Cedo, na feira, um idoso apossou-se da banca onde tradicionalmente víamos legumes à venda. O dono não viera, e ele aproveitou o espaço para expor seus bichos de madeira.
Duas espécies: pebas e tartarugas. Peças pequenas, pintadas com cores vivas, balançavam as cabeças em obediência aos comandos do vento.
Achei aquilo significativo (estávamos em período eleitoral). Quanto ao vendedor, doutra cidade, mostrava-se alheio ao contexto político local. Perguntei-lhe se não trouxera algum jacaré.
- Jacaré?! – Estranhou.
Expliquei-lhe a razão. Ele fez um olhar de quem vislumbrou boa oportunidade de negócio.
- Deixe comigo, disse-me. Na outra semana venho e trago um bocado.
Mais ou menos às 11 horas, retornei à banca e encontrei-o radiante:
- Trouxe duzentas peças e só faltam essas, acredita?
Na banca, restavam cerca de 20 pebas. Tartarugas havia muitas, quase todas.
- Na semana que vem, repetiu o homem, vou trazer um bocado de jacaré e peba, você vai ver!
Aconselhei: - Se puder, traga também estrelas e vassourinhas.
- Estrelas... Vassouras... É? Tá certo.
Perguntou-me, então, a cor que os bichos haviam adquirido na região. Falei-lhe do verde e do azul. O peba, apesar de ser cor de laranja, vendera bastante.
Nossa conversa foi interrompida pelo carro de som:
Aqui quem manda é o bacurau!”
Os olhos do vendedor brilharam:
- Mais um bicho, é?
- Sim, expliquei. - É a versão alada do jacaré, o réptil com asas. E acrescentei: - Na África há um pássaro muito amigo do jacaré; entra em sua boca e limpa seus dentes. Jacaré e bacurau por aqui trabalham em conjunto, são a mesma coisa.
- É mesmo?! – Disse admirado. - Se der certo vou trazer uns também! Tartarugas eu trago menos, não é? - perguntou-me.
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