terça-feira, 30 de dezembro de 2014

DEZ ANOS SEM DINAMÉRICO - Gilberto Cardoso dos Santos


[...]

Em 31 de dezembro 
Na cidade de Campina 
No ano 2004 
A depressão assassina 
Levou de forma abjeta 
A esse grande poeta 
De maneira repentina. 

Dino cansou dos embates 
No mar de sua existência 
Se jogou no Açude Velho 
Num instante de demência 
A profunda depressão 
Turvou a sua visão 
Alterou-lhe a consciência.

Tinha 46 anos 
Quando a tragédia se deu 
Na cidade de Cuité 
Logo a notícia correu 
Muita gente lamentou 
Quando se noticiou: 
Dinamérico morreu! 

E assim perdemos um vate 
Digno de fulgurar 
Na história paraibana 
Por seu trabalho sem par 
E grande amor à cultura 
decerto em data futura 
Irá se agigantar.

Dino permanece vivo 
Através de seus escritos 
Uma sala em sua honra 
Contém seus textos e ditos 
Que o cuiteense aproveite 
Se aprofunde, se deleite 
Com seus poemas bonitos. 

Até um filme se fez 
Sobre o vate falecido 
Dinamérico, o Poeta 
Foi o título escolhido 
Para o media metragem 
Merecida homenagem 
Feita ao poeta querido.

Um chapéu paira nas águas
Do filme de sua vida
Chapéu que abrigou poemas
Inspiração incontida
Ao partir o menestrel
Retirou o seu chapéu
Em sinal de despedida.


ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO SOBRE SUA VIDA, DIVIDIDO EM 3 PARTES:









sábado, 27 de dezembro de 2014

UM QUADRO QUE NÃO VAI SE REPETIR - Gilberto Cardoso dos Santos

Foto tirada por  minha esposa de dentro da parte seca do açude Santa Rita, em 27.12.2014

O acaso fez no ocaso
Um quadro belo e fugaz
Todo dia ele faz
Imagens de breve prazo
Raios vindos do Parnaso
Fazem estrofes fluir
Mas tudo está a sumir
Vejo se desvanecer
Um tão belo entardecer
Que não vai se repetir.

Tudo na vida é assim
Totalmente passageiro
Irrepetível roteiro
Do começo até o fim
O que é caro pra mim
Um dia vai se esvair
A tristeza tem que vir
Para anuviar o ser
Como este entardecer
Que não vai se repetir

Uma profusão de cores
Convidativa ao olhar
Capaz de amenizar
Melancolias e dores
Em meio a tais esplendores
Dá vontade de sorrir
É preciso usufruir
Deste instante de prazer
Único, deste entardecer

Que não vai se repetir.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O INSULTO DE NATAL (Gilberto Cardoso dos Santos)



 O INSULTO DE NATAL (Gilberto Cardoso dos Santos)

Disseram que esse indulto
É um ato de clemência
Feito pela presidência
Mas considero um insulto
Pois de nós não é oculto
Que o sistema prisional
A nível nacional
Não recupera ninguém
Por isso não nos convém
O Indulto de Natal

Sai ladrão, estuprador
Assaltante e assassino
Quem alicia menino
Também recebe o favor
Cada ano é esse horror
E o povo é quem se dá mal
Sempre há um marginal
Que a prisão não redime
E pratica mais um crime
no Indulto de Natal.

Durante a festividade
O cidadão se amedronta
Pois sempre um bandido apronta
Na sua comunidade
se não há tranquilidade
em um período normal
essa data especial
o grande perigo traz
de topar com Barrabás
no Indulto de Natal.

Sei que os Direitos Humanos
Estão por trás do decreto
Que só se mostra incorreto
Devido tantos enganos
Se houvesse melhores planos
Pensando no social
Se a prisão, afinal
De fato recuperasse
Talvez o povo aceitasse
O Indulto de Natal

Para alguns é moleza
Na prisão permanecer
E sai pensando em fazer
Mais alguma safadeza
Tal lei provoca tristeza
No pobre policial
Que além de ganhar mal
Enfrenta muitos dilemas
E vê crescer seus problemas
No Indulto de Natal.

Há o indulto natalino
E a saída temporária:
Liberdade carcerária
Por um tempo pequenino
Contra isso eu opino
Mas a medida é legal
O efeito colateral
Sobra pra população
Que sofre com o Saidão
E o Indulto de Natal.

