quinta-feira, 30 de junho de 2016

MEDIDAS MAL MEDIDAS - Gilberto Cardoso dos Santos


quarta-feira, 22 de junho de 2016

ENTREVISTA em versos COM JOSÉ ACACI



ENTREVISTA em versos COM ACACI



GILBERTO:
Caro José Acaci
Poeta fenomenal
Nos fale um pouco de si
Nessa conversa informal
Em forma de poesia
Mostre-nos com maestria
Quanto é especial.



ACACI:
Sou um poeta alegreiro,
espalhador de alegria,
palavrador de palavra,
ortoador de grafia,
poemador de poema,
fonemador de fonema,
dizidor de poesia.

GILBERTO:
Fale-nos de sua infância
E lugar onde nasceu
Também em que circunstância
Seu dom se desenvolveu
As principais referências
as maiores influências
livros e cordéis que leu.

ACACI:
Eu nasci em Macaíba
terra de muitos primores.
De poetas, de artistas,
políticos e escritores,
que ficaram na memória
e são parte da história
dos nossos grandes valores.

Nasci de família pobre
no entanto tive a sorte
de ser filho de um poeta
firme corajoso e forte
que me ensinou a ciência
e foi minha referência
no Rio Grande do Norte

Meu pai foi Chagas Ramalho.
Enfrentei muitas porfias
assistindo ele escrevendo,
recitando poesias,
e andando pelas ribeiras,
vendendo cordel nas feiras
e fazendo cantorias.

“Meu Pé de Laranja Lima”
eu li quando era menino,
e foi o primeiro livro
que tive no meu destino.
Mas hoje eu leio de tudo
vou de Camões a Cascudo,
de Bilac a Severino.

Entre os cordéis que eu gostava:
Coco Verde e Melancia;
O Pavão Misterioso;
O Valente Zé Garcia;
Juvenal e o Dragão;
História do Boi Tungão,
São alguns cordéis que eu lia.

GILBERTO:
Eu sei que a sua história
É muito interessante.
Se recorresse à memória
Daria um cordel gigante.
Mesmo que de forma vaga,
Destaque na sua saga
O que julga impactante.

ACACI:
Eu lembro: A Casa de taipa;
o sol nas frestas entrando;
meu pai tocando viola;
a minha mãe costurando;
e eu muito introvertido,
sentado no chão batido,
fazendo arte e brincando.

Era comum nesse tempo
alguém morrer “de repente”.
Não por ser um “repentista”,
porém, por ser tão carente.
Qualquer gripe ou anemia,
Maleita, ou disenteria,
matava gente da gente.

Eu sou um sobrevivente
e me sinto abençoado
por não ser um preguiçoso,
por ser bastante esforçado,
enfrentar dias medonhos,
e acreditar nos sonhos
que um dia foram sonhados.

Lembro o sorriso de mãe
no momento que eu li
a lista dos aprovados
pra escola de Jundiaí.
Foi uma grande conquista.
tão poucos nomes na lista,
mas meu nome estava ali.

Eu lembro também do dia
que entrei pra faculdade:
Sem emprego e sem dinheiro,
com tanta dificuldade,
mas com garra pra lutar
e assim poder mudar
aquela realidade.

GILBERTO:
Você é preocupado
Com questões estruturais
Mostra-se muito apegado
Aos aspectos formais
Até mesmo com o papel
Que elementos num cordel
Você julga essenciais?

ACACI:
O papel é importante
como apresentação,
pra melhorar a estética
e a visualização.
Porém o que é relevante
e deveras importante:
métrica, rima e oração.

O que se chama cordel
na sua forma mais pura
não é o folheto em si,
nem sua xilogravura,
e sim a forma do texto,
centenário no contexto
e na sua estrutura.

GILBERTO: 
Fale-nos sobre a ANLIC
Ainda que brevemente
Da qual você, muito chic,
Veio a ser o presidente
Na sua avaliação
Esta instituição
Tem tudo pra ir pra frente?

ACACI:
A ANLiC está passando
por muita dificuldade:
não tem dinheiro, nem sede,
porém tem boa vontade
dos confrades a lutar
para conseguir mudar
a nossa realidade.

