar Fernando Pessoa) ou não. Poderia até nem ter  fotografia da terra natal em sua parede.

Será que no dia anterior à escrita do poema O BICHO Manuel Bandeira realmente esteve perante um pátio imundo? Pode ser que sim, pode ser que não. Mesmo que tenha vivenciado isso, continua a necessidade de diferenciar quem escreve do que está escrito.

Sabe aquelas máscaras que têm a forma exata do rosto que representam? Mesmo sendo tão parecidas (algumas simulam muito bem o tecido humano) continuam sendo apenas máscaras.

Vez por outra aparecem comentários no blog que refletem um pouco essa confusão, salvo  casos em que a pessoa evidentemente está brincando. Daí a razão de ser deste alerta. Desnecessário, talvez.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

A DERRUBADA DA QUADRA - Gilberto Cardoso dos Santos













Num gol do progresso insano
A quadra foi derrubada
E quem perdeu na jogada
Foi o sentimento humano
No ar ficou o vazio
E o enorme desafio
De erguer algo diferente
Este cultural fracasso
Se assemelha a um golaço
Que humilha o time da gente.

Silenciou a pancada
De Rizomar carimbando
Sem saber principiando
A atual derrubada
Em quem ali já jogou
Algo por dentro quebrou
Quando bateu o guindaste
Se jogadores choraram
Vizinhos comemoraram
Vejam que grande  contraste!











Crédito das fotos: Débora Fernanda




domingo, 15 de abril de 2012

UMA PARTE QUE VALE PELO TODO - Gilberto Cardoso dos Santos



A letra acima é da autoria de Chico César e se intitula BÉRADÊRO; foi gravada com uma melodia que não soa muito apetecível ao gosto popular e, além disso, sem quaisquer instrumentos. Trata-se de uma espécie de aboio. Daí, com certeza, a razão do pouco sucesso que fez/faz entre as massas. Há, todavia, muitos como eu que com ela se encantam. Acho que transborda  tutano de poesia em cada verso. Cada linha constitui parte de um favo cheio do mais precioso mel.
Mas há uma parte que dispensaria todas as outras, dois versos que falam fundo ao meu coração:
"E a cigana analfabeta
lendo a mão de Paulo Freire".

Não sei com precisão o que estes versos me falam, mas sei que me dizem muito. Assim age a linguagem da poesia.
Por causa  desta sentença, eu e Hélio a incluímos em nosso repertório. Aliás, tivemos oportunidade de cantá-la na Casa do Béradêro, lá em Catolé do Rocha no espaço construído para conservar a memória de Chico César entre seus conterrâneos.
Para nós é uma parte que vale pelo todo. Sabe aqueles minutos que fazem valer o dia; aquela cena do filme que faz valer a pena o tempo gasto assistindo-o; aquela música que justifica a compra do cd? Este é o verso que faz valer a música. Se esta canção fosse uma enrugada ostra, este verso seria a pérola. Leia-a (ou ouça-a em áudio da música Béradêro ) e se encante com a genialidade desta composição.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

SOBRE A CRISE DÁGUA - Gilberto Cardoso dos Santos


Imagem meramente ilustrativa

Nestes dias de sequidão, em que alguns estão sendo forçados a cumprir a tradição de não tomar banho nos dias santos, a campanha de Monsenhor Raimundo "ÁGUA SIM, VOTO SIM; ÁGUA NÃO, VOTO NÃO" volta a ter sentido e a influir na decisão das pessoas.

Hoje alguém da família passou por minha casa com uma grande trouxa de roupas: Ia tentar lavá-las em Japi.

Não podemos lavar as mãos (como fazer isto, sem água?) diante desta situação.
É como me disse Maurício Anísio:

"A responsabilidade para resolver o problema é: do Prefeito municipal, da Governadora do Estado, dos Deputados (estaduais e federais) que foram votados em nossa cidade e dos Senadores. A essas autoridades, e tão somente a elas, cabe a responsabilidade conjunta para encontrar definitivamente a solução para esse problema. Acusar um ou outro, individualmente, (ou excluir alguém da responsabilidade) não acho que seja o caminho correto. Me parece mais um rancor individual do que a procura da solução."

Seja sinceramente ou por pura estrategia, aprendemos com nosso pais a lançar a culpa sobre os outros: Deus culpou a Adão e este culpou a Eva que, por sua vez, culpou a serpente. Na verdade, todos tinham sua parcela de culpa.

