quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

SILÊNCIO OPORTUNO - Gilberto Cardoso dos Santos


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

POEMA SOBRE O CASARÃO DE PATOS



UM DIA A CASA CAI
(POEMA SOBRE O CASARÃO DE PATOS)

Há um dito nordestino
Que escutei de meu pai
Parece que o destino
Cumprir a sentença vai
Neste marco do passado
Pois se não houver cuidado
Um dia a casa cai.

Se esta casa fosse parte
de um ambiente europeu
virava obra de arte
se transformava em museu
Não ficava desse jeito
Porque lá se tem respeito
Pelo que aconteceu.

Ruínas que emocionam
Fendas que levam ao passado
Com histórias que abonam
que se tenha mais cuidado
É patrimônio local
Nordestino, nacional
Tristemente abandonado

O casarão imponente
não pode se defender
da ação do tempo inclemente
Mas nada estão a fazer
Que os fãs de Lampião
Exijam mais atenção
dos que estão no poder.

Gilberto Cardoso dos Santos - gcarsantos@gmail.com






terça-feira, 22 de novembro de 2016

MEU TERCEIRO LUGAR EM CONCURSO DE POESIA



Graças à dica de uma amiga curitibana, tomei conhecimento deste concurso de poesia promovido pela cidade onde Augusto dos Anjos passou seus últimos anos. Admirável é o trabalho feito pela gestão local para manter vivo o nome deste gênio poético. Senti-me radiante ao ser classificado entre os 20 finalistas e mais ainda quando, na última etapa, me foi concedido o terceiro lugar!

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O AMOR AO PRÓXIMO NO MUNDO VIRTUAL


O AMOR AO PRÓXIMO NO MUNDO VIRTUAL - Gilberto Cardoso dos Santos

Quase todos os cristãos e simpatizantes do cristianismo acreditam que Jesus é o autor do famoso mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Todavia, milhares de anos antes que Cristo nascesse, esse mandamento já fora mencionado em Levítico 19:18. Ali lemos:

“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

Jesus cristo, porém, não repetiu simplesmente o que alguém já se dissera, mas deu nova roupagem a este preceito e elevou-o à categoria de segundo maior mandamento. Diríamos, que no concerne às relações humanas, ele deveria constar como o primeiro. Esta súmula do decálogo é um resumo de mais da metade dos dez mandamentos. 

Amar ao próximo como a si mesmo é um dos camelos referidos por Cristo (Mateus 23:24), engolido todos os dias enquanto estamos presos às redes sociais, coando mosquitos ou espalhando pernilongos infectados.  O ocidente cristianizado e altamente beneficiado pelos avanços tecnológicos, tem a bíblia ao alcance do dedo onde quer que esteja; pode ler, grifar, colorir e divulgar os ditos de Jesus. Pode, se quiser, escutá-lo na voz de Cid Moreira. No entanto, apesar das advertências do Mestre, tão acessíveis hoje, continua insensível à trave no próprio olho, preocupado com os argueiros alheios.  

As redes sociais ampliaram as possibilidades de transgressão ao magno preceito sem o qual o cristianismo vira uma piada. Quase ninguém para pra pensar nos males que poderá causar com os comentários e divulgações que faz. 

O grande escritor Umberto Eco disse algo que, à primeira vista, choca quem o lê, principalmente àqueles que são vítimas do chamado analfabetismo funcional. Eis o que o autor de “O nome da Rosa”:
“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. [...] O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

Quando amenizamos o impacto negativo do termo “imbecis” e nos conscientizamos de que o escritor não está a nos fazer um ataque pessoal, mas a tratar duma realidade difícil de negar, somos capazes de entender melhor suas palavras e aplica-las adequadamente ao presente contexto. 

O “causar dano à coletividade” ganhou, sem dúvidas, infinitas possibilidades com o advento das mídias sociais. As oficinas do diabo, ou mentes desocupadas, têm agora um amplo espaço para forjar o que não presta.