Temos CNPJ,
e registro no cartório,
ainda não temos sede,
e nem mesmo um escritório.
Discutimos cada tema
para que cada problema
seja um fato transitório.

Porém nem tudo é perfeito,
pois temos dificuldades,
e entre elas, a maior
é reunir os confrades
para tomar decisões
discutir opiniões
e aumentar as amizades.

GILBERTO:
Para alguém fazer parte
Desta instituição
Além de amar a arte
E ter boa produção
Como deve proceder
Caso queira recorrer
A uma colocação?

ACACI:
Quando existe uma vacância
é feita a convocação
por internet e jornal,
pra que qualquer cidadão
possa ler e conhecer,
e depois se inscrever
para uma seleção.

Um pretendente à vaga
precisa ser bem fiel
aos princípios necessários
na escrita de um cordel,
e ter cordéis publicados
pra serem avaliados
por poetas do plantel.

Os confrades da ANLiC,
em uma reunião,
definem todo o processo
pra que aja a seleção
dentro das normas legais
e dentro dos rituais
que diz a legislação.

GILBERTO:
Fale-nos sobre o cordel
E da tecnologia
Não mais restrito ao papel
Nas redes se anuncia
O que vê de positivo
E o que há de negativo?
Como você avalia?

ACACI:
O cordel esteve em alta
porém depois se escondeu.
quando apareceu o rádio
ele quase feneceu.
Teve gente criticando
e outros até falando
que o nosso cordel morreu.

Porém com a internet
a coisa foi diferente:
Ele ganhou nova cara
e espalhou-se de repente.
Passou a ser mais querido
e ficou mais conhecido
no meio da nossa gente.

O cordel ganhou o mundo
nos blogues de poesia;
na rede do Facebook;
nos sites de cantoria;
e não tem um que escape,
até no whatsapp,
o cordel se anuncia.

Eu acho muito importante
toda essa divulgação
nas redes de internet
e até na televisão,
mas devemos ter cuidado
pra que todo esse legado
se mantenha no padrão.

Eu comparo um cordelista
a um mestre do pincel,
escolhendo as cores certas
para pintar um painel.
Mas tem cordel publicado
sem o devido cuidado
pela arte do cordel.

GILBERTO: 
Dos muitos cordéis que fez
Com talento e maestria
Deve haver alguns talvez
Que lhe dão muita  alegria
Que têm ampla aceitação
De sua vasta produção
Quais os que destacaria?

ACACI: 
Antologia do Peido
é meu cordel mais vendido.
Conselhos Pra Juventude
é um cordel que tem sido
visto com muito carinho,
e O Sonho de Joãozinho
é bastante conhecido.


GILBERTO:
Você faz no dia a dia
Um trabalho excelente
Pois propaga a poesia
De maneira consistente.
Incentivando a leitura
E promovendo a cultura
Como Acaci se sente?

ACACI:
Eu aprendi logo cedo
que ao invés de reclamar,
devo arregaçar as mangas
e sair pra trabalhar.
Sonhando sonhos concretos
vou tocando meus projetos
para ver no que vai dar.

Aprendi que não existe
nem mágica nem forma certa.
Quando uma porta se fecha
vou procurar outra aberta.
Continuo na labuta,
mantendo minha conduta,
e a mente sempre alerta.

Sinto-me muito feliz
por tudo que sou e sei.
Agradeço a quem me ajuda
nesses sonhos que sonhei,
a quem me estendeu a mão,
que me deu a direção
pra chegar aonde cheguei.

GILBERTO:
Qual o seu lema de vida
E preocupações morais?
Acha que existe saída
Pros problemas atuais
Em nossa sociedade?
Sinta-se bem à vontade
Quanto às palavras finais.

ACACI:
Quanto a meu lema de vida
digo nos versos finais:
Ser honesto e ser feliz,
e viver sempre na paz.
Ser pros outros um abrigo
e amar cada amigo
como eu amei os meus pais.

Sempre me preocupei
com toda essa conjuntura
da desvalorização
dos valores da cultura,
da música, da poesia,
do forró, da cantoria,
e nossa literatura.

A música sendo trocada
por um toque barulhento,
e as cores da cultura
ganhando tons de cinzento,
perdendo seu estandarte,
e os ícones da nossa arte
caindo no esquecimento.