Nós, o povo, também precisamos dizer: "Por nossa culpa, nossa grande culpa (pois temos pecado muitas vezes por pensamentos, atos e omissões), este problema tem se estendido por dias e dias e tem se transformado em meses.". Além disso, como já o denunciou Teixeirinha em DIAMANTE LÍQUIDO, temos feito um mau uso da água (quando a temos). É a hora, em seus minutos finais, de refletir sobre a crise que o mundo atravessa quanto a isso.

Quem não quiser ver seus verdes votos amarelecendo e quiser ter uma boa colheita no próximo pleito, saiba que é hora de arregaçar as mangas. O povo clama com sede. Como Moisés, extraiam água nem que seja das pedras, pois a água não vem mas as cobranças continuam vindo, altíssimas, por sinal.

Não tenham dúvida: os que nada fizerem para resolver este problema, poderão se dar mal nas urnas e os que trouxerem a solução (ou derem a impressão que resolveram) poderão ser beneficiados.

domingo, 1 de abril de 2012

1º de ABRIL NO WALFREDO GURGEL - Gilberto Cardoso dos Santos


Primeiro de abril, que sofrimento
Naquele corredor nauseabundo
Gente a chorar o seu pesar profundo
Enquanto aguarda um pronto-atendimento

Primeiro de abril, tudo verdade
Escuto gritos das enfermarias
Funcionários riem pelas vias
Já tão afeitos à calamidade

Com meu amor naqueles corredores
Sinto-me mal em meio a tantas dores
Quisera ouvir alguém dizer-me: “Gil,

Não acredite no que está vendo
Pois nada disso está acontecendo
Tudo é mentira, Primeiro de Abril!”

quinta-feira, 15 de março de 2012

RESSURREIÇÃO DE MACHADO DE ASSIS - Gilberto Cardoso dos Santos




Machado escreveu em 1873:

[...] Não há atualmente teatro brasileiro, nenhuma peça nacional se escreve, raríssima peça nacional se representa. As cenas teatrais desse país viveram sempre de traduções, o que não quer dizer que não admitissem alguma obra nacional quando apareciam. Hoje, que o gosto público tocou o último grau da decadência e perversão, nenhuma esperança teria quem se sentisse com vocação para compor obras severas de arte. Quem lhas receberia, se o que domina é a cantiga burlesca ou obscena, o cancã, a mágica aparatosa, tudo que fala aos sentidos e aos instintos inferiores?

O trecho é parte do ensaio NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA INSTINTO DE NACIONALIDADE. Como um todo, bem ilustraria o que se dá nos dias de hoje e nos conduziria à convicção de que, como dizia Salomão, nada há de novo debaixo do sol. Ele lamentava, por exemplo, que os clássicos nesse tempo fossem pouco lidos e conhecidos. Machado, hoje um clássico - autor de um romance que figura na lista dos cem melhores da literatura universal - certamente ficaria assustado caso pudesse saber que a realidade não mudou praticamente nada de 1873 para cá.

Se o autor de Resurreição porventura ressurgisse, provavelmente seria glamourosamente conduzido à ABL - academia que o tem como patrono. Ali, teria a chance de conhecer ilustres imortais que lhe entregariam exemplares de obras devidamente autografadas. Imagino-o folheando Marimbondos de Fogo, da autoria do contista, ensaísta, poeta e romancista José Sarney (conhecido em todo o Brasil não por dotes literários, mas por outros motivos), de quem receberia convite para ir à tribuna do Congresso. Tal livro seria devorado com o maior interesse; Machado pensaria: “Se foi conduzido à academia tendo escrito tão pouco, deve ser um escritor fantástico!” Mal acabaria sua decepção com aquele que é capaz de qualquer coisa, (até mesmo de ocupar a cadeira de Tobias Barreto na ABL), teria que ver obras gentilmente ofertadas (ou vendidas, graças a alguma virtude desenvolvida no caminho de Santiago) por Paulo Coelho e talvez como Verônika ele decidisse morrer. Ficaria surpreso com o sucesso estrondoso de O Alquimista que vendeu mais nesta década que Machado em quase 3 séculos. Com Santiago, o protagonista, Machado empreenderia viagem em busca do tesouro literário escondido na obra-prima magra do mago. Iria, certamente, arrepiar-se com deslizes linguísticos difíceis de perdoar e, por fim, à semelhança do que ocorre com o personagem central, descobriria que onde julgava haver algo áureo não há tesouro algum; que deveria retornar às obras de seu tempo onde, finalmente, encontraria algo satisfatório. Ao ler Drummond, Quintana, Veríssimo (pai e filho), e Fernando Sabino, se surpreenderia ao saber que estes nunca tenham sido imortalizados. Ao conferir o estatuto da academia, para ver se as regras haviam mudado, veria que ali ainda consta o requisito “ter publicado, em qualquer gênero da Literatura, obras de reconhecido mérito e valor literário”.

