domingo, 26 de novembro de 2017

BOM DIA, PRINCESA! - Gilberto Cardoso dos Santos


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

RESENHA EM VERSOS DO FILME O MATADOR (Netflix)

RESENHA EM VERSOS DO FILME O MATADOR















A Netflix fez algo
Que me deixou encantado;
Produziu um belo filme
No Nordeste ambientado;
O cenário do sertão
Traz a mítica visão
De um tenebroso passado.

Nesta primeira incursão
No cinema brasileiro
A Netflix acertou
Com um brilhante roteiro,
Direção e produção
Em que Marcelo Galvão
Apresenta um cangaceiro.

O seu nome é Cabeleira,
um pistoleiro cruel;
Trabalha para um francês
Rico e dono de um bordel;
Por conta própria instruído,
Retirou seu apelido
De um folheto de cordel.

Aliás, muito encantou-me
Ver o cordel tão citado
Ao longo de toda a trama
E até mesmo declamado;
Também se faz alusão
Ao famoso Lampião,
Em cordéis biografado.

Turmalina Paraíba
é um minério que enfeitiça
Ao francês, a Cabeleira,
Gerando grande injustiça;
Sexo, fome de poder
E a loucura do ter
Fortalecem a cobiça.

Sete Orelhas, matador,
Seu rude pai adotivo,
Foi à cidade e sumiu
Gerando um quadro aflitivo
Na vida do inocente,
Nascido em seco ambiente
Em nada receptivo.

Como um produto do meio
Em tudo desfavorável
Cabeleira se transforma
Num atirador notável;
Pelo sexo enfeitiçado
Passa a ser manipulado
Por um líder abominável.

O filme captou bem
O sotaque do sertão;
Em termos regionais
Faz-se toda a narração;
A nossa literatura
Linguagem, dor e cultura
Ganham grande projeção.

Trata-se de um faroeste
Com elenco internacional
Ricamente produzido,
Além do Bem e do Mal,
Repleto de sutilezas;
O filme guarda surpresas
Pra quem aguarda o final.

Acho que com este filme
Deu-se mais um grande passo;
Na tevê e no cinema
O cordel amplia o espaço;
190 países
Verão os belos matizes

Da história do cangaço.

(Gilberto Cardoso dos Santos, cordelista).

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Marcelo Galvão (produtor) e Diogo Morgado (ator principal)

Veja o trailer

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

BAGUNÇA TROVADORESCA - Vários autores


Se este grupo me aprova
E se oportuno, decerto,
Convido a meter a trova
Nesse colar de Gilberto.
(Zé Ferreira - Natal/RN)

Amigo, na minha trova,
A que você tem em vista
Só um dedo se aprova,
O dA proctologista.
(Gilberto Cardoso - SC/RN)

Quem quiser se aproxime
A trova não tem segredo
No ABAB você rime
E no colar meta o dedo
(Zé Ferreira Natal/RN)

Sou cara que se destaca,
no espaço trovadoresco
doido pra meter a faca
em qualquer sujeito fresco.
(Gilberto Cardoso - SC/RN)

Não façam xilogravura
Para o colar de Gilberto
A arte dessa gravura
É moderna,  não dá certo.
(Zé Ferreira - Natal/RN)

Na trova de Zé Ferreira,
Alguém deixou-me avisado
Cabe uma septilha inteira
Nos versos de pé quebrado.
(G. Cardoso- S.C. /RN)

Quem vê um tocador desse
Querendo metrificar
Sabe que seu interesse
É metro no seu colar
(Zé Ferreira - Natal/RN)

Meu colar de diamantes
em teu pescoço não vai,
pois usas falsos brilhantes
comprados no Paraguai.
(G. Cardoso- S.C. /RN)

Gilberto é cobra ligeira
Nessa arte de trovar
Mas só vejo Zéferreira
Botando no seu colar
(Hélio Crisanto SC/RN)

