segunda-feira, 30 de julho de 2012

BATE-PAPO FILOSÓFICO NO IESC - Gilberto Cardoso dos Santos


Gilvan Oliveira, Marcos, Gilberto, Dênisson e  professor Alexandre

Na última sexta-feira (27.07.2012), tivemos um agradável debate filosófico organizado por Gilvan Oliveira, professor de Filosofia. A troca de ideias ocorreu em uma das salas do IESC, e teve como público alvo alunos do ensino médio.
Eu, Marcos Cavalcanti, Dênison (seminarista) e o professor de física e  matemática daquela instituição tivemos o privilégio de contar com a atenção e boa-vontade dos alunos presentes, que se mostraram inteligentes, participativos e bem informados. O debate começou às 10:40 e ultrapassou as 12 h.
Naquele ambiente tão favorável ao diálogo, senti-me como se estivesse no Aerópago, naquele tempo em que a escola significava uma reunião de pessoas que se ajuntavam para filosofar.

Marcos buscou uma melhor interação com os estudantes. Para verificar se havia real entendimento do que dizia, permitia que os alunos  finalizassem suas frases. Exemplos de sua fala:

Os primeiros cinco livros da Bíblia formam o Penta...

teuco!, completavam os alunos.

Nossa vida deve ser regida pela Ética e pela Cidadã...

nia!, finalizavam em coro.

Fez uma breve explanação sobre a história da religião e aconselhou a todos que lessem a Bíblia, principalmente o Velho Testamento, a fim de conhecerem melhor o deus judaico-cristão.

Apesar dos reclames estomacais (já eram doze e meia), quando tocou para que encerrássemos a conversa não foram poucos os alunos que lamentaram e ficaram dando claros sinais de que estavam gostando. 

Apesar da oposição de ideias, não houve mortos nem feridos; saímos dali tão tranquilos quanto antes.
 Os alunos, simpaticíssimos, faziam questão de aplaudir aos debatedores e ao que estava sendo exposto; enviaram por escrito diversas perguntas e observações que, infelizmente, devido a exiguidade do tempo, não foram respondidas. Decerto o professor Gilvan não há de deixá-los sem respostas.
 Os dois docentes do IESC, organizadores do debate, mostraram-se muito queridos pelos alunos. Parecem estar fazendo um excelente trabalho.
                               O professor Alexandre defendeu suas ideias tomando por base a Física e a Matemática. Ex-seminarista, disse-nos que abandonou a vocação quando percebeu que a igreja não fornecia respostas para suas perguntas. Para ele, não existem coincidências na matemática. Ilustrou seu modo de pensar com o desastre do Titanic e citando uma das histórias que o levam a ter fé, intitulada Deus no Porta-Malas.
 Dênisson, de quem já tive o privilégio de ser professor, mostrou-se culto e preparado para defender seu ponto-de-vista. Fez questão de esclarecer que não viera ali para converter ninguém e encarou a polêmica com bom-humor.

 Marcos estava felicíssimo, por se achar num ambiente onde já foi educador e que se mostrou tão favorável ao confronto de ideias.


Nossas escolas e instituições em geral lucrariam muito, acho, caso encontros dessa natureza fossem promovidos dentro do espírito que motivava os pensadores gregos.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FRANCIMÁRIO: UM HOMEM DE BOM CORAÇÃO



Estávamos na escola, em uma reunião, quando tocou o celular da diretora. Pelo silêncio que se seguiu e pesar em seu semblante, sentimos que se tratava de uma notícia triste. 

– Gente, disse-nos ela, lamento ter que lhes dar uma notícia muito muito triste: acaba de morrer Francimário!

Logo me perguntei “quem será Francimário?”, vendo a tristeza que se apossou de todos. Um colega esclareceu que era o irmão do professor Jocemário; alguém que já fora motorista do carro da DIRED e que também era caminhoneiro. Fiquei na mesma, sem saber de quem se tratava. A diretora passou a descrever as circunstâncias de sua morte: tinha se sentido mal enquanto dirigia e, tentando ir até o hospital; acabara batendo em um poste, e morrera imediatamente, vítima de ataque cardíaco.

Explicaram-me que se tratava de um mal de família. Uma familiar dele teria morrido enquanto dançava no clube. “Muito novo ainda”, lamentou alguém. “Era gente muito boa. Nota dez.”

