quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Bráulio Bessa em Santa Cruz


Que evento maravilhoso
Tivemos em Santa Cruz!
Bráulio, hiper talentoso,
Espargiu bastante luz
A emoção que sentimos
Com as maravilhas que ouvimos
Nenhuma estrofe traduz.

O sujeito é bom de prosa,
Não só mestre em poesia;
A sua história exitosa
A qualquer um contagia.
Seu bom humor envolvente
E história comovente
Nos encheu de alegria.


Mônica Poggi e Bráulio Bessa
deram dicas importantes
Nós aprendemos à beça
Com estes bons palestrantes
Momentos áureos tivemos
E jamais esqueceremos
Desses momentos marcantes!


domingo, 12 de agosto de 2018

PAIEMA DE SETE FACES (Autor: Gilberto Cardoso dos Santos)


PAIEMA DE SETE FACES (Autor: Gilberto Cardoso dos Santos)

Pai nosso que estás no inferno
de um corredor de hospital:
que Deus pai, com olhar terno,
veja este drama fatal.

Papai, bebendo e fumando,
dizia sem embaraço:
- Quero que faça o que mando,
porém jamais o que faço.

O pai falho, atrapalhado,
graças a instinto profundo,
pelo filho é perdoado,
torna-se o melhor do mundo.

Um pai perfeito seria,
decerto maravilhoso,
se não fosse a homofobia
e seu machismo impiedoso.

Em sua última agonia,
o pai para a filha olhou;
e o silêncio que a feria
permanente se tornou.

Felizes, os marginais
ouvem, com prazer profundo
o "feliz dia dos pais
Para o melhor pai do mundo."

Com teu pai te revoltavas,
Pois vã foi a tua espera;
Era um homem de palavras,
Mas de palavra não era.

SANTA CRUZ, 12.08.2018


sexta-feira, 13 de julho de 2018

O OUTRO LADO DA POESIA (Gilberto Cardoso dos Santos)



O OUTRO LADO DA POESIA 
(Gilberto Cardoso dos Santos)

Às vezes a poesia
Cumpre um propósito vil.
Um poeta encabeçou
O Nazismo, tão hostil.
Convenhamos: quanto fel
Verte o poeta Michel
No governo do Brasil!


A Internet está cheia
De inspiração panfletária.
Utiliza-se a beleza
Da forma mais ordinária.
Fala-se em paz e amor,
Em futuro de esplendor,
Quando a intenção é contrária.


O poeta mercenário
Por interesses se guia.
Mas o poeta do bem
Exercita a empatia.
Com amor e simplicidade,
Asperge na humanidade
Unguento de poesia.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

PARADA NACIONAL (Gilberto Cardoso dos Santos)

PARADA NACIONAL (Gilberto Cardoso dos Santos)

O brasileiro precisa
Revisar bem seus conceitos
Pois quando é dia de jogo
Todos param satisfeitos
Como se isso importasse...
Ah se o povo parasse
Pra lutar por seus direitos!

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Fui comprar material, praticamente tudo fechado. Entregas só a partir de amanhã.
Um dos trabalhadores não veio porque ia assistir o jogo. Daí surgiu esta estrofe.