Outro termo usado por Umberto Eco que faz eco em nossa asnice emocional é o vocábulo “idiota”. Quando vamos ao dicionário e descobrimos que significa “carente de discernimento, falto de inteligência” trazemos suavidade à suposta ofensa. Ou seja, idiota da “aldeia” (antes local, hoje global) é aquele que não reflete bem antes de postar algo; às vezes, trata-se de um fiel membro de igreja que deveria consultar a Deus antes de enviar postagens suas ou alheias. Bastaria, por alguns segundos, perguntar-se: Se fosse comigo, com algum amigo ou familiar eu faria isto? Como procederia se este, a quem denigro, votasse no mesmo partido que eu, ou fosse de meu íntimo convívio? Como me sentiria se acaso eu fizesse alguma bobagem “dessas” e fizessem o mesmo com minha imagem ou palavras? Porventura não me sentiria eternamente grato para com aqueles que de mim tivessem misericórdia?

Todavia, muitos se dispõem a divulgar coisas nocivas, como se com isso fizessem um bem à coletividade e estivessem a zelar pela moral pública. Muitas vezes, porém, dão um zoom em algo que de tão pequeno passaria despercebido – os mosquitos referidos por Cristo -, ou criam factoides destituídos de qualquer solidez. 

Como fica a situação do suposto culpado cuja inocência vem a ser provada? Será que os mesmos que divulgaram seu crime terão a preocupação de desfazer o malfeito? Digamos que tentem retratar-se de alguma forma; será que buscando reparar o dano feito ao semelhante conseguiriam apagar a influência negativa que tiveram? Obviamente que não! Quem não quiser, pois, ser merecidamente adjetivado como imbecil ou idiota deve ponderar bem o que posta e o que diz.

Uma das coisas que tornam a Bíblia digna de ser lida é a doutrina da misericórdia. Jesus, segundo os evangelhos, era extremamente misericordioso. Sempre lançou um olhar bondoso e acolhedor às prostitutas e demais pecadores de seu tempo. Não conseguimos imaginá-lo compartilhando um vídeo da adúltera Maria Madalena no Facebook ou Instagram. Jamais escreveria nos comentários: “Que vergonha!”

Vivemos numa sociedade que foi condicionada a crer que haverá um severo dia de juízo. Os que levam tal crença a sério deveriam ponderar bem suas peripécias virtuais. Um escritor bíblico nos diz: 
Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo. (Tiago: 2:13)

Exercer a misericórdia, em essência, significa amar o próximo a si mesmo. O “Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam”, enfatizado por Jesus, é outra maneira de dizer “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

O modo certo de lidar com delitos pessoais de gente como a gente, sujeita às mesmas paixões que nós, não é divulgando “cenas do crime” nos espaços virtuais. Há trâmites legais a serem seguidos e gente que estudou e ganha para tratar destas questões. Deixemos o caso com as partes envolvidas.  Não somos chamados a ser juízes, a emitir sentenças severas, mas a colocar-nos no lugar de quem errou e exercer misericórdia - a amar nosso próximo como a nós mesmos. 

Uma maneira de nos imunizarmos contra o vírus da idiotice é dar ouvidos às palavras dos grandes mestres como Jesus, Buda e os bons filósofos. Confúcio, por exemplo, ensina que devemos ser exigentes conosco mesmos e benevolentes com os demais.

Já imaginaram que céu virtual nós teríamos caso seguíssemos estes conselhos? Com certeza a felicidade estampada na linha do tempo seria bem mais real. Jamais criaríamos infernos para os outros. As “redes”, em cujas malhas muitos hoje se acham presos e que servem de armadilhas para muitos, se transformariam em lugares de repouso, berços de poesia, embaladas ao som de vozes nascidas em consciências tranquilas.

Jamais esqueçamos quando estivermos a navegar que estamos todos no mesmo barco; que todos somos irmãos, queiramos ou não e que, mesmo quando profundamente indignos, ainda somos dignos de misericórdia.

Um abraço fraterno a todos os que me leem.