Ao chegar em casa, abri o Facebook e lá estava a seguinte mensagem, publicada por Nailson Costa:

“Amigos, é com profundo pesar que lhes comunico o falecimento de um grande amigo meu de infância, o Sr. Francisco Francimário Praxedes, que veio a óbito agora há pouco, vitimado por um infarto fulminante. Francimário era servidor público estadual e, nas horas vagas, caminhoneiro. Gente muito boa! Amigo de fé e irmão camarada. Seu corpo ainda não se encontra em sua residência, situada na Rua Elóy de Souza, Centro. O sepultamento dar-se-á amanhã, às 16 horas no cemitério de Santa Cruz. Estou aqui com o meu coração cheio de dor, com um engasgo muito grande e uma vontade doida de chorar pra fora. Por esse motivo, excluí um texto cômico que publiquei agora há pouco. Amigo Francimário, obrigado por sua tão boa companhia na nossa infância querida e inesquecível. Deus abra as portas dos grandes salões celestiais e o receba de braços abertos. Adeus.”

Percebi, nas palavras de Nailson, tratar-se de alguém do bem, que deixaria enorme saudade.

Mais tarde, tais impressões foram corroboradas ao ler outra nota, publicada por Paulo Neto:

“Grande amigo Francimário... A gente nunca entende o porquê tem que chegar esse triste momento, porém, é nossa única certeza na vida. Tivemos o prazer de conhecer e compartilhar boas alegrias com seu jeito autêntico e extrovertido, só nos deixou bons exemplos de dignidade humana, pessoa de infinitas qualidades, homem trabalhador e disposto, honesto, humilde, bom pai e bom amigo. Vai em paz meu irmão, mais cedo ou mais tarde a gente se encontra na casa do Pai. Meus sentimentos à família.”

Abaixo, Paulo postou esta foto:



Senti um sobressalto ao vê-la, pois descobri tratar-se de alguém a quem eu já vira muitas vezes e até chegara a trocar algumas palavras. Infelizmente, digo-o agora, nunca me aproximei dele o quanto deveria. Certamente sua boa índole e exemplo teriam tido  boas influências em minha vida.

No outro dia, enquanto dava aula, a supervisora perguntou-me se eu não quereria ir ao enterro de Francimário. Não titubeei na resposta: "Sim!". 

Ao chegar na igreja, Luzenir Galvão, visivelmente emocionada, elogiava o falecido como se com ele falasse, dando destaque à sua paciência, educação, atenção e disposição para servir.
Chegara ao fim da cerimônia fúnebre. A igreja estava lotadíssima.

Ao som de “Segura na mão de Deus”, belamente tocada e cantada, e, posteriormente, de “Como é grande o meu amor por você”, uma enorme fila passou a circular em torno do caixão para o último adeus.
Ví alguns conhecidos  chorando. Ao perguntar se tinham algum grau de parentesco, respondiam-me: “Não. Éramos apenas grandes amigos.”

Zulmira, ex-funcionária da DIRED com emoção e à meia voz, falou-me de sua paciência, gentileza e de quão bom motorista era.

Dizem-nos que quem quiser ser bom morra ou se mude, mas percebi claramente que não era este o caso de Francimário. As pessoas de fato gostavam dele. As muitas lágrimas me disseram isto.
.
Fui ao cemitério onde seria enterrado, mas ao chegar lá vi que o féretro ainda estava distante. Parei para trocar umas ideias com o coveiro local e sua esposa. Estes, por força do ofício, são “duros” em relação a quem morre. De tanto encarar a morte, familiarizaram-se com ela. Enquanto fumava, a mulher foi me explicando que chegavam a enterrar 3 por dia, às vezes. Ela limpava os túmulos, tirava o mato das covas e aguava as flores daqueles que a contratavam para tal. Muitas vezes, disse-me ela, fazia isto à noite.

De repente, porém, passou a falar sobre o morto que aguardávamos. Ao pronunciar seu nome sua voz se quebrou e os olhos ficaram úmidos. Ví que seu esposo não iria cumprir apenas mais uma etapa de seu terrível ofício; naquela tarde, também enterraria um ente querido. 
Traçou-me ela, dentro daquilo que sua limitação vocabular permitia, uma imagem bem positiva do falecido, parecida com a que Nailson, Paulo Neto e tantos outros me haviam passado.

Sim. A família do coveiro também o conhecia e gostava muito dele.