domingo, 27 de maio de 2018

A Leneide Farias, uma singela homenagem



A Leneide Farias, uma singela homenagem

A notícia me veio de longe, dos Estados Unidos. De Lenexa, alguém comunicou: “Gilberto, Leneide faleceu.”  A notícia psicologicamente me afetou de imediato; tinha o gelo cortante dos antigos telegramas, apesar dos esforços de Erílio para torná-la mais palatável. Depois disso, Marileide e outros buscaram entrar em contato comigo para fazer o triste comunicado.
Disse-me Eliel que foi um dos maiores enterros da história de Cuité.
Isso, porém não me causou qualquer surpresa, pois era de se esperar. De tanto bem semeado, não se poderia esperar inferior colheita.
Leneide mexia com vidas e da melhor maneira. Atuou no campo educacional e na saúde de modo inequivocamente brilhante.
Tive o privilégio e o prazer de ser seu aluno no Colégio Estadual. Jamais vi qualquer coisa que desabonasse sua carreira como docente. Pelo contrário: manifestava ter profunda química com a matéria que ensinava e a transmitia com entusiasmo. Invariavelmente doce no exercício da docência, entrava na classe disposta a dar o melhor de si. Algumas coisas que retenho de Química, devo-as a ela.
A partir do tempo em que com ela estudei, tornamo-nos amigos próximos. Aliás, proximidade era o que não nos faltava, pois morávamos em ruas que se interligavam. Também tinha proximidade e convívio com seu pai, Déu, com quem algumas vezes fui ao sítio, na ladeira do Olho Dágua. Como era agradável, enquanto colhíamos algo, provar do fruto do conhecimento de quem tanto contribuiria para o afloramento de meu amor à poesia!!
Leneide incentivou-me na carreira poética, pois sempre estimulava-me a continuar escrevendo e compondo. Via ela naquele jovem desvalido da beira da lagoa um potencial que nem todos conseguiam enxergar. Mais que simpática, Leneide transbordava  empatia. Vez por outra, ao voltar de Campina Grande, presenteava-me com algum alimento orgânico, substitutivo da carne, pois sabia de meu interesse pelo vegetarianismo.
Em minha formação muito devo a ela, não apenas por ter sido minha professora, mas por ter dado todo e incentivo e apoio quando fiz o vestibular. Não fosse ela, por exemplo, eu teria perdido o prazo de inscrição na UFRN!
Além de aluno, vizinho e amigo de Leneide, fui seu irmão de fé. Frequentamos por um bom tempo a Igreja Adventista. Com o tempo a abandonamos - ela bem antes que eu. Sair ou entrar na igreja não a piorou nem a melhorou, pois Leneide sempre fora a mesma. Havia nela uma ânsia por ser ética em tudo quanto fazia. Antes do batismo nas águas, já o fora no espírito, onde os verdadeiros batismos acontecem.
Era uma mulher do bem, mais preocupada com a felicidade alheia que com a própria.  Falava-me dos exames de endoscopia que tanto a desagradavam, mas isso não empanava seu sorriso, firme como uma flor em eterno desabrochar.
Eu e milhares de outros cuiteenses certamente muito nos surpreendemos ao saber de seu precoce fim. Entendemos, porém, que ela foi em paz ao último descanso, pela consciência de todo bem que fez. Perfeita em suas limitações, ela deu o melhor de si e fez um trabalho completo.
As raízes dessa saudade tão firmemente encravadas nos corações dos parentes, estendem seus tentáculos sob nós. Ao dizer “nós”, não nos parece fácil mensurar o alcance de sua (e)terna influência.  Desde sua morte, a voz de Minervina tem sido ouvida reiteradas vezes nos Estados Unidos por alguém cujos olhos têm se mantido úmidos. E o que tanto o comove são os versos feitos por Déu, seu pai, quando Leneide, chegou aos quinze anos:

“Leneide hoje completa
quinze anos de idade
Recebas de seu papai
parabéns felicidade
Esta data tão feliz
 jamais será esquecida
O dia em que nasceu
a minha filha querida

No dia em que nasceste
senti tão grande alegria
o meu coração pulsava
a minha alma sorria
ao lado da mãe querida
naquele humilde bercinho
eu sempre te contemplava
e te fazia carinho.

Não tenho prêmios nem joias
Que possa te oferecer
Somente estes versinhos
Te dedico com prazer
Receba, filha querida
Como tão simples presente
Já que tu és para mim
Uma filha obediente.

Como és estudiosa,
caprichosa e dedicada,
tens um futuro brilhante
sendo bem recompensada
a estrela do futuro
teus caminhos ilumina
com a paz, a perseverança
e a proteção divina.

Deus sempre está junto a ti
Sempre, sempre te ouvindo
Os anjos de lá do céu
Sempre te olham sorrindo
Almejo felicidades
para ti, filha querida,
Que serás minha esperança
No final da minha vida.”


 Estes versos, como disse alguém, têm uma doce singeleza, penetram os recônditos da alma. Todavia, não foram os melhores versos de seu pai. Leneide, certamente, foi o melhor poema que ele nos deixou.
Que Zé Pereira (a quem tanto admiro), seus irmãos, os talentosos filhos (Emile e Caio) e demais familiares consolem-se com o fato de que ela permanece viva nos pensamentos e corações da coletividade; pois isto é bem mais importante que emprestar seu nome a ruas ou instituições – algo também perfeitamente pertinente e profundamente desejável!
Com absoluta certeza, e no que de nós depender, Leneide perdurará na memória do cuiteense.