No Saidão, certamente
Poucos  desejam voltar
Para um terrível lugar
Tão apinhado de gente
No entanto o poder vigente
Com base em lei federal
A Pilatos faz igual
Solta a quem não deveria
E mais um problema cria
No Indulto de Natal

Eu não sou contra os direitos
Mas se o país é sério
Precisa usar um critério
Que provoque bons efeitos
Combater os preconceitos
É pra nós essencial
No seu estágio atual
Esta lei está errada
E devia ser chamada
De Insulto de Natal.




30% DOS PRESOS, BENEFICIADOS PELO SAIDÃO DE NATAL, NÃO VOLTARAM PARA OS PRESÍDIOS, DADOS DO ANO PASSADO



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A MAIOR NECESSIDADE DO NATAL - Gilberto Cardoso dos Santos



“[...] quando eu estava lendo o Sermão da Montanha e vendo os altos padrões de Jesus Cristo, os grandes valores e sem os quais já teríamos todos nos matado, quando eu li “Ame seu inimigo” aquilo fez perfeito sentido para mim.” – Mossab Hassan, ex-muçulmano, filho de um dos líderes do Hamas. 


Após espantar-me ao ouvir um intérprete do Corão explicando que comemorar o natal é mais grave que fornicar, beber ou matar; depois de saber que radicais islâmicos queimaram cerca de 1200 carros - só na França – em 2013, por ocasião dos festejos natalinos; após ler a notícia de um atropelamento intencional de onze pessoas em Dijon feito por um maometano e de um outro que feriu a três policiais no dia anterior enquanto louvava a Alá; ao ser impactado pelo assassinato de 145 pessoas numa escola cristã do Paquistão, a maioria crianças, eu comecei a desejar a presença  de Jesus em  nossas celebrações.

Sim, eu ansiei ver aquela manjedoura no centro de nossas vidas encurraladas, cercadas por tantos becos sem saída. Vi que falta a paz do primeiro presépio em nossas festividades. Há excesso de ouro, talvez, mas sabemos que muito dessa riqueza não resistiria ao acrisolamento. Precisamos urgentemente desligar os carros de propaganda, os paredões de som e a poluição sonora das igrejas para ouvir o riso ingênuo, o choro, os gemidos de dor e os roncos da fome dessa criança que se mostra onipresente e pode estar tremendo de frio ou de medo no Iraque, no Paquistão, na França ou nalguma favela do Brasil, em qualquer corpo.

Enquanto ouço Noite Feliz, que me fala de um momento utópico, sinto que desesperadamente carecemos do Messias e de sua mensagem em nossos dias, como carecemos de uma boa música. Mesmo que alguém pense que ele nunca existiu ou que foi diferente do que nos fazem pensar, urge que marque presença agora, com a humildade e amor que lhe são atribuídos, que de fato renasça a cada natal e nos lance aquele olhar que aquece o coração.
Alberto Caieiro, heterônimo de Fernando Pessoa, teve um encontro com esse menino. Diz-nos ele:

Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
[...]


Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.


A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

[...]


Precisamos dum encontro dessa natureza com o menino Jesus. Há homens loucos em nosso dias, dispostos a estragar ou destruir nossas vidas e as deles por uma causa insana. Como os modernos cristãos, eles têm uma falsa visão do Jesus a quem dizem respeitar e a quem os ocidentais dizem adorar.
Há um ódio exposto em seus semblantes que só as carícias desse menino poderiam dissipar, suas mãozinhas talvez pudessem deter seus dedos e mantê-los longe dos gatilhos. Uma vez que não dão lugar à fria razão, somente a presença dele poderia trazer pureza e sossego ao curral imundo de suas consciências. A pensadora Ayaan Hirsi, ex-muçulmana, reconhece a  importância da cultura cristã em sua versão atual, e crê no papel positivo que ela pode ter em melhorar o mundo. Por isso, quando um destes radicais aceita Jesus, faço coro aos louvores cristãos. Gostaria de vê-los aos milhares vindos do Oriente como os magos, encurvados perante a manjedoura.

Nosso natal, tão enfeitado pelas cores da hipocrisia, vergonhosamente explorado por gananciosos empresários e igrejas, desperta o ódio e o desprezo de muitos, até de nós mesmos, quando intimamente o observamos. Enquanto cantamos e maquinalmente nos saudamos, fanáticos avançam impunes estragando o natal e o resto da vida de gente desprotegida.