Mais uma vez, lamentei  não ter parado para conhecê-lo melhor quando ainda em vida. A memória, então, me comunicou que em alguma das viagens  que fiz no carro da Dired, o tive como motorista. Nesta viagem, porém, não parei para ver nele algo mais que o fato de ser meu motorista naquele momento. Lamentável, digo-o agora.
A esposa do coveiro tentou resumir tudo em poucas palavras quando a informei que ele tinha apenas 47 anos
“Quem é bom Deus leva logo e quem é ruim fica na Terra.”

Ao companhar aquele enterro, concluí:

Francimário era um homem de bom coração que (infelizmente) não tinha o coração bom.

sábado, 21 de julho de 2012

MISSIVA À ESPOSA - Gilberto Cardoso dos Santos


Por trás deste médio homem, senhora Santos, uma grande mulher jaz na obscuridade por causa das orelhas à frente.

Emocionei-me ao ler o que escreveu  no texto MEU OURO, MEU TESOURO.

Se sorrio sempre, minha querida, e a faço gargalhar, é porque meu bom-humor encontra eco nos corredores de sua alma.

Há que haver contraste entre a maciez do pneu e a dureza da pista para que a viagem aconteça. Você, com pneus ou sem pneus, me amortece e vivifica.

A verdade é que conviver consigo e com sua família é muito prazeroso. Suas irmãs e irmão são ovelhas. Sua benedita mãe está mais para flor que para ofídio.

Você é sábia, prudente, bela, uma companhia agradabilíssima. Seu bom gosto e inteligência tiveram plena revelação quando me escolheu.

Após o aprazível banquete oferecido pelos amigos, veio você e me surpreendeu com tão deliciosa sobremesa.

Não sou seu tesouro, e sim o rico baú em que se encontra. Se sou seu ouro, é porque tenho uma ourives generosa, que me lapida com carinho e faz vistas grossas para as escórias.

A promessa de um seguro de vida foi razão mais que suficiente pra que escrevesse tais encômios. Em  memórias póstumas continuarei a ruminar esta mensagem e enaltecerei tudo que fez.


sábado, 14 de julho de 2012

PUXÃO DE ORELHAS DA SENHORA SANTOS - Gilberto Cardoso dos Santos



A senhora Santos deu-me um puxão de orelhas. Eu estava na sala, nem precisou deslocar-se da cozinha (eis a vantagem de casar-se com um homem todo-ouvidos). Ecoou as palavras de Marcos:

 "Seu blog não é cultural?! Não é sério?! Não tem necessidade de anonimato..."

Em seguida puxou-me para si, alisou-me o cabelo; fez-se convincente.
O computador fica perto da cozinha, território onde ela reina. 
Devo obedecer. Não deixarei que  anônimos, ainda que do bem, atrapalhem nossa relação.
Apesar de todo cuidado que temos tido até agora na filtragem dos comentários, diminuirei a possibilidade de anonimatos. 
Alguns que bem conhecemos,  postam como anônimos e assinam seus posts (Aldenir Dantas, por exemplo). Assim procedem por ser mais fácil, prático. Espero que entendam a nova medida, pois não há porque cortar um pé, mesmo que feio e trôpego, quando há outros tratamentos possíveis.
Joana, Ana, Maria Auxiliadora, Pedro, Ailton, Jailson, Alberto, Sião e tantos outros com quem tanto ansiamos entrar em contato por sempre a nós se dirigirem positivamente, entenderão, espero, esta medida corretiva e continuarão a nos alegrar com suas participações.

INSTRUÇÕES ÀS PESSOAS DO BEM, COMPREENSIVAS, QUE NOS LEEM:

Se tiver e-mail do Google, escolha a opção Conta do Google, ao postar.

Veja:


1. Digite seu comentário na caixa de texto abaixo de "Comente" e expanda o menu "Selecionar perfil..." como na foto:
3. Depois de digitar seu comentário você vai em selecionar perfil
4. Após expandir o menu, escolha a opção mais cabível a você.



Se preferir, selecione "Nome/URL".
Coloque seu nome na parte indicada para o nome.
Em URL digite seu site da web, se você tiver. Se você não tiver coloque seu endereço no Orkut, Facebook ou ponha um e-mail ou Twitter. Clique em continuar e pronto.


"Desenhando" mais ainda esta explicação, veja como ficaria meu Facebook neste comentário: 


Para isto, fui na página do Facebook e cliquei em cima de meu nome. Em seguida copiei o link que apareceu na barra de endereços.