Eu sou que nem Dom Quixote
pelo mundo pelejando.
Quando perco uma batalha
eu não fico reclamando.
Porque sei que nessa vida
minha única saída
é continuar lutando.

Eu agradeço a você
pela sua amizade
e por essas perguntinhas
tão cheias de qualidade
e digo de peito aberto:
─ Muito obrigado Gilberto,
pela oportunidade.


GILBERTO
Acaci, eu que agradeço
Por esta boa entrevista
Você é um grande artista
Por quem tenho enorme apreço
Desde que eu lhe conheço
Que tenho admiração
Você honra a ligação
Que tem com Chagas Ramalho
Parabéns por seu trabalho
Em prol da educação!


Biografia de Acaci:

José Acaci é professor, compositor, e poeta cordelista. Nascido em Macaíba/RN, herdou do pai, Chagas Ramalho, o dom e a paixão pela literatura de cordel, e da mãe, Dona Mariquinha, a sabedoria e a garra e para enfrentar as batalhas da vida sempre sorrindo.

O seu primeiro livro foi Histórias de Rio pequeno- Uma Viagem Poética sobre a História de Parnamirim”, Autor também dos CD’s Cordas e Cordéis e “Do Cordel à Embolada” e de mais de sessenta folhetos de literatura de cordel, Acaci lança agora a segunda edição de Conselhos Pra Juventude.

Desde 2006 o poeta trabalha no projeto O Uso do Cordel na Sala de Aula,que é aplicado em Escolas Municipais do Município de Parnamirim, no qual ele leva o incentivo à leitura, o estudo e a valorização do meio ambiente, o conhecimento da cultura nordestina, e a importância dos valores humanos e sociais através da literatura de cordel.

Semestralmente participa da Semana BNB de Oficinas Culturais. Projeto que leva às cidades do interior do Rio Grande do Norte, oficinas de Teatro, Rádio, Vídeo, Fotografia, Produção de Projetos e Literatura de Cordel. O projeto já foi aplicado nas cidades de Santa Cruz do Inharé, Sítio Novo, Parnamirim, Angicos e Caiçara do Norte.

Acaci é Membro da SPVA _ Sociedade dos Poetas Vivos a Afins do RN, e pela sua contribuição à cultura potiguar, já recebeu muitas homenagens de escolas públicas do RN, do SESC/RN e da Aliança Francesa, além dos títulos:

Mérito Cultural Luiz da Câmara Cascudo, concedido pela Academia Caxambuense de Letras/MG;

Mérito Poético Olegário Mariano, pela Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores e,

Consul Poeta Del Mundo, pela Organização Internacional Poetas Del Mundo, com sede no Chile. - Fonte: http://espacodocordel.blogspot.com.br/2011/11/biografia-de-jose-acaci.html

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entrevista em versos com o poeta ademar macedo - blog da apoesc


ENTREVISTA EM VERSOS COM DALINHA CATUNDA - blog da apoesc


















domingo, 12 de junho de 2016

A VIDA DE SEVERINO MATO DÁGUA EM CORDEL (Gilberto Cardoso dos Santos)


A VIDA DE SEVERINO
MATO DÁGUA

(Gilberto Cardoso dos Santos)

Há pessoas nesse mundo
que nascem para sofrer
padecem mil amarguras
tentando sobreviver
as suas vidas são livros
que todos deviam ler.

É o caso de Mato D'água
cujo nome é Severino
um homem que padeceu
desde o tempo de menino
se esforçando noite e dia
pra melhorar seu destino.

Nasceu em Brejo de Areia
em solo paraibano
seus pais bem cedo teriam
um enorme desengano
eles planejavam algo
mas Deus tinha um outro plano

O seu pai Francisco Paulo
e a mãe Maria Josina
que nasceram nas agruras
da sequidão nordestina
queriam com este filho
que Deus lhes mudasse a sina.

Afastado de seus pais
aos 3 anos de idade
Sua irmã Rita Piloto
fez essa barbaridade
levando a frágil criança
pra outra localidade

Desde cedo começou
a batalhar com coragem
apesar de tão novinho
não fazia traquinagem
seu jogo era o trabalho
nada de vagabundagem.