Necessitamos com urgência fazer algo para que o Natal seja o que deveria ser.



 Veja o vídeo:  https://www.youtube.com/watch?v=j3CFOW7rxWg



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

VERSOS PRA MINHA MULHER - Gilberto Cardoso dos Santos


Maria “dulce” Maria
Bela na simplicidade
Minha fonte de alegria
Sossego e felicidade
Que tem todo meu respeito
Ela só tem um defeito:
“d” feito no nome AnDrade.

Quem a conhece descobre
O quanto é inteligente
Seu comportamento nobre
Mostra o quanto é prudente
Eu tive bastante sorte
Pois mulher com esse porte
Não se acha facilmente.

Acho seus olhos tão belos
Gosto de seu bom humor
E nos seus gestos singelos
Vejo expressões de amor
Digo no verso e na prosa
É uma mulher virtuosa
De inegável valor.

É minha melhor amiga 
além de esposa amada
se às vezes a gente briga
é uma briguinha de nada
que logo se desvanece
quando ela me aquece
no frio da madrugada.



domingo, 14 de dezembro de 2014

MULHERES ESTENDENDO PANO

Pintura de  Wagner di Oliveira

Mulheres estendem panos
Enfrentam grande peleja
Ventos perturbam seus planos
Mas para quem as corteja
Numa exposição qualquer
O vento sopra onde quer
Mostra o que o olhar deseja.

O pincel com sutileza
faz algo extraordinário
Um cheiro bom de limpeza
se espalha no imaginário
de ondulante magia
se reveste a ventania
no quadro extraordinário.






domingo, 30 de novembro de 2014

Black Friday no Brasil Foi feito pra enganar. - Gilberto Cardoso dos Santos


Pague cinquenta por cento
Do preço que foi dobrado
Deixe o comércio animado
Dê às vendas incremento
Vamos! Não seja avarento
Aproveite pra comprar
É hora de renovar
Com promoções nota mil
Black Friday no Brasil
Foi feito pra enganar.

Na onda do vendedor
Que quer sugar seu dinheiro
Você vai surfar maneiro
Por um preço tentador
A fila está um horror
Mas vale a pena esperar
Temos que economizar
Tal promoção não se viu
Black Friday no Brasil
Foi feito pra enganar.

Fique com a sensação
De que faz um bom negócio
Não dê uma de beócio
Aproveite a ocasião
Pois tão grande promoção
Em breve vai acabar
Mesmo se não precisar
Compre! O preço caiu!
Black Friday no Brasil
Foi feito pra enganar.

Minha sala renovei
Quarto, despensa e cozinha
Gastei tudo quanto tinha
Também me endividei
Acho que exagerei
No vermelho vou ficar
Na próxima vou me cuidar
Não caio mais nesse ardil
Black Friday no Brasil
Foi feito pra enganar

sábado, 15 de novembro de 2014

OS OLHOS DE RUBEM ALVES - Gilberto Cardoso dos Santos


Quando Rubem Alves cerrou para sempre as pálpebras, eu me perguntei: Onde haverá, na face da Terra, alguém capaz de vislumbrar o mundo exatamente como o Rubem via? Quanta aptidão tinha ele em despir uma cebola e ver-lhe a alma desnuda.

Por um tempo ele viu o mundo como nós; teve vista fraca para o que é essencial. Foi pastor protestante sedento por epifanias, professor universitário obcecado pela cientificidade da expressão linguística... mas, como aconteceu com o apóstolo Paulo, escamas caíram-lhe dos olhos.

Não se sabe exatamente quando, foi elevado até o mais alto céu e teve encontro pessoal com a poesia. Aprendeu a pressenti-la em tudo. O ouro descoberto por ele, que a tudo permeava, pertencente a um reino encantado, seria distribuído entre os educadores. A “aura” das coisas, aquilo que traz transcendência ao que é comum, que sempre escapa aos olhos enfeitiçados por bijuterias. Rubem, duplamente mineiro, sempre soube cavar no lugar certo. Mas não se sabe ao certo se ele de fato encontrava ouro ou descobrira a pedra filosofal. 

