quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A FAUNA DE MADEIRA - Gilberto Cardoso dos Santos




Cedo, na feira, um idoso apossou-se da banca onde tradicionalmente víamos legumes à venda. O dono não viera, e ele aproveitou o espaço para expor seus bichos de madeira.

Duas espécies: pebas e tartarugas. Peças pequenas, pintadas com cores vivas, balançavam as cabeças em obediência aos comandos do vento.

Achei aquilo significativo (estávamos em período eleitoral). Quanto ao vendedor, doutra cidade, mostrava-se alheio ao contexto político local. Perguntei-lhe se não trouxera algum jacaré.

- Jacaré?! – Estranhou.

Expliquei-lhe a razão. Ele fez um olhar de quem vislumbrou boa oportunidade de negócio.
- Deixe comigo, disse-me. Na outra semana venho e trago um bocado.

Mais ou menos às 11 horas, retornei à banca e encontrei-o radiante:
- Trouxe duzentas peças e só faltam essas, acredita?

Na banca, restavam cerca de 20 pebas. Tartarugas havia muitas, quase todas.
- Na semana que vem, repetiu o homem, vou trazer um bocado de jacaré e peba, você vai ver!
Aconselhei: - Se puder, traga também estrelas e vassourinhas.

- Estrelas... Vassouras...  É? Tá certo.

Perguntou-me, então, a cor que os bichos haviam adquirido na região. Falei-lhe do verde e do azul. O peba, apesar de ser cor de laranja, vendera bastante.

Nossa conversa foi interrompida pelo carro de som:

“Uau! Uau! Uau!
Aqui quem manda é o bacurau!”

Os olhos do vendedor brilharam:

- Mais um bicho,  é?


- Sim, expliquei. - É a versão alada do jacaré, o réptil com asas. E acrescentei: - Na África há um pássaro  muito amigo do jacaré; entra em sua boca  e limpa seus dentes. Jacaré e bacurau por aqui trabalham em conjunto, são a mesma coisa.

- É mesmo?! – Disse admirado. - Se der certo vou trazer uns também! Tartarugas eu trago menos, não é? - perguntou-me.


- É... Mas não deixe de trazê-las. Servirão para representar boa parte dos eleitores - lentos em entender o contexto político em que vivem.

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