Não recusava trabalho
pois nunca foi preguiçoso
em tudo quanto fazia
se mostrava caprichoso
e apesar de ser tão pobre
era justo e generoso.

Tentando sobreviver
ele se tornou vaqueiro
sentia-se como rei
na sela de boiadeiro
controlando o rebanho
de algum rico fazendeiro.

E além de ser vaqueiro
lidou com agricultura
puxando cobra pros pés
suportou a vida dura
viu que o homem do campo
padece na amargura.

Foi domador de cavalos
e recordava sorrindo
dos cavalos que faziam
o que vivia pedindo
esses cavalos saudosos
chamavam-se Ringo e Lindo.

Uma outra profissão
se acrescenta à sua lista
de agricultor e vaqueiro
passou a ser motorista
deixou de guiar o gado
passou a guiar na pista.

Agora andando de carro
se fez mais farreador
tinha uma boa conversa
e era namorador
porém iria mudar
laçado pelo amor

Pois por Maria de Lurdes
se sentiu apaixonado
o grande conquistador
se sentia conquistado
pela garota bonita
que o deixou dominado

Em Boa Vista casaram
passaram lua-de-mel
Ao lado de Mato D'água
Maria estava no céu
e hoje como viúva
cumpre bem o seu papel.

As dores que padeceram
há muitos anos atrás
produziram laços fortes
serviu pra uni-los mais
como o grande acidente
de consequências fatais

Um período de tormenta
lhes estava reservado
caiu duma bicicleta
e ficou paralisado
quando bateu numa pedra
e teve o guidão quebrado

O homem antes ativo
foi obrigado a parar
a família em desespero
só fazia lamentar
temiam que Severino
não mais voltasse a andar.

A vida corria bem
mas de repente mudou
guiando o monstro de ferro
nunca se acidentou
caindo da bicicleta
paralisado ficou.

Médicos desenganaram
a família entristecida
O pobre do Severino
talvez restasse com vida
com o corpo paralisado
não havia outra saída.

Clamou a Deus por ajuda
quando o mal se abateu
e o clamor da família
no espaço não se perdeu
pois pediram a Jesus
e Ebinho apareceu.

Por seis meses Severino
ficou naquele calvário
E Ebinho, o bom amigo,
nesse tempo era bancário
para ajudar Mato D'água
tirou do próprio salário

E contrariando tudo
que o médico falou
depois de muita agonia
ele se recuperou
e com muito entusiasmo
para casa retornou.

Como fazedor de filhos
ele se demonstrou bom
Fez Josina e Sinval
Paulo, Pierre e Silon
Fez Milena e Adelmo
que faz conserto de som.

No entanto chegou o dia
dele ir pra eternidade
partiu deixando o exemplo
de amor e de amizade
e na família querida
uma crescente saudade.

Grandes coisas viveu ele
Incríveis e bons momentos
Lutou com todas as forças
Bloqueou maus  sentimentos
Esperou melhores dias
Realizou seus intentos
Todos os filhos recordam
Os seus bons ensinamentos.


quinta-feira, 9 de junho de 2016

CRISTINA MELO


SEU CORPO É UM POEMA QUE TRANSBORDA POESIA (Gilberto Cardoso dos Santos)

Seu corpo é um poema
Que transborda poesia
(Gilberto Cardoso dos Santos)

Na pele, feito suor
de sangue coagulado
Externa seu eu maior
Que dentro se acha ilhado
Mel no favo, concentrado
Tatuagem, forja fria
Em nossos olhos se enfia
fixa na mente o emblema
Você é um corpoema
Que transborda poesia

Com tato feito à distância
Pele viva, pergaminho
Olhos se fecham  na ânsia
De ler em Braille a carinho
Múltiplo é o caminho
O olfato o percorreria
A língua deslizaria
Em degustação suprema
Você é um corpoema
Que transborda  poesia

Carimbo, marca de gado
A fogo feita na mente
O olhar hipnotizado
A esta posse consente 
Fora do escrito se sente
Mais versos em sintonia
Adorável simetria
Se vê em todo o sistema
Seu corpo é um poema
Que transborda poesia.



POESIA NA PELE (Germana Zanettini)