Os senhores anônimos que se sentirem chateados com esta medida, sintam-se à vontade para reclamar utilizando algum dos meios alistados acima.

Abraços e até mais. A senhora Santos me chama.






quinta-feira, 12 de julho de 2012

MEU TÍTULO DE CIDADÃO - Gilberto Cardoso dos Santos


Tornou o comandante: Eu por grande soma de dinheiro adquiri este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento. - Atos 22:28


Lembrei-me hoje de Atos 22:28 ao ser comunicado por Adriano Bezerra, via celular, que Gilvandelma, da Câmara de Vereadores local, estava à minha procura para entregar a carta-convite que me me levará à concessão do título de cidadão. Recordei-me, também, de um trecho da entrevista com Marta Ferraroque nos disse:

"Gostaria de agradecer a todas as autoridades da cidade e os seus cidadãos por me dar o título de cidadã. Um título que nunca na vida eu sonhei receber."

Minhas palavras não difeririam muito das de Marta. Para mim é uma honra, não tendo prata nem ouro, como disse Pedro (Atos 3:6),  ser agraciado com tal reconhecimento. 

Pedro finalizou com uma adversativa alvissareira: "Mas o que tenho isto te dou". Fiquei me questionando sobre as possíveis coisas que dei Santa Cruz nestes anos todos em que aqui resido. Basicamente, dei aulas e trouxe conhecimento a muitos de seus cidadãos legítimos, alguns dos quais encontro hoje na esfera política, religiosa e a alguns que optaram pela área empresarial. Outros tornaram-se funcionários como eu, enfermeiros, advogados... (um outro dia, estando na barbearia de Joelson, um a quem não reconheci passou pelo recinto e logo retornou para dizer-se profundamente grato pelo que lhe ensinei, acrescentando que se tornara bancário); à semelhança do que Pedro fez com o pedinte, aprumei alguns versos de pé quebrados que correram a la Rubinho Barrichelo nas páginas de alguns cordeis e me trouxeram certa notoriedade; dei à cidade o espaço virtual chamado Blog da APOESC e através do "APOESC Recitando o Sertão" ajudei a abanar a fumegante chama da cultura local.

Se a ex-vereadora Odete e todos aqueles que votaram pela minha indicação viram isto como sendo mais importante que prata e ouro, é sinal que ainda há na esfera política quem reconheça o devido valor da arte e da educação.

O comandante, no texto bíblico, disse que adquirira seu título por grande soma de dinheiro. Como Paulo, posso orgulhar-me de não ter dependido disto e mais ainda por nem ter precisado nascer aqui. Se fosse depender disto, jamais me tornaria(m) cidadão.

A cerimônia ocorrerá amanhã à noite, no Teatro Candinha Bezerra, a partir das 19h. De qualquer modo me faria presente a esta cerimônia, pois  o senhor Aderson Leão, da clínica Trairi, também receberá tal título e havia me convidado. Obviamente quando vi no envelope o "Ao Ilustríssimo Senhor Gilberto Cardoso dos Santos", senti uma motivação a mais para comparecer àquela casa de espetáculos, pois não é todo dia que a nós se dirigem utilizando termos tão respeitosos. Ali, serei parte de uma constelação. Vagalumearei timidamente mas com muita felicidade  por entre as estrelas do legislativo.

Ali espero encontrar os brilhantes colaboradores deste blog: Hélio Crisanto, Teixeirinha, Eduardo Paulo, Alessandro Nóbrega, André, Débora Raquiel, João Maria, Lindonete, Nailson, Joseni, Aldenir, Adriano, Camilo Henrique, Ivanilson, Marcos Cavalcanti, Maciel, Marcelo, João Estevam, Rita Luna, Dr. Epitácio e demais porventura penalizados por minha deficiente memória.