Santa Cruz, 21.11.2016




sexta-feira, 18 de novembro de 2016

MEU TÍTULO DE MESTRE - Gilberto Cardoso dos Santos

MEU TÍTULO DE MESTRE

“Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, jubiloso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida.” Lucas 15:4-6

Hoje recebi o titulo de mestre. Está sendo um dia memorável em minha vida simplória. Alguns amigos sugeriram que escrevesse algo a respeito. Mas o que dizer quando somos dominados por sentimentos que nos parecem indizíveis? Sentimos ânsia de verbaliza-los, dar-lhes corpo, mas nos sentimos inábeis.
Estou, naturalmente, muito feliz. Sinto-me como aquele personagem bíblico do livro de Isaías que viu o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficou satisfeito (Isaías 53:10-11). Nadei, nadei, vi nadadeiras escuras ao longo do trajeto, mas atravessei mares dantes não navegados, resisti ao canto da sereia do comodismo e não morri na beira da praia, apesar das ondas contrárias. 
Compareci ao momento de apresentação do TCC como ovelha levada ao matadouro. Todavia, para minha grata surpresa, o trabalho foi bem aceito, apesar das necessárias sugestões de acréscimos, correções e supressões. Alegrei-me, em especial, pelas congratulações que recebi dos mestrandos e de outros educadores presentes à sessão. Os membros da banca, com suas incisões pertinentes secundadas por bálsamos de elogios, muito contribuíram para a alegria do momento. 
Concluir um mestrado é como chegar ao topo de uma elevada montanha após cansativa e perigosa escalada. Todavia, compensa chegar ali e respirar o ar próprio das altitudes, é impagável poder observar a paisagem ao redor a partir de um novo ângulo. Quando ali chegamos, temos noção do quanto nos elevamos, mas vislumbramos que há montanhas mais altas diante das quais temos a sensação de termos escalado um insignificante monte.
A alegria do momento é passageira, pois é necessário descer dali, voltar à vida comum da planície, encarar a íngreme escala descendente; ainda que, no calor do momento, nos sintamos como Zaratustra, julgando que voltaremos ao vilarejo, imbuídos duma missão especial. Mas demoremo-nos ainda um pouco no alto. Que o sol se detenha por um instante, como aconteceu sob as ordens de Josué.
As palavras que ora escrevo representam um convite à alegria, à minha alegria. À semelhança do homem da parábola posta na epígrafe, ganhei algo mui precioso e quero que comemorem comigo.
O personagem da estória bíblica encontrou uma ovelha preciosa e eu também achei a minha ovelha. Explico.
Alberto Caieiro, uma das vozes de Fernando Pessoa, diz:
“Sou um guardador de rebanhos, O rebanho é os meus pensamentos”.
Entregue aos devaneios poéticos, tinha, antes de dar início a este mestrado um rebanho solto, desordenado; pensamentos que, à semelhança do ocorre com todos, circulavam a esmo na memória, entrando e saindo dos prados do inconsciente. Para fazer este mestrado, tive que ordenar minhas ovelhas, fazê-las submissas, encurralá-las tosquiá-las, enfileira-las de modo a torna-las satisfatórias  às exigências acadêmicas; ovelhas novas precisaram ser geradas e outras necessitaram ser sacrificadas. Obtive, finalmente, a ovelha por excelência, a minha Dolly, e quero que todos os que por mim torceram; todos que de um modo ou de outro me auxiliaram nesta caminhada; todos aqueles que, desprovidos de sentimentos de inveja ou de censura conseguem felicitar-se com êxitos alheios; a estes altruístas, digo: rejubilem-se comigo, pois achei a minha ovelha por excelência, vivamos este momento marcante em minha breve passagem por este mundo.
Um pouco antes de seguir para a defesa do TCC, vi-me inspirado a escrever o seguinte poema:
“A ninguém chameis de mestre”
Disse o Sábio Pregador
Se até os que têm mestrado
Têm limitado valor
Imagine o advogado
Médico ou juiz exaltado
Que é chamado de doutor!

Oxalá o vírus do orgulho, da tola exaltação não venham a estragar o bom funcionamento do Windows Xp de minha mente. Que eu jamais me esqueça da máxima de Emerson, o filósofo, que disse: “Cada pessoa que encontro é superior em algum aspecto sob o qual eu aprendo algo.” 

