sábado, 2 de abril de 2016

ENTREVISTA EM VERSOS COM DALINHA CATUNDA - Gilberto Cardoso dos Santos

ENTREVISTADA: DALINHA CATUNDA (DC)  
ENTREVISTADOR: Gilberto Cardoso dos Santos (GCS)



GC: Cara Dalinha Catunda,
Poetisa e cordelista,
Quero, em forma de cordel,
Fazer-lhe esta entrevista
Rainha dos menestréis,
Fale-nos de seus cordéis
Esboce uma mini lista.


DCGilberto, caro poeta
Eu agradeço o convite
E fico lisonjeada
Com a proposta acredite
Vou puxar pela memória
E lhe contar minha história
Se a musa assim me permite.

Dos cordéis que escrevi
Bem mais de cinquenta são
O mais ilustre de todos
É a Invasão do Alemão
Tem pelejas virtuais
Até sobre animais
E o cordel do Lampião.

GCS: Como foi a sua infância?
Tem alguma formação?
Fale-nos de sua origem
Do que traz-lhe inspiração
A rimar, quando aprendeu?
Como se desenvolveu
Essa tão grande paixão?

DC: Tive uma infância feliz
menina do interior
Tomando banhos de rio
Vendo seca ou mata em flor
Foi vendo o cio dos bichos
Que aprendi sobre amor

Minha maior formação
Foi na escola da vida
Desde cedo eu já me achava
Menina muito sabida
Primário e ginasial
Eu fiz até o final
Pra depois pegar na lida

Meu pai foi comerciante
Dono de terras também
Minha mãe foi professora
E faz versos muito bem
De tronco tradicional
Saí da terra natal
Pois queria ir além.

Eu já nasci poetisa
E isso tenho certeza
Minha inspiração maior
Eu tiro da natureza
As regras eu aprendi
Com cada vate que li
Usando minha destreza.

Foi lendo Gonçalves Dias,
E Catulo da Paixão
Também Juvenal Galeno
Naqueles tempos de então
Que fiquei apaixonada
E percorri a estrada
Onde abrolha a criação

GCS: Qual é o lema de vida
Desta mulher inspirada?
O que espera alcançar
Em sua breve jornada?
Como se definiria?
E por que a poesia
A deixa tão animada? 

DC: É ter o meu pé no chão
E cabeça na poesia
Temperar a realidade
Com sonhos de cada dia.
É viver nesse universo
Me alimentando de verso
Sem ter medo da porfia.

Na arte de versejar
Eu sei que sou corajosa
Meu verso é apimentado
Sou vate de mote e glosa
Nunca corro da peleja
Meu sangue de sertaneja
É  que me faz orgulhosa.

A poesia me permite
Viver muitos personagens
Viver mundos diferentes
Fazer mais de mil viagens
A ser muitas me ensina
Por isso ela me fascina
Essas são suas vantagens.

GCSFale-nos sobre o cordel
E da tecnologia
Hoje há, na Internet,
Muito verso e cantoria
Há aspectos positivos
Também outros negativos?
O que você nos diria?

Hoje muita gente acha
Que sabe fazer cordel
Bota seus versos na rede
Mas a regra não é fiel
Pois cordel tem sua norma
E aquele que revoga
Não faz bonito papel.

É claro que a internet
Pro cordel facilitou
Hoje ele ganha mundo
E muito se alastrou
A peleja virtual
Tá na rede e é real
Muita gente aprovou.

GCS: Você tem uma cadeira
Dentro da ABLC
Como se deu sua entrada?
Quem que convidou você?
Você pensou que algum dia
Tanto sucesso faria
Como o que hoje se vê?

DC: Comecei a frequentar
A sede da Academia
E sempre nas plenárias
Declamava poesia
Doutor Willian então,
Ivamberto e Aragão
Deram-me a mordomia.

Não sei se faço sucesso
Mas atirada eu sou
Para onde me convidam
Eu digo logo que vou
Na rede sempre escrevendo
Assim fui aparecendo
Meu nome se propagou.

GCS: Dá pra viver de cordel
Neste chão continental
Onde o analfabetismo
Total ou funcional
Em todo lugar impera?
Acha que a mídia coopera
Para o bem ou para o mal?