Hélio, é minhó calá.
De trova tu não entende.
Se o "Negão do Paraná"
te pegar, tua trova fende.
(G. Cardoso- S.C. /RN)

Crisanto, digo a você,
Pode até não soar bem
Mas nesse colar de Gê
Tu pode meter também
(Zé Ferreira - Natal/RN)

Zé Ferreira é da sextilha
Na trova impotente é
Minha trova é uma ilha
E eu sou Robinson Crusoé
(G.Cardoso - SC/RN)

Ilha, carente, sem fé
Pensando muita besteira
Qual foi a de Crusoé
Com o índio Sexta-feira?
(Zé Ferreira Natal RN)

Ouço as rudes cantilenas
De dois poetas pedantes;
São asquerosas hienas
A fugir de um elefante.
(G.  Cardoso- SC/RN)

Gilberto nessa postura
Agarrado no pau torto,
Segue fazendo a leitura
De que está em desconforto.
(Francisco das Chagas - ) 

Estes três têm verve fraca;
Da trova não têm domínio;
Não podem ver uma estaca;
Freud explica esse fascínio!
(G. Cardoso - SC/RN)

Eu sei que pra um poeta
É humilhante trovar
Mas vamos ver quem completa
De Gê Cardoso o colar?
(Zé Ferreira - Natal/RN)

Glosar é como gozar;
Décima é uma larga cova.
Por isso adoro adentrar
na estreiteza da trova.
(Gilberto Cardoso SC/RN)

Nesse estreito de Cardoso
Lembrei da foto da estaca
O vi um tanto reimoso
Sua carne ainda mais  fraca.
(Zé Ferreira Natal RN )

Vate, vá tomar no sul
Um chimarrão numa cuia.
Explore o novembro azul,
no dedo grite aleluia.
(Gilberto Cardoso, Santa Cruz RN)

Jamais irei lhe dizer
Pra ir àquele lugar
Se assim não quer proceder
É bom fechar seu colar.
(Zé Ferreira Natal RN )

De pau e estaca falamos
com bom humor e esmero.
Aqui limites fincamos,
Chegamos à estaca zero.
(Gilberto Cardoso, S. Cruz/RN)

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Marco Haurélio: entrevista sobre cordel, em versos

Entrevistador: Gilberto Cardoso dos Santos
Entrevistado: Marco Haurélio Fernandes

 Xilogravura de Jefferson Campos, especialmente feita para ilustrar a entrevista.

Mais opçõ 
Foi em “Tecendo Linguagens”,
Um livro de português,
Que algo de Marco Haurélio
Vi pela primeira vez:
A capa de um cordel
feito pelo menestrel,
Mas nada do que ele fez.

Antes, alguém me falou
De sua vinda a Natal;
Disseram que ele deu
Aula substancial;
E eu resolvi pesquisar
E por fim entrevistar
Ao grande intelectual.

Com prazer ora apresento
Marco Haurélio, escritor,
Cordelista premiado,
Profundo pesquisador
Do lirismo nordestino
Que se fez, desde menino,
Do cordel um defensor.

Marco Haurélio, de início,
Fale-nos de seu passado;
Das influencias que teve;
Do lugar em que foi criado;
Dos cordéis que escutou
E como isso o levou
A ser tão requisitado.

MARCO HAURÉLIO:

Nasci no sertão baiano.
O local? Ponta da Serra,
Comunidade rural
Onde o céu encontra a terra
E onde eu escutava histórias,
Baús de muitas memórias
De tempos de paz e guerra.

Quando pequeno, eu ouvia
Juvenal e o Dragão,
O Herói João de Calais,
Rosinha e Sebastião,
A Coragem de um vaqueiro,
O Santo do Juazeiro,
História do Boi Leitão.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Fale-nos de suas obras.
Dos livros que publicou,
Qual que mais lhe dá prazer?
Quantos prêmios já ganhou?
Seu legado é muito rico
Pois pra fazer Velho Chico
A Rede Globo o buscou!