Espero continuar a poder enxergar  os dons de cada um que, quando bem utilizados e exercitados, os transformam em mestres dignos de respeito e admiração; a ler nos traços em braile da mão de um agricultor os títulos que a vida lhe concedeu.


Obrigado a todos – amáveis colegas de mestrado, diletos amigos próximos e distantes, imprescindíveis familiares, idolatrados professores - que sempre torceram pelo meu sucesso!

Drª Valdenides, orientadora, Dr. Sebastião e Dr. Manoel Freire 
 

Na plateia, Luma: poetisa, atriz e mestra.






Hélio Crisanto, um dos objetos de estudo do meu TCC, declamando.





Assinatura do certificado de mestre.

Santa Cruz, 18.11.2016

RECADO AOS MESTRES E DOUTORES


sábado, 20 de agosto de 2016

“O POVO SE VENDE FÁCIL” (Gilberto Cardoso dos Santos)


“O POVO SE VENDE FÁCIL” (Gilberto Cardoso dos Santos)


Um vendedor de bananas perguntou à freguesa: "Foi ontem pra o comício?"

A mulher fez  cara de nojo e disse: "Eu mesmo não. Deus me livre de sair de casa pra ir atrás desses pestes!"

O vendedor riu e prosseguiu em sua curiosidade: "Por que essa raiva toda, minha amiga? Tem que ir pra ouvir as propostas! Como é que você vai escolher?"

Ela pôs as mãos na cintura, fez um muxoxo e replicou simulando indignação:

"Propostas, que propostas? Louco é quem confia nesta cambada de mentirosos. São uns ladrões!"

Duas pessoas próximas deram sinais de concordar com o que ela dizia. Eu também assenti com um "hum hum" e comecei a prestar atenção na fala da mulher; imaginei que estava à frente duma pessoa politicamente esclarecida. Mas o feirante insistiu em querer saber o real motivo daquela raiva toda e a mulher esclareceu:

"São uns safados. A gente vai pedir as coisas e eles dizem que não podem dar porque a fiscalização está rigorosa demais. Dizem também que não receberam recursos. Então que se lasquem todos!"

Claramente, para minha decepção, faltava consciência política naquela mulher, aparentemente enceguecida por seus próprios interesses. Infelizmente, não tinha o perfil que eu esperava; era representante de um grupo numeroso, manifestou um modo de pensar que é regra, não exceção. Temi pelos resultados da eleição que temos à frente. Será que mais uma vez deliberada e ingenuamente erraremos em nossas escolhas?

Como bem disse Rubem Alves, "É o povo que escolhe, como seus líderes, de forma democrática, os bandidos, criminosos e corruptos. E que não me digam que o faz por ignorância. O povo se vende fácil."


Enquanto houver uma maioria que raciocina como aquela mulher - que se vende fácil - será difícil evoluirmos para uma sociedade justa e equilibrada.




terça-feira, 16 de agosto de 2016

O AUMENTO NO SALÁRIO DOS VEREADORES – Gilberto Cardoso dos Santos


O AUMENTO NO SALÁRIO DOS VEREADORES – Gilberto Cardoso dos Santos

Os vereadores de minha cidade reuniram-se e deram a si mesmos um aumento. Mas nisto não foram pioneiros, apenas seguiram o exemplo de muitas outras câmaras legislativas espalhadas Brasil afora.  Claro que houve quem desse exemplo contrário, como se deu em Água Branca, PB, em que os edis votaram pela diminuição do próprio salário. Mas é óbvio: entre um raro bom exemplo desfavorável e uma maioria esmagadora de maus exemplos favoráveis, quem não optaria pelo segundo? Isto é demo “níaco” e “crático” ao mesmo tempo.

O que me espanta mesmo não foi o aumento que deram ao próprio salário (astronômico, diga-se de passagem), mas o fato da Constituição permitir que uma categoria, seja ela qual for, defina os próprios proventos.  Ainda mais diante da notória dificuldade que os políticos brasileiros tiveram, têm e sempre terão de enxergar qualquer coisa além dos próprios interesses.

