terça-feira, 24 de maio de 2011

Poesia para Amanda Gurgel - Gilberto C Santos

1
A voz de Amanda se ergueu
parando o Brasil inteiro
todo o povo brasileiro
ouviu e se comoveu
Quando ela apareceu
no Programa do Faustão
falou com convicção
e a audiência aumentou
até Faustão se calou
e ouviu com toda atenção.
2
Quando esteve na Assembleia
do Rio Grande do Norte
com o seu sotaque forte
silenciou a plateia
ninguém ali tinha ideia
do que iria se dar
o video iria alcançar
mais de um milhão de acessos
falando dos retrocessos
na educação potiguar.
3
Todos demos primazia
À voz de Amanda Gurgel
como a uma voz do céu
que o indizível dizia.
Em prosa ou em poesia
jamais vi tanta clareza
ela expressou com certeza
a nossa dor mais profunda
e o fez de forma fecunda
com maestria e beleza.
4
Quando Amanda foi à frente
parlamentares sisudos
quais pedras ficaram mudos
ante o discurso eloquente
A plateia consciente
da verdade absoluta
achou que a melhor conduta
ante aquela mulher brava
era deixar que a palavra
vencesse qualquer disputa.
5
Porém o discurso dela
não limitou-se ao estado
e todo o professorado
se viu espelhado nela.
Deus pôs uma mulher bela
para nos representar
e eu resolvi me calar
prostrei-me com reverência
e deixei na consciência
a sua voz ecoar.
6
Quando a professora Amanda
subiu àquela tribuna
preencheu uma lacuna
vasta, profunda, nefanda
a sua voz forte e branda
tornou nossa dor palpável
de modo admirável
feriu tímpanos de surdos
desnudando absurdos
num discurso inimitável.
7
Amanda, eu emudeci
porém o fiz de bom grado
pois fui bem representado
no discurso que ouvi
nos versos que escrevi
jamais dei tanta expressão
à triste situação
que vivemos todos nós
Você se fez nossa voz
A voz da Educação!

sábado, 14 de maio de 2011

Entrevista em Poesia com Marcos Cavalcanti


GILBERTO

Me responda em poesia

tudo que eu perguntar

em verso branco ou escuro

não irei discriminar

fale-nos de sua infância

de alguma circunstância

que vive sempre a lembrar


MARCOS CAVALCANTI

Meu caro amigo Gilberto

Responder-lhe é bem preciso

Foram tantas as brincadeiras

Numa infância de sorriso:

Biloca, tô no poço, porrinha,

Garrafão, tica-tica, remandinha

Eis algumas que rememorizo

No palco da minha infância

Nas ruas do meu bairro Paraíso.


GILBERTO

Trace de si um perfil

em minibiografia

Diga quando despertou

seu amor à poesia

de seu apego à leitura

e grande amor à cultura

que pra sempre o marcaria


MARCOS CAVALCANTI

De quatro frutos sou o primeiro

Das árvores Quinca e Terezinha

Vivo feliz com a minha esposa

Ao lado de nossas duas filhinhas

A poesia foi gestada na leitura

E se é que eu tenho alguma cultura

Credito as quatro professorinhas:

Artes, filosofia, ciência e história,

São estas as minhas madrinhas.


GILBERTO

Grande Marcos Cavalcanti

na poesia tão forte

verdadeira sumidade

no Rio Grande do Norte

Você fica preocupado

quando às vezes é chamado

de O Poeta da Morte?


MARCOS CAVALCANTI

Se sumidade é sumido

Aceito o seu qualificativo

Mas não ligo para rótulos

Seja adjetivo ou substantivo

Se a minha poesia é forte

Tirou a força da morte

É por isso que estou ativo

Fazendo poesia necrológica

Para leitor morto-vivo.


GILBERTO

Por que o tema da morte

tem sido tão explorado?

O ter que morrer pra sempre

o deixa preocupado?

O que o faz escrever

é a vontade de ser

postumamente lembrado?


MARCOS CAVALCANTI

No Viagens ao Além-Túmulo

O tema da morte é o principal

Mas não apresenta novidades

Nada há de excepcional

A morte é apenas um processo

Como qualquer outro do universo

Um fenômeno simples e natural

Escrevo porque amo a poesia

Sem fardão ou pose de imortal!


GILBERTO

O que me dizes da rima,

do verso metrificado;

poesia é algo mais

que o verso bem comportado?

Quanto ao valor cultural

o que pensas afinal

do verso de pé-quebrado?


MARCOS CAVALCANTI

Gilberto, meu caro amigo

Eu não tenho competência

Para responder tal questão

Se a poesia é uma ciência

De medir, pesar e esquadrinhar,

Não sou eu quem vai regular

A poesia em sua essência

Nem engessar pé-quebrado

Com a minha incompetência.


GILBERTO

Que prêmios já recebeu?

que obras já publicou?

Em que palcos importantes

Você se apresentou?

nas declamações que fez

porventura houve uma vez

em que alguém o vaiou?


MARCOS CAVALCANTI

Não quero falar de prêmios

E são bem poucos, meu amigo

Não têm lá grande relevância

E estão cá, no coração que abrigo

O livro primeiro e sem acúmulo

Foi o Viagens ao Além-Túmulo

E o segundo que jaz comigo

Tem por título: Imarginário

É só isso e mais não digo.