A presença de vocês certamente muito contribuirá para abrilhantar este momento único.

domingo, 8 de julho de 2012

O DEUS COM QUEM NÃO SE BRINCA (resposta a Marcos Cavalcanti)



Foto: Marcos Cavalcanti, Gilberto Cardoso

Caro Marcos:

Vaselinarei cada explicação ao “Com Que Deus Não se Brinca?”  na esperança de que estas penetrem com mais suavidade em seu entendimento. Polêmico é o tema do qual tratamos, sujeito a inúmeras interpretações. Sobre o pão duro da matéria buscarei ser como maionese, visando garantir nossa permanência na mesa dos que degustam nossas palavras - dignos de todo o respeito - e trazer melhor sabor a esta saudável porém insípida discussão. Buscarei proceder com aquela mesma atitude respeitosa por você manifestada no sepultamento de Monsenhor Raimundo ao discursar positivamente sobre o ilustre finado umedecendo com lágrimas sinceras o papel em que escrevera seu discurso. Sabedores de suas (des)crenças, todos nos comovemos com a demonstração de respeito e tolerância manifestados na ocasião e passamos a admirá-lo mais ainda. Monsenhor Raimundo, a quem você se dirigiu depois de morto com palavras untadas de poesia como se este pudesse ouvi-lo (dando margem a quem não o conhecesse de pensar tratar-se de uma oração), manifestou, em igual medida, tolerância para com os ateus quando admitiu a possibilidade de que alguém viesse a salvar-se mesmo sendo descrente; para ele importava mais a conduta que a profissão de fé.

Em Com Deus não se brinca quis me referir à concepção cristã do ser supremo. Quando falamos em Deus, inevitavelmente nos referimos ao Deus que pertence à cultura da qual tratamos ou na qual vivemos. Se porventura eu escrevesse em Cabul para um blog afegão sobre palavras ditas por um sheik pouco antes de um naufrágio ocorrido no mar arábico envolvendo pessoas provenientes da Indonésia, meus leitores muçulmanos, ao lerem a palavra “deus” entenderiam estar me referindo a Alá. O Titanic, na noite de seu naufrágio, conduzia uma tripulação dominantemente cristã. Inclusive, teriam cantado o hino  "Nearer, my God, to Thee" (hino cristão protestante), por ocasião do desastre.

O deus a quem faço referência é o Deus da Bíblia. No Novo Testamento, Deus é sinônimo de tudo que é bom. Lemos:

Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” (1 João 4:8).

Muitos estranham a metamorfose que captam na imagem de Deus a partir de Jesus. Alguém disse: “No Velho Testamento temos um Deus que mata; no Novo Testamento vemos um Deus que morre.”

Apesar dos morticínios, mesmo no VT Deus é apresentado como tendo as características de um ser justo, amoroso, imparcial e profundamente preocupado com a felicidade humana. Um profeta escreveu:

Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.”(Jeremias 31:3)

Creio que esta imagem seja crucial para um deus ou para qualquer ser que governe. Até líderes e ditadores famosos que eu e você abominamos sentem a necessidade de manter um conceito próprio contrastante com seus atos. O bom-senso nos diz que um deus perfeito, desejável ou líder ideal, deva ter tais características. Os escritores da Bíblia, mesmo relatando coisas chocantes ao nosso entendimento como matança de crianças (Números 31:17), insistiam na imagem de um Ser bondoso, justo e misericordioso.

O problema é que as ideias de justiça, misericórdia e amor, na prática, são fortemente influenciadas pela formação, características psicológicas de cada um e pela cultura em que se está inserido. Manter escravos, matar e praticar o olho por olho eram perfeitamente compatíveis com a crença em Deus no tempo de Davi. Hoje, isso receberia a condenação de qualquer cristão.

Quando comunistas ateus e inquisidores medievais praticaram suas atrocidades, sentiam-se em perfeita consonância com os ideais de justiça, imparcialidade e amor à espécie humana apregoados pelas ideologias que abraçaram.

Um grande pregador cristão, Dwight Moody, aconselhava que seus fieis lessem a Bíblia como quem come peixe, com todo cuidado para não se engasgar. Eu acho que o pregador estava certo em sua observação: quem quiser manter a fé tem que proceder assim. Tal como Pedro não deveria atentar para os vendavais da incredulidade (Mat 14:30) sob pena de afogamento espiritual, os que se debruçarem sobre a Bíblia com olhar de urubu jamais “subirão como as águias” (Isaías 40:31)  É desse modo que o mundo cristão tem procedido. Buscam aquelas  partes que salientam aspectos positivos sobre o ser supremo, os versículos que estimulam a fé e a devoção.

A ideia de um deus com quem não se deve brincar vem de versículos como os de 2 REIS 2:23-24:

 “Deus é amor, mas também é fogo consumidor”, dizem religiosos, cientes dos muitos relatos em que expressões de blasfêmia resultaram em tragédias. O que tentei foi, a partir dos próprios argumentos fornecidos pela Bíblia e pelos  que usam a ilustração do Titanic, chamar a atenção para possibilidade de se pensar diferente.