Influenciado pela leitura dos livros de Poliana, esforço-me para ver o lado positivo das coisas. Imagine que eles bem poderiam ter arredondado o valor de cada sessão para dois mil reais, o que seria bastante compreensível. Mas não: optaram por menos. Eles sabem bem o quanto importa economizar por pouco que seja em tempos de crise. Todos precisam fazer sua parcela de sacrifício e disto não se eximem.  Aliás, para os que acham que eles se reúnem apenas uma vez por semana, vale ressaltar que isto aconteceu numa reunião-extra, às onze horas do dia.

É bonito se ver adversários políticos, posição e oposição, esquecidos de suas diferenças, unidos a batalhar por uma causa tão comum!  

Para incentivar maior participação em reuniões tão bem remuneradas, poderiam ter acrescentado à lei um dispositivo que permitisse desconto no salário dos vereadores faltantes. Ora, não é assim que acontece em qualquer outra profissão quando se falta sem a devida comprovação de justa causa?

Fico imaginando como me comportaria, caso fosse concedida à minha categoria o poder de determinar nosso próprio salário. “Sentir-me-ia”, como diria Temer, tentado a ir além do que determina o bom senso. Melhor: ficaria numa dúvida cruel sobre quanto realmente merece ganhar um professor. Imagino o enorme problema que teríamos para criar um meio termo entre a percepção daqueles acostumados a uma vida de exploração salarial e a dos mais gananciosos – ou mais conscientes.

Sei que não é fácil para ninguém que dispõe de tanto poder – mesmo o de determinar o próprio salário! – ter que legislar em causa própria sob os holofotes da censura popular.

Acostumados que estamos a ver aspectos negativos nas ações de nossos políticos, corremos o risco de não ver motivações altruístas em seus gestos. Afinal, como disse um deles, pensaram nos que assumirão no próximo pleito, não neles propriamente, embora mais uma vez tenham se candidatado. Os instados a participar mais ativamente da vida política, têm agora uma motivação extra para se candidatarem e batalharem com mais afinco pela vitória.

Ainda à cata de coisas positivas nisto tudo, nos alegramos por saber que a decisão não foi tomada por cem por cento deles. Houve quem faltasse à reunião ou que, instado a votar, tenha se recusado. Podemos questionar-lhes os motivos, é claro, mas o fato é que não votaram. Ao menos tiveram temor à opinião popular e deixaram que a prudência suplantasse a ganância. Também achei interessante perceber que alguns pré-candidatos dos dois lados, correndo o risco de desagradar aos companheiros de chapa, tenham se posicionado claramente contra o ato imoral disfarçado de legalidade. O “nada a declarar” de outros candidatos a quem vejo com bons olhos tem me incomodado. Talvez estejam ensaiando ainda o que dirão. Acho que devemos prestar mais atenção nestes que ousaram erguer a voz e cobrar (o)posição dos demais.

Quanto aos que votaram pelo aumento, deixemos que o povo, democraticamente, decida os seus destinos. Vendo por certo ângulo, foi uma jogada de mestres: terá o potencial de angariar mais votos desde que se valham do seguinte e sedutor argumento: “Concedemos a nós mesmos este aumento pensando em você, eleitor. O excedente ao que ganhávamos será usado em seu benefício.”

Descontextualizando e adulterando o bordão de Nelson Rubens, diriam nosso ilustres representantes: “Eu aumento e depois invento qualquer desculpa.”



O AUMENTO NO SALÁRIO DOS VEREADORES – Gilberto Cardoso dos Santos


O AUMENTO NO SALÁRIO DOS VEREADORES – Gilberto Cardoso dos Santos

Os vereadores de minha cidade reuniram-se e deram a si mesmos um aumento. Mas nisto não foram pioneiros, apenas seguiram o exemplo de muitas outras câmaras legislativas espalhadas Brasil afora.  Claro que houve quem desse exemplo contrário, como se deu em Água Branca, PB, em que os edis votaram pela diminuição do próprio salário. Mas é óbvio: entre um raro bom exemplo desfavorável e uma maioria esmagadora de maus exemplos favoráveis, quem não optaria pelo segundo? Isto é demo “níaco” e “crático” ao mesmo tempo.

