sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CONTEMPLANDO UM FAISÃO - Gilberto Cardoso dos Santos



É penoso depenar
um bicho assim pra comer
é até pecado matar
algo feito pra se ver
quem tal design criou?
que hábil mão o pintou?
gostaria de saber.

Este petisco da vista
é visual pregação
que faz qualquer ateísta
tremer na explicação
sua estética perfeita
desconserta quem rejeita
a ideia de criação.

Uma vontade ansiosa
sentimos de encontrar
esta mão habilidosa
capaz de o originar
uma arte sem artista
em nossa visão simplista
é impossível se achar.

Detalhes maravilhosos
Neste faisão multicor
mas dentes impiedosos
de um faminto predador
veem carne suculenta
para a mãe que amamenta
outro bicho encantador.

Tudo parece ser feito
para deleite do olhar
mas o design perfeito
não foi feito pra durar
finda-se toda magia
dentro da grade sombria
da cadeia alimentar.

domingo, 18 de agosto de 2013

É ÍMPAR OU PAR? JOGO PARA SEDUZIR GAROTAS




Vivemos uma realidade ímpar na história musical brasileira.  Na idade média de nossa história cultural, tivemos canções geniais proibidas pela censura. Vem-me à mente “Cálice”, de Chico Buarque, denunciadora desse período, e a representativa “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Aquele era um tempo em que a música cumpria uma função social relevante. Seus fins não eram puramente estéticos. A poesia, exuberante nas canções desse tempo, dava asas ao clamor de um povo e não era subserviente a um sentimentalismo medíocre. Não atendia a interesses mesquinhos. Depois veio-nos uma fase iluminista, vindicativa, em que os artistas injustamente perseguidos foram elevados à categoria de heróis. Foi uma época marcada pela liberdade de expressão. Mas a música foi perdendo expressividade e desembocou, infelizmente, em temível libertinagem.  
Ontem,  um carro com um paredão de som. Na carroceria, meninas. Pareciam ter entre 10 e 12 anos. A música perturbava pelo volume alto. Eis o que ouvíamos:

 “É ímpar, é par. (bis)
Se der ímpar você chupa
Se der par você me dá

Novinha, não sei seu nome
Mas agora vou falar
Inventar uma brincadeira
Que eu sei tu vai gostar

“É ímpar, é par. (bis)
Se der ímpar você chupa
Se der par você me dá.

[...]

 

Fiquei  espantado.  Antes de cantá-la, o vocalista disse:

“A gente vai brincar de par ou ímpar, tá bom?”

O eu da música, a léguas de ser poético ou lírico, tem como alvo alguém que ele chama de novinha. Pelo adjetivo escolhido, dá pra ver que a idade é muito importante. Ser nova não é suficiente: tem que ser novinha. Quanto mais nova, mais pueril, fácil de seduzir e desejável. É uma novinha de quem ele sequer sabe o nome, mas que importância tem o nome quando a criança é vista como mero instrumento de prazer?  E tudo deve ter a aparência de brincadeira para que a novinha não perceba a cilada em que está caindo. A esta novinha hipotética ele se dirige numa linguagem dócil, adequada à idade: “A gente vai brincar de par ou impar, tá bom?” E há toda uma coreografia a ser feita durante a música, incrementando mais ainda os aspectos lúdicos. O que é dito poderia vir na forma de mensagem subliminar e já seria altamente condenável. Mas não. Tudo é dito às claras e se é visto como inocente brincadeira é apenas pelas potenciais vítimas.

A genérica novinha aqui mencionada e seduzida tem sido evocada em várias outras músicas. Uma que fez muito sucesso dizia:

“Gostou, Novinha?
Ai, gostei!”

Geralmente é a "ela" que se dirigem em diversas músicas do gênero.

Enquanto ouvia o “É ímpar ou par”, raciocinava: Se um de nós dissesse estas mesmas palavras a qualquer garota entre 10 e 12 anos, poderia ser indiciado por pedofilia ou atentado violento ao pudor. Cadeia na certa. O eu poético dessa música, mesmo analisado superficialmente, não daria outra: é um pedófilo. No entanto, a Banda Grafith pode cantar isso livremente, inclusive quando honrosamente contratada por gestores públicos, com recursos destinados à cultura.

A música, chocante e preocupante para quem tem um mínimo de respeito à moral, é apenas uma amostra do repertório que o Grafithão tem para oferecer à juventude. A Banda Grafith não é a única que despeja em nossos ouvidos esses e outros lixos musicais. Esta música faz parte do repertório de muitas bandas de sucesso. Há quem pague caro, e à custa do povo, para trazer tais bandas. Talvez alguém diga que minha mente está demasiado fértil, que se trata apenas de uma música e que nada disso vem a ocorrer. De qualquer modo, há prejuízos:  termos chulos e expressões maliciosas são involuntariamente incorporadas ao vocabulário de mentes em formação; há um estímulo à sexualidade precoce e perda da pureza que deveria caracterizar determinadas fases da vida.

