quinta-feira, 5 de julho de 2012

COM DEUS NÃO SE BRINCA - Gilberto Cardoso dos Santos



“Nem Deus pode afundar o Titanic”

A frase acima, supostamente dita por um dos condutores ou marinheiro do maior navio ate então construído, tem sido citada à exaustão nos últimos cem anos em púlpitos cristãos do mundo inteiro como um alerta aos que duvidam do Poder Supremo.
É difícil não despertar temor, medo, no coração daqueles que creem. Muitos, aliás, foram incentivados a temer a Deus por causa dessa história.

A verdade, porém, segundo Richard Howells – expert na história do naufrágio – é que não há provas conclusivas a respeito deste relato; a história teria sido criada pelo imaginário popular após o naufrágio. Nunca, afirmou ele, a White Star Line disse que o navio era invulnerável.

Verdade ou mentira, sempre me soou estranho que Deus, sinônimo de Amor e de Justiça – o mais perfeito dos seres e fonte benfazeja de todos os outros – fosse capaz de se deixar levar por tais ímpetos de destruição. Confesso que quando  ouvia esta história da boca de algum líder religioso, era como tentar engolir um maxixe quente. Ficava pensando em cerca de 1500 embarcadas e nos muitos familiares destes que ficaram em terra; pessoas que não o provocaram, que não disseram nada parecido com isso, mas, como estavam “no mesmo barco”, acabaram sendo penalizados.

Isto o faria parecer alguém imaturo, perigosamente impulsivo. Imagine o mais adulto e antigo dos seres procedendo tolamente como criança! Temperamento sanguíneo!
Ora, isso não combinaria com seu caráter. Imaginemos a cena: um ameninado qualquer da terra, jactancioso, diz: “Não tem quem afunde esse navio... nem Deus!” E Deus, a quem nada escapa, franze o sobrecenho e diz: “Ah, é? Pois eu vou mostrar a esse sujeito quem é que manda aí!” e logo, valendo-se de  monstruoso iceberg,  "prova" para o resto da humanidade quem é o tal. 

Segundo afirmam muitos propagadores dessa história, a frase teria sido dita por brincadeira, o que faria parecer bem mais irrazoável a reação divina. Nós nos sentimos pouco à vontade com pessoas mal-humoradas. Alguma vez um amigo o alertou sobre a inconveniência de brincar com alguém que esquenta com facilidade? - Cuidado, disse. - Ele não gosta de brincadeira -  Creio que sua impressão sobre a pessoa citada não foi das melhores.

Isso faz Deus parecer com  indivíduos imprevisíveis que todos conhecemos; assemelha-o a governantes despóticos, prontos a esmagar quaisquer sinais de insolência. Religiosos fanáticos inquisidores poderiam dizer convincentemente que de fato foram feitos à Sua imagem e semelhança.

Em sendo verdade, justificaria a censura religiosa e perseguição aos escarnecedores. Como deixar à vontade pessoas que blasfemam contra Deus? Professores, pais e autoridades deveriam tentar controlar tudo oque se diz. O ocorrido com o Titanic estaria aí para nos alertar. De repente, alguém em um grande shopping lotado de gente diria: "Duvido alguém derrubar este edifício!" E Deus, sentindo-se provocado, mandava um raio e deixava milhares de famílias destroçadas.

Será que Deus iria querer destruir toda uma multidão de filhos por causa de um único rebelde? Aliás, nem se todos fossem rebeldes. Tal visão talvez tenha pouco a ver com a de um Deus que criou o homem à sua imagem e semelhança e muito a ver com a de um Deus criado à imagem e semelhança do homem.

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