O que me espanta mesmo não foi o aumento que deram ao próprio salário (astronômico, diga-se de passagem), mas o fato da Constituição permitir que uma categoria, seja ela qual for, defina os próprios proventos.  Ainda mais diante da notória dificuldade que os políticos brasileiros tiveram, têm e sempre terão de enxergar qualquer coisa além dos próprios interesses.

Influenciado pela leitura dos livros de Poliana, esforço-me para ver o lado positivo das coisas. Imagine que eles bem poderiam ter arredondado o valor de cada sessão para dois mil reais, o que seria bastante compreensivo. Mas não: optaram por menos. Eles sabem bem o quanto importa economizar por pouco que seja em tempos de crise. Todos precisam fazer sua parcela de sacrifício e disto não se eximem.  Aliás, para os que acham que eles se reúnem apenas uma vez por semana, vale ressaltar que isto aconteceu numa reunião-extra, às onze horas do dia.

É bonito se ver adversários políticos, posição e oposição, esquecidos de suas diferenças, unidos a batalhar por uma causa tão comum!  

Para incentivar maior participação em reuniões tão bem remuneradas, poderiam ter acrescentado à lei um dispositivo que permitisse desconto no salário dos vereadores faltantes. Ora, não é assim que acontece em qualquer outra profissão quando se falta sem a devida comprovação de justa causa?

Fico imaginando como me comportaria, caso fosse concedida à minha categoria o poder de determinar nosso próprio salário. “Sentir-me-ia”, como diria Temer, tentado a ir além do que determina o bom senso. Melhor: ficaria numa dúvida cruel sobre quanto realmente merece ganhar um professor. Imagino o enorme problema que teríamos para criar um meio termo entre a percepção daqueles acostumados a uma vida de exploração salarial e a dos mais gananciosos – ou mais conscientes.

Sei que não é fácil para ninguém que dispõe de tanto poder – mesmo o de determinar o próprio salário! – ter que legislar em causa própria sob os holofotes da censura popular.

Acostumados que estamos a ver aspectos negativos nas ações de nossos políticos, corremos o risco de não ver motivações altruístas em seus gestos. Afinal, como disse um deles, pensaram nos que assumirão no próximo pleito, não neles propriamente, embora mais uma vez tenham se candidatado. Os instados a participar mais ativamente da vida política, têm agora uma motivação extra para se candidatarem e batalharem com mais afinco pela vitória.

Ainda à cata de coisas positivas nisto tudo, nos alegramos por saber que a decisão não foi tomada por cem por cento deles. Houve quem faltasse à reunião ou que, instado a votar, tenha se recusado. Podemos questionar-lhes os motivos, é claro, mas o fato é que não votaram. Ao menos tiveram temor à opinião popular e deixaram que a prudência suplantasse a ganância. Também achei interessante perceber que alguns pré-candidatos dos dois lados, correndo o risco de desagradar aos companheiros de chapa, tenham se posicionado claramente contra o ato imoral disfarçado de legalidade. O “nada a declarar” de outros candidatos a quem vejo com bons olhos tem me incomodado. Talvez estejam ensaiando ainda o que dirão. Acho que devemos prestar mais atenção nestes que ousaram erguer a voz e cobrar (o)posição dos demais.

Quanto aos que votaram pelo aumento, deixemos que o povo, democraticamente, decida os seus destinos. Vendo por certo ângulo, foi uma jogada de mestres: terá o potencial de angariar mais votos desde que se valham do seguinte e sedutor argumento: “Concedemos a nós mesmos este aumento pensando em você, eleitor. O excedente ao que ganhávamos será usado em seu benefício.”

Descontextualizando e adulterando o bordão de Nelson Rubens, diriam nosso ilustres representantes: “Eu aumento e depois invento qualquer desculpa.”