 MARCO HAURÉLIO:

Publiquei quarenta livros,
Entre contos e cordéis,
Mais dezenas de folhetos
Aos velhos mestres fiéis.
Alguns prêmios recebi,
Porém reafirmo aqui:
Meus livros são meus lauréis.

À novela Velho Chico,
Eu servi de consultor,
Criei algumas histórias,
Também fui compositor,
Ao estilo do cordel,
Pra Xangai e Maciel,
Uma dupla de valor.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Dos muitos cordéis que leu
Se tivesse que eleger
Dois ou três entre os demais
Quais iria escolher
Como os mais valiosos?
Que cordelistas famosos
Você recomenda ler?

MARCO HAURÉLIO:

Já li bastante romance,
Porém os de maior brilho
Foram Alonso e Marina,
Do qual não me desvencilho,
Também A Sorte do Amor
Do notável trovador
Manoel d’Almeida Filho.

Cada um lê o que quer
Neste distinto celeiro.
Em minha estante, porém,
Moram Delarme Monteiro,
O grande Leandro Gomes,
Minelvino e outros nomes
Do bom cordel brasileiro.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

O cordel subsistiu
À nossa modernidade
Mas parece hoje passar
Por crise de identidade,
No entanto se fortifica!
Ratifica ou retifica?
Corrija-me, por bondade.

 MARCO HAURÉLIO:

O cordel nunca mudou,
Mesmo com novo suporte,
Pois soube se adaptar,
Mostrando ser muito forte.
E se assim não ocorresse,
Perdia o povo o interesse
E decretava-lhe a morte.
Mais opções

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Há mitos sobre o cordel
Quanto a tamanho e estrutura;
Há quem ache que na capa
Tem que ter xilogravura;
Até tipo de papel
Escolhem para o cordel;
Linguagem, cor e largura.

MARCO HAURÉLIO:

Cordel é sempre cordel,
Isso afirmo com orgulho.
É Capitão do Navio,
Rufino, o Rei do Barulho,
Princesa da Pedra Fina,
A Imperatriz Porcina,
E isso independe do embrulho.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Número mínimo de estrofes
Deve-se estabelecer
Na criação de um cordel?
Quantas deveriam ser?
Os textos de Bráulio Bessa
Que fazem sucesso à beça
Que nome deviam ter?

Como costuma enfrentar
As ideias radicais
Dos que amam o cordel
Porém têm zelo demais?
Tente ao gênero definir;
Busque em versos resumir
Aspectos essenciais.

MARCO HAURÉLIO:

Creio que, para ser bom,
Precisa duma estrutura,
Contar uma boa história,
Com uma régua segura.
Declamado ou no papel,
Ouso dizer que é cordel
Quando for literatura. 

Bráulio Bessa é um performer,
Um sujeito carismático
De uma escola diferente,
Tem apelo midiático,
Conversa com o cordel,
Mas enxergo o seu papel
Num outro leque temático.

Cordel é literatura
Da letra e também da voz,
Tem origem nas sementes
Que o tempo espargiu em nós,
O canto de muitas eras,
O pólen das primaveras,
A bíblia dos meus avós.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

O cordel em sua origem
Devia ser diferente;
Como era na Europa,
- Portugal, principalmente?
Na Espanha ele existiu?
Como foi que evoluiu
Ao que é atualmente?

MARCO HAURÉLIO:

Cada país teve um gênero
Similar ao romanceiro
Depois chamado cordel
No Nordeste brasileiro.
Canções, baladas e lais,
Dessas vozes ancestrais
Nós seguimos o roteiro.

Contudo, em nosso Nordeste,
Houve um diferencial:
O cavaleiro galante
Da gesta medieval
Permutou-se no vaqueiro
Atrás do boi mandingueiro,
Perdido no carrascal.