O que se sabe é que sua poesia, por ser tanta, não cabia em versos e alargava a forma das estrofes. A poesia se espalhou em sua prosa, decretou posse de seu ser e contaminou todo seu discurso. Não havia mais lugar para o pastor condicionado por viseiras religiosas, para o acadêmico árido, fanatizado por uma outra Bíblia, manietado, cioso do que deveria escrever. Nascia o Zaratustra da educação, aquele que nos falaria no idioma dos anjos.

Cerrávamos as pálpebras para ouvi-lo porque gostávamos de ver o mundo através de seus olhos. Cá embaixo, nos vales de nossa rotina educacional, deleitávamo-nos como eco de sua voz, vindo das montanhas. Éramos bem-aventurados.

Resta-nos agora treinar os olhos, adoecê-los, aflitivamente umedecê-los com o ácido das cebolas, pois necessitamos encarecidamente continuar a ver as coisas como ele as via. Do contrário, assim como morreu Rubem, morrerão os educadores. Que todo professor delire ao ponto de ver a aura única, especial, que envolve a cada aluno. O príncipe no sapo, a borboleta na lagarta, o pão na pedra.

Sejamos versos e estrofes onde a poesia livremente possa se despejar. Só assim haverá vida em nossas classes. E Rubem poderá descansar em paz...

OS OLHOS DE RUBEM ALVES - Gilberto Cardoso dos Santos


Quando Rubem Alves cerrou para sempre as pálpebras, eu me perguntei: Onde haverá, na face da Terra, alguém capaz de vislumbrar o mundo exatamente como o Rubem via? Quanta aptidão tinha ele em despir uma cebola e ver-lhe a alma desnuda.

Por um tempo ele viu o mundo como nós; teve vista fraca para o que é essencial. Foi pastor protestante sedento por epifanias, professor universitário obcecado pela cientificidade da expressão linguística... mas, como aconteceu com o apóstolo Paulo, escamas caíram-lhe dos olhos.

Não se sabe exatamente quando, foi elevado até o mais alto céu e teve encontro pessoal com a poesia. Aprendeu a pressenti-la em tudo. O ouro descoberto por ele, que a tudo permeava, pertencente a um reino encantado, seria distribuído entre os educadores. A “aura” das coisas, aquilo que traz transcendência ao que é comum, que sempre escapa aos olhos enfeitiçados por bijuterias. Rubem, duplamente mineiro, sempre soube cavar no lugar certo. Mas não se sabe ao certo se ele de fato encontrava ouro ou descobrira a pedra filosofal. 

O que se sabe é que sua poesia, por ser tanta, não cabia em versos e alargava a forma das estrofes. A poesia se espalhou em sua prosa, decretou posse de seu ser e contaminou todo seu discurso. Não havia mais lugar para o pastor condicionado por viseiras religiosas, para o acadêmico árido, fanatizado por uma outra Bíblia, manietado, cioso do que deveria escrever. Nascia o Zaratustra da educação, aquele que nos falaria no idioma dos anjos.

Cerrávamos as pálpebras para ouvi-lo porque gostávamos de ver o mundo através de seus olhos. Cá embaixo, nos vales de nossa rotina educacional, deleitávamo-nos como eco de sua voz, vindo das montanhas. Éramos bem-aventurados.

Resta-nos agora treinar os olhos, adoecê-los, aflitivamente umedecê-los com o ácido das cebolas, pois necessitamos encarecidamente continuar a ver as coisas como ele as via. Do contrário, assim como morreu Rubem, morrerão os educadores. Que todo professor delire ao ponto de ver a aura única, especial, que envolve a cada aluno. O príncipe no sapo, a borboleta na lagarta, o pão na pedra.

Sejamos versos e estrofes onde a poesia livremente possa se despejar. Só assim haverá vida em nossas classes. E Rubem poderá descansar em paz...

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"SOBRE INQUIETUDES - IELMO MARINHO EM VERSOS" E SEU AUTOR

Tive o prazer de receber do escritor Gustavo Santos, que além de poeta é comunicador, professor e mestrando em educação, um livro autografado  intitulado Inquietudes – Ielmo Marinho em Versos.

Trata-se de uma leitura agradável, destas que despertam o apetite em leitores fastiosos - 50 poemas ao todo - em que o autor trata de paisagens, momentos e pessoas que falam com eloquência ao seu receptivo coração.