Finalizo dizendo: perdoem-me os zelosos da fé que se viram censurados em seus comentários ofensivos à pessoa de Marcos. Apesar das diferenças radicais, ele e Monsenhor Raimundo foram bons amigos até o fim. Não tentem tomar as dores de Deus. Se ele é o ofendido, deixem que Ele mesmo resolva à sua maneira, extraindo água da rocha ou enviando raios.
Meditem nestas belíssimas palavras de Padre Zezinho:

“Eu sei que da verdade não sou dono
Eu sei que não sei tudo sobre Deus
Às vezes quem duvida e faz perguntas
É muito mais honesto do que eu.”



quinta-feira, 5 de julho de 2012

COM DEUS NÃO SE BRINCA - Gilberto Cardoso dos Santos



“Nem Deus pode afundar o Titanic”

A frase acima, supostamente dita por um dos condutores ou marinheiro do maior navio ate então construído, tem sido citada à exaustão nos últimos cem anos em púlpitos cristãos do mundo inteiro como um alerta aos que duvidam do Poder Supremo.
É difícil não despertar temor, medo, no coração daqueles que creem. Muitos, aliás, foram incentivados a temer a Deus por causa dessa história.

A verdade, porém, segundo Richard Howells – expert na história do naufrágio – é que não há provas conclusivas a respeito deste relato; a história teria sido criada pelo imaginário popular após o naufrágio. Nunca, afirmou ele, a White Star Line disse que o navio era invulnerável.

Verdade ou mentira, sempre me soou estranho que Deus, sinônimo de Amor e de Justiça – o mais perfeito dos seres e fonte benfazeja de todos os outros – fosse capaz de se deixar levar por tais ímpetos de destruição. Confesso que quando  ouvia esta história da boca de algum líder religioso, era como tentar engolir um maxixe quente. Ficava pensando em cerca de 1500 embarcadas e nos muitos familiares destes que ficaram em terra; pessoas que não o provocaram, que não disseram nada parecido com isso, mas, como estavam “no mesmo barco”, acabaram sendo penalizados.

Isto o faria parecer alguém imaturo, perigosamente impulsivo. Imagine o mais adulto e antigo dos seres procedendo tolamente como criança! Temperamento sanguíneo!
Ora, isso não combinaria com seu caráter. Imaginemos a cena: um ameninado qualquer da terra, jactancioso, diz: “Não tem quem afunde esse navio... nem Deus!” E Deus, a quem nada escapa, franze o sobrecenho e diz: “Ah, é? Pois eu vou mostrar a esse sujeito quem é que manda aí!” e logo, valendo-se de  monstruoso iceberg,  "prova" para o resto da humanidade quem é o tal. 

Segundo afirmam muitos propagadores dessa história, a frase teria sido dita por brincadeira, o que faria parecer bem mais irrazoável a reação divina. Nós nos sentimos pouco à vontade com pessoas mal-humoradas. Alguma vez um amigo o alertou sobre a inconveniência de brincar com alguém que esquenta com facilidade? - Cuidado, disse. - Ele não gosta de brincadeira -  Creio que sua impressão sobre a pessoa citada não foi das melhores.

Isso faz Deus parecer com  indivíduos imprevisíveis que todos conhecemos; assemelha-o a governantes despóticos, prontos a esmagar quaisquer sinais de insolência. Religiosos fanáticos inquisidores poderiam dizer convincentemente que de fato foram feitos à Sua imagem e semelhança.

Em sendo verdade, justificaria a censura religiosa e perseguição aos escarnecedores. Como deixar à vontade pessoas que blasfemam contra Deus? Professores, pais e autoridades deveriam tentar controlar tudo oque se diz. O ocorrido com o Titanic estaria aí para nos alertar. De repente, alguém em um grande shopping lotado de gente diria: "Duvido alguém derrubar este edifício!" E Deus, sentindo-se provocado, mandava um raio e deixava milhares de famílias destroçadas.

Será que Deus iria querer destruir toda uma multidão de filhos por causa de um único rebelde? Aliás, nem se todos fossem rebeldes. Tal visão talvez tenha pouco a ver com a de um Deus que criou o homem à sua imagem e semelhança e muito a ver com a de um Deus criado à imagem e semelhança do homem.