Depois de animada conversa com o imortal senador Marco Maciel, autor de obras memoráveis por mim ignoradas e de um breve passeio com Ivo Pitanguy (feito imortal não pelo que fez com a caneta, mas com o bisturi), talvez Machado tivesse um surto de zelo naquele tão profanado templo da cultura, semelhante àquele que levou Cristo a se munir de um chicote e sair derrubando tudo e expulsando gente. Não sei se ele permaneceria com vida ao saber da medalha que Ronaldinho Gaúcho recebeu devido, talvez, às muitas bolas e camisetas que autografou.

No trecho inicialmente citado, uma parte merece destaque:

Hoje, que o gosto público tocou o último grau da decadência e perversão, nenhuma esperança teria quem se sentisse com vocação para compor obras severas de arte. Quem lhas receberia, se o que domina é a cantiga burlesca ou obscena, o cancã, a mágica aparatosa, tudo que fala aos sentidos e aos instintos inferiores?

Ora, Machado, se vivesse hoje entenderia quão enganado estava ao pensar que em seu tempo o gosto público chegara ao ápice da degradação. Imagine se assistisse um pouco do Big Brother, dramalhão supostamente improvisado que se nega a assumir seu caráter de espetáculo (pois tenta passar por representação fiel da realidade), sórdido drama protagonizado por maus atores e atrizes, cheios nos músculos e nádegas, vazios nas mentes. Veria que estes mamulengos da mídia, um milhão de vezes mais que os aproveitadores de sua época, estariam a levar a população ao último grau de decadência e perversão. Além disso, ao ouvir Michel Teló e saber por um transeunte metido a engraçado que este tem sido escutado por todos, menos por Luíza que está no Canadá, talvez concluísse que as cantigas burlescas de seu tempo eram, na verdade, obras primas da literatura universal comparadas a estas que escapariam dos paredões de som (tão em moda atualmente) e feririam seus tímpanos.

Enfim, diante do que veria nas novelas, no Big Brother, filmes, livros, músicas e espetáculos teatrais de nosso tempo, Machado concluiria que nunca na história desse país (saudoso Lula...) tanto se falou aos sentidos e aos instintos inferiores. A que conclusão senão esta poderia chegar o magno escritor comparando a nudez e perversão sexual de hoje com os braços à mostra que lhe renderam uma crônica? O ser humano, veria ele, em qualquer época, tende mais a dar vazão ao  lado animal, mesmo que isso atente contra o progresso intelectual.

Assustado com o que veria, desejaria retornar à tumba. “Hoje sim”, concluiria, “o gosto público tocou o último grau da decadência e da perversão”; hoje poderia reescrever o NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA  mudando apenas as datas. Todavia, diante do que vemos, o texto pareceria demasiado brando. Machado esquentaria um pouco mais os neurônios ao falar das imbecilidades de nosso tempo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

A (IN)UTILIDADE DA POESIA - Gilberto Cardoso dos Santos)

Perguntaram ao admirável poeta Manoel de Barros: O que é a poesia? Ele respondeu: “Poesia é a virtude de ser inútil.” e acrescentou: “Há várias maneiras de dizer nada. A poesia é uma delas. Em uma das raras entrevistas que concedeu, Manoel de Barros disse que noventa por cento do que escreveu foi inventado, só dez por cento é mentira.
Com o aval de Manoel acrescentaríamos: A poesia é este algo inútil tão útil à humanidade. A poesia dá ao homem a oportunidade de ver o mundo e os seres por ângulos diferentes e até inexistentes. Empresta e arranca das palavras sentidos que causam espanto. O poeta recicla a linguagem comum, converte sons ordinários em notas extraordinárias. É um dizer nada de maneira encantadora. É um falou e tudo se fez, um chamar as coisas que não são como se fossem. A poesia é uma subversão da gramática e dos sentidos: o poema passarinha (grande Quintana) sobre os obstáculos que a linguagem bem comportada impõe. “Escreve-se para chegar ao nada”, disse Autran Dourado. A poesia é um inutensílio, no dizer de Leminski.
Em nossa rádio online, procure a faixa Assaltaram a gramática, na qual o poeta Wally Salomão fala de poetas e da poesia.
Enfim, feliz Dia da Poesia, leitores e poetas, para quem todos os dias é dia de poesia!

Vejam um pouco do documentário premiado sobre Manoel de Barros:


Para ver mais: