Buscando o Cristo Crucificado um Pecador com Verdadeiro Arrependimento
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
Satyra
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Doutor Gregorio gadanha,
Pirata do verço alheyo
Callo, que ao mundo tem cheyo
De Satyras, e patranha:
Ja se conheceo a maranha
Das Poezias que vendes
Por tuas, quanto as pertendes
Traduzir de castelhano,
Naõ te envergonhas magano?
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Cuida o mundo, que são tuas
As Satyras, que accomodas
Inda que o que vendo a todas
Pode chamar obras suas:
Os rapazes pellas ruas
O andão publicando ja,
E o mundo vaya dedà
Quando vê tal desengano,
Naõ te envergonhas magano?
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O soneto que mandaste
Ao Arcebispo elegante
Do de Gongora ao Infante
Ao Cardeal lho furtastes:
Naõ sey como te chamaste
O mestre da Poezia
Furtando mais em hum dia
Que mil ladrões em hum anno.
Naõ te envergonhas mangano?
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Falla de ti que so tens
Que fallar de ti Gregorio
A todo o mundo he notorio,
Que tens males, e naõ bens:
Naõ queiras por te aos itens
Com quem sobre castigar te
Sey hade esbofetearte,
E com este desengano
Naõ te envergonhas magano?
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