A Gustavo Santos coube o privilégio de ser o pioneiro das publicações literárias em Ielmo Marinho e a grande oportunidade de fotografar a rica subjetividade de uma gente simples, poética em sua essência. Poesia tem que ter alma, e a alma de Ielmo Marinho adquire corpo nestas páginas belamente ilustradas.

Além de merecer parabéns pela qualidade do livro e por sua habitual simpatia, Gustavo é digno de encômios por sua ideia de fazer escambo dos livros por comida - 3 kilos de alimento não perecível generosamente distribuídos -  podendo, assim, nutrir espíritos e corpos com sua obra.

Eis dois poemas de Inquietudes – Ielmo Marinho em Versos:

DOMINGO, EM IELMO MARINHO 

Amanhece o domingo,
Ielmo Marinho se desperta.
A natureza, como sempre,
com sua excelência,
sorri um novo dia.
Nos oferece
sua exuberante beleza

Choveu, um pouco, à noite.
O verde se espreguiça,
lentamente, a acordar.
A pedra fria
espera o sol chegar.

Nós encontramos uma cultura.
Estatuetas e jarros de barro.
Valioso e insaciável,
de nosso próprio respirar!
De nosso próprio viver...

Enquanto...
Um domingo amanhecer!

Foto de Ielmo Marinho meramente ilustrativa, adquirida na internet

EU QUERO

Quero beber
da água cristalina
que chega ao povo ielmo-marinhense...
Sorrisos e gargalhadas.

Quero o abacaxi
desse povo trabalhador,
vendendo na estrada de Umari,
a rotina.

Quero a carne seca
do feijão verde
em caldeirão de barro.

Quero ter boa vista,
boa prosa,
o silêncio que encanta e contagia.

Foto ilustrativa de Ielmo Marinho, maior produtor de abacaxi do RN

O poeta Gustavo Santos distribuindo alimentos adquiridos em trocas por seus livros

Orelha do livro INQUIETUDES

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

PADRE ALESSANDRO CAMPOS NO LIXÃO DE BRASÍLIA - Gilberto Cardoso dos Santos


Estou me sentindo forçado a conhecer mais e mais sobre padre Alessandro Campos. Nas ruas de Santa Cruz, principalmente aos sábados, é impossível não ouvir

"O que que eu sou sem Jesus?
Nada, nada, nada
Sem Jesus o que que eu sou?
Nada, nada, nada"


O povo costuma fazer coro à resposta. Involuntariamente, não resisto à tentação de completar a música. Acho que aquilo faz bem à feira. Traz uma sensação de paz aos que ali circulam, a julgar pelo que vejo nos semblantes. Obviamente, alguns se irritam com o alto volume e repetitividade, mas no geral o saldo é positivo. As músicas que anteriormente tocavam nos carrinhos de cds piratas eram horríveis.

Minha sogra é fã desse clérigo. Costuma ouvir tudo que ele canta e fala. Foi quem me indicou o vídeo, gravado em um lixão de Brasília.

Ao ver a reportagem intitulada "O padre na pele do povo" lembrei do seguinte trecho bíblico:

"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz." - Filipenses 2: 5 a 8  

Num certo sentido foi isso que o padre fez: despiu-se do luxo e glórias que a função lhe confere e buscou igualar-se aos menos favorecidos, ainda que temporariamente. Nosso mundo carece mais e mais  dos que se põem na pele dos outros para conhecer mais de perto seus dramas. A empatia parece  imprescindível nos dias de hoje.
Fico imaginando o que este líder religioso pensa ou deveria pensar vendo tantos irmãos - todos católicos - vivendo em condições tão desfavoráveis. 

Chamou-me a atenção o momento em que o padre perguntou a um dos catadores: 

- O que você encontrou aqui de mais importante?

E a resposta:

- Minha família. Foi aqui que eu conheci minha mulher.

A reportagem trouxe-me também à lembrança os seguintes poemas:

Além da Imaginação
,
Tem gente passando fome.
E não é a fome que você imagina
entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina
entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina
entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança.
E não é o desalento que você imagina
entre o pesadelo e o despertar
Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina
entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina
entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina
entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece
imaginação.


