Ensinaram-me, quando adolescente, que deveria manter-me longe das discussões políticas. É provável que o leitor também, alguma vez, tenha sido incitado a não se meter em controvérsias partidárias. Eu e você já nos cansamos de ouvir muitos que, manifestando profundo asco, dizem: “Odeio política!”
De fato, quando pensamos nos desmandos comuns às três esferas do poder, somos possuídos pela indignação. As muitas decepções que tivemos sempre que apostamos neste ou naquele candidato, leva-nos a olhar com asco para a política. Todos “são farinha do mesmo saco”, como bem metaforiza a sabedoria popular. A expressão bíblica “não há um justo, nenhum sequer”, tirada de seu contexto, parece perfeitamente aplicável ao mundo da política. Pensar em política, para a maioria, é pensar em hipocrisia, em corrupção, em bandalheiras, em injustiça social, em mentiras. A palavra POLÍTICA fica ao nível de termos que provocam ojeriza.
No entanto, quando bem se analisa, percebe-se que ninguém, de fato, odeia a política. Odeia-se, sim, os maus políticos, as tramóias partidárias, as medidas tomadas ao arrepio da lei, as inomináveis flexões que são feitas a artigos constitucionais para garantir a impunidade de apadrinhados. Odeia-se, em suma, a politicalha e jamais a política. O homem, como observou o filósofo Aristóteles, é um ser político e social. A vida em sociedade exige-lhe ter tal característica. Rui Barbosa, no célebre texto em que busca diferenciar política de politicalha, afirma: “A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis”. Já a politicalha, diz ele, “é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis.”
Quem discordará e se oporá a tais definições? Quando falamos mal do jogo sujo, dos conchavos partidários, do desvio de verbas e do riso hipócrita daqueles que só nos buscam em tempo de campanha, é de politicalha que estamos falando. Sabe a raiva que eu e você sentimos daqueles que retiram o voto para que determinada CPI não ocorra, e isto por causa de pressões daqueles que, no passado, já foram exemplo de moralidade? É de politicalha que estamos tratando aqui, não de política. Quando vemos baixarias nos debates públicos, é politicalha o que estamos vendo.
A política, na verdade, beneficia a todos e se faz imprescindível à vida em sociedade. O problema é que fomos induzidos a misturar o genuíno com o falso, a confundir a verdade com a mentira, a reagir negativamente, como numa experiência pavloviana, a tudo que esteja relacionado a tal termo, devido tanto e tanto convivermos com a politicalha. Mantenhamos a política ao menos como ideal utópico, inatingível em seu sentido absoluto mas em parte alcançável. Sufixemos, com letras garrafais e em negrito , tudo que seja classificado como política mas que bem mereça rimar com tralha. Busquemos, como sugeriu Rui, contribuir para a higienização do país, do estado e da comunidade, praticando e promovendo a verdadeira política. Nada de odiá-la. Nós sempre a amaremos, a desejaremos e precisaremos dela.
GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS
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