Fico pensando em crianças como aquelas que seguiam na carroceria, culturalmente emparedadas, que crescem diuturnamente ouvindo essas aberrações musicais e aprendendo a valorizá-las. Elas desconhecem o que há de bom em nossa música. Em casa, na TV, no rádio e no celular é o que ouvem. A música de verdade lhes parece bizarra e destituída de beleza. Luiz Gonzaga, Chico César e Zé Ramalho, quando ouvidos, lhes parecem patéticos e desprezíveis. Isso talvez explique, ao menos em parte, o alto índice de gravidez na adolescência, a libertinagem sexual que caracteriza os nossos dias, a perda de valores. Já imaginaram o potencial de depravação contido em letra como essas? Trata-se de incentivo à pedofilia feito da maneira mais escrachada, envolto em melodias que têm efeito hipnótico sobre nossos jovens. Pergunto-me o que poderíamos fazer para mudar esse estado de coisas. Para começar, os gestores públicos deveriam dar o exemplo, sendo criteriosos quanto a quem contratam. As escolas poderiam fazer frente unida para combater esse tipo de cultura. Promotores deveriam tomar as providências. A censura, talvez, devesse voltar. Não para fazer como antigamente, mas para impedir que tais bandas pudessem gravar estas coisas e circular livremente. Os filtros deveriam visar conteúdos maliciosos e que incentivam o consumo de drogas e a violência.
Se não fizermos algo a respeito, o que já está péssimo há de ficar bem pior.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SOBRE O ROMANCE MEIA PATA, DE RICARDO DANTAS - Gilberto Cardoso dos Santos


Fui ao fórum de Santa Cruz. Levava comigo 4 exemplares do livro "Meia Pata". Trata-se do primeiro romance escrito por um santa cruzense, o biólogo Ricardo Dantas. 

Fui mostrá-lo ao também escritor e ávido leitor Naílson Costa.
Enquanto aguardava o instante oportuno, observei que um policial estava como que me encarando e olhando demoradamente para os exemplares. Queria fazer uma pergunta e fez:
- É gramática?

Aparentemente, tinha visto o título ao longe, rapidamente, e tinha se confundido. Deve ter me confundido com um desses vendedores de material para concurso.
Expliquei-lhe: "É um romance. Chama-se Meia Pata."
E ele disse meio desanimado:

- Ah, tá. Desculpa aí. Pensei que fossem gramáticas.
Imediatamente lembrei-me que vivemos num país repleto de pessoas que têm sérios problemas com o uso do próprio idioma. A escola tem priorizado o estudo da gramática e o resultado é conhecido de todos. 

Aquele policial, como tantos outros, não sabia que através da leitura de um bom romance fica mais fácil se familiarizar com a língua escrita. Ir no encalço da onça que nos espreita no capítulo inicial de Meia Pata é bem mais divertido e proveitoso que contemplar a classificação de onça-macho e onça-fêmea na jaula dos epicenos.

Voltando a Naílson, visível foi seu encanto diante do livro. Muito bem acabado, volumoso e de aspecto atraente. Não se trata de algo feito numa gráfica qualquer. Foi um livro que teve a aceitação da Editora Kazuá. Editoras sérias, como esta, não costumam apostar em obras irrelevantes, sem potencial. 
Naílson, como eu, percebeu a importância dessa obra para a história de nossa literatura.

Comecei a lê-lo e percebo que a trama é envolvente. O escritor é "dos Dantas", família que se notabilizou em nossa região pelo grau de inteligência dos que a compõem. Teixeirinha Alves se lembra de ter estudado com o autor e disse-me que nesse tempo o Ricardo já se destacava. A julgar pelo que lí, trata-se de uma obra bem escrita, digna de receber destaque na literatura potiguar.

O autor me remeteu dez exemplares e pediu-me o obséquio de vendê-los entre seus conterrâneos. Quem quiser adquiri-lo, procure-me no gcarsantos@gmail.com ou pelo (84) 99017248

domingo, 4 de agosto de 2013

DISCURSO DE GARY : "A melhor palestra que você irá ouvir na sua vida"


Alguns criticam Gary por seu discurso forte, ao passo que outros o elogiam pela paixão com que fala. De fato, quando estamos apaixonados por algo, tendemos a exagerar no que dizemos. No entanto, os objetivos de Gary são tão nobres, tão úteis à causa planetária, que deveríamos relevar quaisquer exageros.
A força com que ele fala não é mais carregada de emoção que o berro da mãe vaca, separada de sua cria para atender às necessidades humanas.
A sábia natureza fez de seus discursos um instrumento de expressão das dores daqueles que não podem falar. 
Ele tem se doado a essa causa, inclusive sido preso. Não há como questionar a pureza de seus gestos, embora muitos o considerem fanático.
Além de suas palavras, sua aparência física também testemunha a favor da causa vegana. Vale a pena ouvi-lo, nem que seja com a intenção de encontrar falhas em seu discurso a fim de poder criticá-lo com propriedade.