Gilberto Cardoso dos Santos
Filho de Cuité.
Membro da ANLiC (Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel) e Fundador da Associação de Poetas e Escritores de Santa Cruz
Santa Cruz, 26.05.2018








sábado, 27 de janeiro de 2018

MÃE ANINHA DO CÉU (Gilberto Cardoso dos Santos)


MÃE ANINHA DO CÉU (Gilberto Cardoso dos Santos)

Não era minha mãe, mas aprendi a chamá-la de mãe Ana. Quando minha verdadeira mãe morreu, eu tinha menos de quatro anos. Nada entendi daquele momento. Enquanto a velavam na casinha onde – ainda não sabia eu – passaria a morar, eu brincava e ria embaixo da mesa. Alguém me repreendeu pelo comportamento irreverente, e muito chorei por isso. Dali saiu mamãe para o cemitério, e ali fiquei sob a tutela desta segunda mãe, eu, dois irmãos e uma irmã.

Minha mãe legítima também havia sido criada por ela. Ela própria nunca teve filhos. Acreditamos que fosse estéril. A ela se referiam como Dona Ana, ou Ana do finado Mané João, a quem não tive oportunidade de conhecer.

Cedo vieram as peripécias próprias de cada idade. No telhado suportado por caibros e  varas tortas, via-se um pedaço de mangueira, pouco mais de meio metro. Não estava ali para cumprir a real função para a qual havia sido feita – a de conduzir água – todavia tirava água dos meus olhos, e como tirava!

A cada ato infracional, a cada pecado, eu era instado a olhar para o alto. Mirava, para além das telhas, para o olhar severo de Deus; mas o que eu via mesmo era a mangueira que parecia hibernar á semelhança de cobras, à espera do momento de ser empunhada pela vigorosa mão de minha avó e picar-me aparentemente sem piedade. Raras vezes ela dali a retirava. Com severidade similar à dos profetas velho-testamentários, a apontava e fazia promessas nada agradáveis. Apenas isso, o mostrá-la, tinha enorme efeito sobre meus instintos rebeldes. 

Às vezes, porém – raríssimas vezes -, eu não era dono mim e cometia falhas imperdoáveis. Mesmo a casa sendo baixa, dona Ana precisava ficar na ponta dos pés, como bailarina, e estendia o braço para retirá-la. Eram instantes enlouquecedores. Se eu tentasse correr, vinha a ameaça de que a surra seria maior. Sem sair do lugar e seguro pelo braço, aguentava a primeira lamborada nas pernas. A dor era lancinante. Eu não resistia e começava a gritar pedindo misericórdia, por mais que ela ordenasse que calasse a boca. Desde a primeira vez que apanhei passei a fazer uso de um vocativo, que espontaneamente brotava do fundo de meu desespero: Mãe Aninha do céu.

Enquanto pulava igual pipoca no caco, gritava mais ou menos assim: “Ai! Ai! Dê mais não, mãe Aninha do céu!

A cada surra, os vizinhos ouviam a expressão inusitada e isto se transformou num bordão e apelido. Riam de mim enquanto repetiam “Ai, mãe Aninha do céu!” 

Mãe Aninha do céu era algo que eu dizia apenas quando era castigado. Fora isso, chamava-a apenas de mãe Ana.


Hoje, mais do que nunca, vejo quanto foi do céu aquela que tomou conta de mim e de meus irmãos quando mais precisávamos. Se hoje pudesse vê-la, não necessitaria estar com a mangueira à mão para me ouvir chamá-la assim.  






Sua posse na academia de cordel do estado não é para menos. Estou aqui emocionada com sua crônica de família. Mãe Aninha do céu, nem sabia ela que faria desse menino, um homem de coração tão grande. Esse texto me emocionou tanto quanto aquele que você escreveu para a professora Valdenides Cabral Dias. Não consegui conter conter a sequência de lágrimas. - Débora Raquiel Lopes


Belíssimo conto, querido.  Parabéns, apesar da perda. Mas nessas horas , a escrita tem poder curador. - 
Valdenides Cabral Dias

Linda história. Por isso vc é quem é E tem tamanha sensibilidade - 
Juciana Soares

Grande professor Gilberto Cardoso Dos Santos, texto muito triste, porém não deixa de ser emocionante e belo. - Luciana Souza

Selma Crisanto: Emocionante amigo!