DCCriar cordel para mim
Na realidade é prazer
Mas com certeza lhe digo
Dele não dá pra viver.
Na rede e televisão
A mídia tem dado a mão
No hora de promover.

GCS: Da tradição popular
Você é muito zelosa
Alguns cordéis atuais
Deixam você desgostosa
Têm sua reprovação.
“Rima, métrica e oração”
É uma coisa imperiosa?

DCA rima, oração e métrica
Temos que obedecer
Pra compor um bom cordel
O bardo tem que aprender
Mas em outra poesia
Sei que não precisaria
Poeta tem que saber.

Os meus primeiros cordéis
Confesso que são malfeitos
De tanto receber críticas
Procurei fazer perfeitos
Não estou livre de errar
Mas procuro acertar
E fazê-los sem defeitos.

GCS: Em todo e qualquer assunto
Há o sujeito linha-dura
Alguns pensam que o cordel
Tem que ter xilogravura
Você acha realmente,
Que uma capa diferente
Afeta a literatura?

DCPra quem já estudou capa
Do cordel literatura
Sabe que só bem depois
Chegou a xilogravura
Por isso posso dizer
De outros modos podem ser
Não desabona a cultura.

GCS: Cite alguns dos grandes nomes
Da cultura nordestina
Do passado ou do presente
Alguém que muito a fascina
Fale das recordações
Dos cordéis e das canções
Do seu tempo de menina.

DC: Leandro Gomes de Barros
Na arte se destacou
Além de escrever cordel
Ele também editou
Foi ele que no passado
Fez do cordel seu traçado
E nossa arte espalhou.

Eu sou fã do Patativa
E também do Zé da Luz
A poesia matuta
é coisa que me seduz.
Cantador Pedro Bandeira
E é Gonçalo Ferreira
Que ao bom cordel faz jus.

Quero homenagear
Um bardo do meu sertão
O seu nome é Gerardo
famoso Mello Mourão
Um poeta e escritor
E cantar em seu louvor
É preito de gratidão.

Dos meus tempos de criança
Lembro contos de Trancoso.
O Cordel que não esqueço
É o Pavão Misterioso
Gostava de pular corda
Cantiga era a de roda
Vivi um tempo gostoso.

GCS: Informe-nos finalmente
qual o seu nome real
o lugar em que nasceu,
se em zona urbana ou rural
se é solteira, casada,
viúva, mãe, namorada...
campo profissional.

DCEu sou Maria de Lourdes
Sou Catunda e Aragão
Nasci no meu Ceará
Ipueiras é meu chão
Uma pequena cidade
Onde vivi de verdade
E fica lá no sertão.

Eu tenho meu companheiro
Tenho dois filhos também
Eu sou só dona de casa
Não trabalho pra ninguém
Hoje só faço cordel
E vivo de aluguel
Acho eu que vivo bem.

Gilberto muito obrigada
Pelo sua entrevista
Sei que demorei um pouco
Mas era coisa prevista.
Metrificar e rimar
Responder e versejar
Se descuidar erra a pista.

GCS: Eu que agradeço, Dalinha,
pelas respostas que deu
tudo que nós perguntamos
com destreza respondeu
Que continue a brilhar
Na cultura popular


Com os dons que recebeu.



BIOGRAFIA
Maria de Lourdes Aragão Catunda,
Que tem suas obras assinadas como Dalinha Catunda, Nasceu na cidade de Ipueiras-Ce. Filha de Espedito Catunda de Pinho, E Maria Neuza Aragão Catunda, Além de escrever poesias contos e crônicas, Tem uma paixão especial pela cultura popular. Paixão essa que lhe rendeu uma cadeira na ABLC, Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Hoje ocupa a cadeira 25 que tem como patrono,O poeta Juvenal Galeno. Com trabalhos publicados nos Jornais: Diário do Nordeste, E no Jornal O Povo, jornais de grande circulação no Ceará, Segue sua trajetória transformando sentimentos em prosas e versos.
FONTE: http://www.valterpoeta.com/2009/11/homenageada-da-semana-20-2611-dalinha.html

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