(Ulisses Tavares)

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem


(Manuel Bandeira)

Em suma, a reportagem nos traz à reflexão uma realidade para a qual pouco atentamos.Há um outro Brasil que precisa ocupar mais as manchetes. Parabéns ao padre e à TV Aparecida.




sexta-feira, 22 de agosto de 2014

HOMENAGEM A RAUL COM BOI-DO-REI

Quadro feito por  Wilard Monteiro em homenagem ao falecido Mestre Antônio da Ladeira no show do dia 21.08.14 da Banda Geração Perdida. O quadro foi feito ao vivo, perto do término do show, no palco. Parabéns ao artista e à banda pela merecida homenagem.


Mestre Antônio da Ladeira
Ressurge em show pra Raul
Recomeça a brincadeira
Junto com seu boi azul.
Na tinta vai deslizando
Colorindo e encantando
Como numa holografia
Enquanto o pincel desliza
Sombras materializa
E o que resta é poesia.



VEJA TAMBÉM

Belíssimo e espaçoso sítio às margens do açude do DENOCS (Açude Novo) de Santa Cruz, próximo ao centro da cidade e IFRN, com 2,6 hectares. Terra fértil com benfeitorias e pomar. Para maiores detalhes, entre em contato pelo e-mail gcarsantos@gmail.com ou fone (84) 9901-7248



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

UM POUCO SOBRE HUGO TAVARES - Gilberto Cardoso dos Santos


A FM Santa Rita
Que dá voz aos esquecidos
Tem feito obra bonita
Em favor dos excluídos
Denunciando dilemas
Corrupções e problemas
Sociais não resolvidos.

E foi graças à ação
Resistente e libertária
Que saiu a concessão
da rádio comunitária
graças a Hugo Tavares
traz a FM aos lares
programação solidária.

Por ela veio a ser preso
Porém firme resistiu
Não se mostrou indefeso
Com sua voz reagiu
E após batalhas diversas
Venceu forças adversas
E à rádio conseguiu

Um dos sócios-fundadores
Da Rádio Comunitária
Falou-me dos seus labores
Da luta quase diária
Que Hugo empreendeu
Até que prevaleceu
Contra a força monetária

As conquistas sociais
Que Hugo tem alcançado
Provam do que é capaz
Esse poeta arretado
Naquilo que empreende
Ele sempre surpreende
o sucesso é alcançado.

Decerto em sua luta
Tem sofrido frustrações
Mas prossegue na disputa
Por melhores condições
Pra toda sociedade
Luta com tenacidade
Sem temer oposições.  

Pela sua inteligência
recebeu destaque e glória
Sem esquecer a decência
Com que viveu sua história
Altruísta e singular
Digna de figurar
No pavilhão da memória.

Hugo foi participante
De diversos festivais
Sua canção militante
Sempre a mensagem traz
Necessária e salutar
De que é preciso lutar
Por avanços sociais

Por diversos segmentos
Hugo foi condecorado
Em diferentes eventos
Ele tem sido aclamado
Por seu valor cultural
E trabalho social
A que tem se dedicado

As cartilhas que publica
Já viraram tradição
Em versos ele explica
O dever do cidadão
Sobre o voto intransferível
E faz um trabalho incrível
De conscientização.

Pra que universitários
Pudessem ter residência
Enfrentou adversários
Batalhou com veemência
Também merece destaque
A luta em prol do Crutac
enfrentada com decência.

O vate cheio de fé
Foi na escola influente
militou no DCE
Como vice-presidente
Ali fez coisas marcantes
Com certeza impactantes
De efeito permanente

Sua luta sindical
Também merece menção
Um papel fundamental
Teve na implantação
No Rio Grande do Norte
De um sindicato forte
Em sua repartição.

Pelas águas do Bonfim
Hugo muito batalhou
Deu um retumbante sim
Ao que o padre pregou
Graças à sua ação
No “água não, voto não”
A água doce chegou.

Hugo precisa saber
De sua grande importância
Do bem que veio a fazer
Com a sua militância
sua bela trajetória
se mostrará meritória
Terá grande relevância.

terça-feira, 29 de julho de 2014

RUBEM ALVES E ARIANO - Gilberto Cardoso dos Santos


Rubem Alves e Ariano
Dois grandes educadores
Poetas e prosadores
Exemplos de ser humano
mineiro e paraibano,
com linguagens diferentes,
prosadores envolventes,
cheios de sabedoria
destilaram poesia
no coração dos viventes.
                                           
Cumpriram uma missão
De resultado inconteste
Um defendeu o Nordeste
O outro a Educação
Eram homens de visão
E inegável bondade
Com toda simplicidade
Buscavam nos ensinar
Que é preciso batalhar
Pelo bem da humanidade.