GILBERTO

Você se diferencia

por se declarar ateu

quando foi exatamente

que a sua fé perdeu?

qual o grande argumento,

prova cabal, pensamento

que disso o convenceu?


MARCOS CAVALCANTI

Não é pouco o que me pedes

Para eu responder de repente

A fé que você mesmo tinha

Hoje já está bem diferente

E nem o melhor menestrel

Consegue por num cordel

Resposta única e convincente,

Por essa razão eu vos digo

Respeite-se o de fé e o não crente.


GILBERTO

"Sem Deus a vida é burra"

Afirma Diadorim

No Grande Sertão - Veredas.

Você também pensa assim

ou acha isso tolice?

Se acaso Deus existisse

seria bom ou ruim?


MARCOS CAVALCANTI

Sem Deuses e sem diabos na mente

Tenho vida plena, apoiado na razão

O Belo, o Bem, o Justo, a Virtude

Não são monopólios da religião

Aprendi muito com a filosofia

Com a literatura e com a biologia

Para ter a minha própria convicção

Que o mundo é como se apresenta

Seja você pelo sim, seja você pelo não.


GILBERTO

Você não acha que a fé

é algo essencial

que o mundo fica vazio

sem o sobrenatural?

A fé e a religião

não causam transformação,

evolução cultural?


MARCOS CAVALCANTI

Não quero ser tão redundante

Já lhe apresentei uma resposta

Muito simples, sincera e humilde

Não sei se alguém gosta ou desgosta

Vivo na natura, sou um ser natural

Sem metafísica ou sobrenatural

E não faço conjectura ou aposta

Que o desenvolvimento da cultura

Tenha só na religião a mesa posta.


GILBERTO

Que coisas da natureza

mexem com seu sentimento?

Recite um belo poema

e um belo pensamento

nas relações pessoais

quais conceitos morais

regem seu comportamento?


MARCOS CAVALCANTI

Das coisas da mãe natureza

Tudo me traz contentamento

A chuva, o mar, a serra, o sertão,

A flor, o sol, as estrelas e o vento,

E nas ações e relações interpessoais

Não alimentar preconceitos sociais

Andar na Lei, ter bom pensamento

Ser solidário, justo, amável e educado

Eis ai, meu poeta, o que sustento.


GILBERTO

O que é a poesia

para Marcos Cavalcanti?

por que defende a cultura

de maneira desgastante?

Nas batalhas que enfrentou

que sucessos alcançou

e qual se mostrou frustrante?


MARCOS CAVALCANTI

A poesia é o olhar de uma criança

É o assoviar sibilante do vento

É o leite da mãe que do seio brota

Para saciar a fome de seu rebento

Já a cultura, só enriquece, não desgasta

Passadista, ultramoderna ou iconoclasta

É luta sadia e sem arrependimento

Viver é combate! Disse um grande poeta

E eu faço disso, meu mandamento.


GILBERTO

Na cultura erudita

cite alguém que o fascina

e um que bem represente

a cultura nordestina

ainda dentro do tema

o que pensa do poema

Morte e Vida Severina?


MARCOS CAVALCANTI

Você me pede dois nomes

Mas um só nome diz tudo

Não há que se fazer distinção

O que seria um absurdo

Cultura erudita ou popular

Nas duas se pode conjugar

Um só nome “severino” , graúdo

Mais de cem livros nos escreveu

Mestre Luís da Câmara Cascudo.


GILBERTO

Qual sua maior virtude

e qual seu maior defeito?

política e religião

merecem nosso respeito?

E este mundo esculhambado

destruído e maltratado

acha que ainda tem jeito?


MARCOS CAVALCANTI

Analisou sua vida, Montaigne

Em seus ensaios imortais

“Conhece-te a ti mesmo”,

Ensinou Sócrates aos demais

Se eu tenho alguma virtude

Que com o tempo eu não mude

E os defeitos que são tantos e tais

Se transformem neste mundo absurdo

No mais nobre entre os nobres metais.


GILBERTO

Você mandou escrever

em palavras garrafais

ao lado de sua casa

assim: "Poesia e Paz"

entre Paz e Poesia

qual delas escolheria

qual dos termos vale mais?


MARCOS CAVALCANTI

Meu caro poeta Gilberto

Um mundo de poesia seria a paz

Um mundo de paz seria pura poesia

Essa conta, meu amigo, não se faz

Paz e Poesia são como dois estribilhos

São também como dois filhos

Não me pergunte qual vale mais

Porém uma coisa eu lhe garanto

Amo a poesia e o pacifismo contumaz.


GILBERTO

Fale sobre Santa Cruz

ressaltando seus valores

Suas últimas palavras

dirija a nosso leitores

e fale com emoção

de sua associação

de poetas e escritores.


MARCOS CAVALCANTI

Santa Cruz é o meu berço

É o meu torrão mais querido

Não há palavra que descreva

O que por ela tenho sentido

Ressaltar seu valor, a sua cultura

Por meio da arte e da literatura

É molhar no já bem chovido

A ASPE, sou eu, é você, quem quiser

Venha e serás mais um comovido.