Há histórias de princesas,
Resquícios do medievo,
Mas também há cangaceiros,
Personagens de relevo;
Sem contar os sabichões:
João Grilo, Cancão, Camões,
Num ciclo alegre e longevo.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Diferencie e aproxime
O cordel da cantoria;
Fale-nos da métrica oral,
Tão condenada hoje em dia
E em versos criativos
Cite alguns autores vivos
Que nos recomendaria.

O cordel e a cantoria
Têm valores pontuais:
Dois gêmeos bivitelinos,
Dois legados ancestrais,
Se aproximam, se repelem,
E, por mais que tagarelem,
São filhos dos mesmos pais.

MARCO HAURÉLIO:

O cordel, em outros tempos,
Se assemelhava em prosódia
À cantoria, porém,
Hoje, com outra custódia,
Se vale mais da elisão,
Sem perder a condição
De moderna rapsódia.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Rima, métrica e oração
Ao cordel servem de guia
Mas o que é oração?
Algum leigo indagaria.
E sem fugir do assunto
Ao pesquisador pergunto:
Marco, o que é  poesia?

MARCO HAURÉLIO:

Em minha concepção,
Oração é o sentido,
A razão da poesia,
O fio por ela tecido.
Poesia é harmonia,
Que foi inventada um dia
Por um deus desconhecido.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Cite uma ou mais estrofes
Ditas por um cantador,
Algum trecho de cordel
De inegável valor
Guardado em seu coração,
Digno da atenção
De nosso amado leitor.

MARCO HAURÉLIO:

“O amor quando se alberga
No peito do rico ou pobre,
Se torna logo um guerreiro
Com capacete de cobre,
E só obedece a honra
Porque a honra é mais nobre.

Se o amor é soberano,
A honra é sua coroa.
Portanto, um amor sem honra
É como um barco sem proa,
É como um rei destronado
No mundo vagando à toa.”

[José Camelo de Melo Resende, Entre o Amor e a Espada]

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Finalizo esta conversa
Conselhos solicitando
Para os que fazem cordel.
Os que estão iniciando
Em quem devem se espelhar
E o que devem evitar
No rumo que estão tomando?

MARCO HAURÉLIO:

Se conselhos posso dar:
Leia! Leia! Leia! Leia!
Leia os novos, leia os clássicos,
Ouça o canto da sereia.
Fuja dos espertalhões,
Caga-regras, mandriões,
Gigolôs da verve alheia.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Após tão boas respostas,
Precisas e prazenteiras,
Dirija aos nossos leitores
As palavras derradeiras;
Diga o que o coração manda,
Faça alguma propaganda
E vamos romper fronteiras.

MARCO HAURÉLIO:

O cordel verdadeiro é garimpado
Nas cavernas do tempo e da memória.
Quem buscar entender a sua história
Beberá nas cacimbas do passado,
Mas também estará conectado
Ao futuro, com estro soberano,
Decifrando de vez o grande arcano
Que sustenta a coluna resistente:
É passado, é porvir e é presente
Nos dez pés de martelo alagoano.

GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS:

Agradeço demais ao entrevistado
Por nos dar de seu tempo e inspiração
Respondendo à sincera indagação
De quem vê no cordel grande legado.
Exagero nenhum foi endossado.
Ser fiel às origens, eis o plano.
Sem jamais renegar o avanço humano,
Pois cordel é uma árvore frondosa
Nas raízes e frutos vigorosa,
Nos dez pés de martelo alagoano.

Agradeço a Jefferson, grande artista
e amante da arte popular,
que assumiu a tarefa de ilustrar
a tão bela e tão útil entrevista;
Ele que é do cordel apologista
E que tem poesia no tutano
não se deixa levar pelo engano
da cultura vazia e destrutiva;
ele quer que o cordel pra sempre viva
Nos dez pés de martelo alagoano.



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