Um com a prosa mineira
e o outro sempre engraçado
com seu sotaque pesado
erguendo a nossa bandeira
A cultura brasileira
certamente empobreceu
quando essa dupla morreu
feriu nossos corações
só nos restam as lições
que cada um deles nos deu.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O PERIGO DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO




Que terrível crueldade
Em nome de um Deus de amor
Homens que pregam terror
E fazem tanta maldade
Não têm qualquer piedade
Sentimento de altruísmo
Demônios do sexismo
Infernizam a existência
São filhos da violência
Escravos do fanatismo.

Acho desesperador
Imaginar que o futuro
Poderá ser obscuro
Um verdadeiro terror
Religiões sem amor
Estão em franca expansão
Causam dor e divisão
Em toda a sociedade
levando a humanidade
À autodestruição.

Precisamos encontrar
Um jeito de reagir
Se a gente não se unir
A coisa vai piorar
O mal pode prosperar
Pela nossa indiferença
Creio que nem toda crença
Mereça o nosso respeito
Precisamos dar um jeito

Antes que o mal nos vença!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O GRANDE LEGADO DO FINADO ARIANO - Gilberto Cardoso dos Santos


Não tive a oportunidade de conhecer Ariano Suassuna pessoalmente. Conheci-o literariamente, através de A Pedra do Reino, de O santo e a porca, do filme O auto da compadecida, de seus poemas... mas principalmente conheci-o através de algumas palestras suas disponíveis na internet.

Creio que seu principal legado tenha sido o de elevar a autoestima do nordestino. Ele resguardou-nos de desenvolvermos um infundado complexo de inferioridade em relação às demais regiões do Brasil e do mundo. Sua ferrenha defesa não era apenas da cultura nordestina, mas do Brasil. Dizia ele dos mais variados modos e sempre com gracejo que não temos razão alguma para envergonhar-nos de nossas raízes e supervalorizar o que vem de fora.


Era alguém que brigava por nós. Brigava  brincando, feito um hábil lutador.

Seu sotaque pernambucano, propositalmente carregado, era um convite a assumirmos nossa nordestinidade. Por seu exemplo, dizia-nos ele que não devemos nos envergonhar do modo como falamos, da maneira que somos. Sua luta, ignorada por muitos que se acham cultos e até mesmo por educadores, tem o respaldo da moderna linguística.

Num mundo globalizado, não temos que nos igualar, prestar subserviência a uma cultura supostamente superior e renunciar ao nosso folclore. Pelo contrário: é preciso que nos apeguemos mais firmemente às diferenças, que salientemos nossas riquezas imateriais para que o mundo, tendente à uniformidade, continue colorido e rico em seus diversos aspectos e segmentos. Que prossiga a confusão de línguas iniciada lá em Babel e cada um de nós enraíze-se mais e mais na dimensão histórica e geográfica que nos coube.

Ariano Suassuna foi bem mais que um nordestino engraçado. Era uma porta aberta no presente que escancarou diante de nós os tesouros que havíamos trancafiado no quarto de despejos. Modernidade pra ele só tinha valor quando não atentava contra a cultura popular. E quem disse que a cultura popular era detentora de uma arte inferior, digna de nossa complacência? Mestre Ariano colocou-a em pé de igualdade com todas as outras e até um pouco acima. Entre uma culta tragédia grega e um ritual de dança indígena, ele ficaria com a segunda opção. A Grécia e o Egito até poderiam nos dizer alguma coisa, mas seria através das vozes de João Grilo, Chicó, Pedro Malazartes e outros tantos personagens dos folhetos de cordel.

Era impossível não gostar de nós mesmos quando ouvíamos Ariano! Ele nos abria os olhos para o  que temos de melhor.

Ariano se foi, mas antes de ir deixou-nos curados. Foi um psicanalista que bem cumpriu o seu papel. É hora de sair do divã e assumir nossa matutice.  Não mais precisamos que alguém nos diga a importância que temos, pois sua voz  ecoará dentro de nós sempre lembrando-nos disto.