domingo, 27 de maio de 2012

SEPARANDO QUEM ESCREVE DO QUE ESTÁ ESCRITO- Gilberto Cardoso dos Santos



Quando lemos, é sempre bom fazermos um esforço para separar aquele que escreve daquilo que está escrito. O autor, necessariamente, não tem a ver com o eu-poético de seu poema ou com o eu lírico de sua crônica.
Lembremos do que disse Fernando Pessoa, 

"poeta é um fingidor
Finge tão completamente. 
Que chega a fingir que é dor. 
A dor que deveras sente."

A dor ou alegria que o poeta expressa necessariamente não é a sua. Saint-Exupery, o autor, é diferente da criança que fala em o Pequeno Príncipe.
O escritor tem o dom de empatizar  com os seres ao seu redor expressando o que de fato sentem ou emprestando-lhes qualidades inexistentes.

Exemplos?

Quem convive com Marcos Cavalcanti sabe que ele é, comumente, uma pessoa bem-humorada, feliz, que nem de longe pensa em suicídio. Para alguns que não  o conhecem  e leem o seu VIAGENS AO ALÉM-TÚMULO é um ser depressivo, negativista, triste. Isso ocorre devido a confusão entre autor e eu-poético. Numa poesia ele pode dizer "Vem, ó morte", enquanto na vida real vive fugindo dela.

Quem faz ou declama um poema de amor  não significa que esteja apaixonado.  José Paulo Paes escreveu poesias em que nitidamente se escuta uma voz feminina. Isso não significa que ele seja mulher ou gay. Quando Drummond, o itabirano, escreveu "Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói", poderia estar falando de uma dor que deveras sentia (apenas para relembrar Fernando Pessoa) ou não. Poderia até nem ter  fotografia da terra natal em sua parede.

Será que no dia anterior à escrita do poema O BICHO Manuel Bandeira realmente esteve perante um pátio imundo? Pode ser que sim, pode ser que não. Mesmo que tenha vivenciado isso, continua a necessidade de diferenciar quem escreve do que está escrito.

Sabe aquelas máscaras que têm a forma exata do rosto que representam? Mesmo sendo tão parecidas (algumas simulam muito bem o tecido humano) continuam sendo apenas máscaras.

Vez por outra aparecem comentários no blog que refletem um pouco essa confusão, salvo  casos em que a pessoa evidentemente está brincando. Daí a razão de ser deste alerta. Desnecessário, talvez.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

A DERRUBADA DA QUADRA - Gilberto Cardoso dos Santos













Num gol do progresso insano
A quadra foi derrubada
E quem perdeu na jogada
Foi o sentimento humano
No ar ficou o vazio
E o enorme desafio
De erguer algo diferente
Este cultural fracasso
Se assemelha a um golaço
Que humilha o time da gente.

Silenciou a pancada
De Rizomar carimbando
Sem saber principiando
A atual derrubada
Em quem ali já jogou
Algo por dentro quebrou
Quando bateu o guindaste
Se jogadores choraram
Vizinhos comemoraram
Vejam que grande  contraste!











Crédito das fotos: Débora Fernanda