quinta-feira, 4 de julho de 2013

MORRE MAIS UMA VÍTIMA DA CRIMINALIDADE - Gilberto Cardoso dos Santos



Eu não a conheci e meu objetivo aqui não é o de apresentar os fatos a seu respeito como num boletim de ocorrências.

Sei que se chamava Josefa, que cresceu carinhosamente sendo chamada de Zefinha, que depois passou a ser chamada respeitosamente de Dona Josefa e que frequentava atualmente a Igreja Mundial do Poder de Deus.

Na semana passada, enquanto voltava da igreja com uma menina de mais ou menos 11 anos, foi abordada por um jovem alto e mascarado, perto de um lugar comumente chamado Os Coqueiros, no Bairro do Paraíso.

Este saiu do matagal, encostou a arma na barriga da menina enquanto pedia seu celular e depois exigiu da mulher a entrega da bolsa.

A reação física imediata da senhora,  foi a de desmaiar, cair para trás. Aparentemente, bateu com a cabeça na parte dura do asfalto. Encontraram seu corpo em estado de convulsão, urinado.

O marginal sumiu na escuridão levando sua bolsa com a Bíblia dentro.

Naquela noite, um pai desesperado juntamente com a polícia local arriscou sua vida até altas horas tentando localizar o assaltante. Depois retornou para casa, desolado, amargurado pela infrutífera busca, indignado pelo drama vivido por sua filha e por aquela senhora que lhe servira de companhia.

De lá para cá, dona Josefa não foi mais a mesma.
Hoje, muito triste e surpreendida, a menina me disse na escola que dona Zefinha morreu.

Chegou a ser internada. Grandes foram os abalos físicos e psicológicos pelos quais passou naquela noite que lhe parecera de bênçãos. Hoje, quem sabe, ao dar seus últimos suspiros, desejou ardentemente partir deste mundo violento para outro lugar também chamado Paraíso onde viverá em paz sem necessidade de policiais e de um posto policial por perto.

As promessas bíblicas, convictamente repetidas por seu líder religioso de que “Mil cairão à esquerda e dez mil à tua direita e tu não serás atingido”, não foram suficientes para o estado de violência que se vive em Santa Cruz.

Não sei exatamente onde ela morava, só sei que provavelmente não morava no Paraíso, embora tivesse sua residência neste bairro onde lhe tiraram a bolsa, a Bíblia e a vida.

Morreu vítima da insegurança que nos tem amedrontado tão intensamente. Não se sabe quem estava por trás da arma, mas fazemos uma ideia de quem e do que está por trás desse estado caótico que nos assusta.

Lamentavelmente, perdemos mais uma cidadã cumpridora de seus deveres, alguém que vivia sob o temor de Deus e das autoridades; alguém que vivia em simplicidade e anonimamente deu sua parcela de contribuição para a melhoria de nossa gente. Morre vítima de uma abordagem estúpida, covarde, feita às 8:30 da noite em uma movimentada rua do Paraíso por alguém que contava e ainda conta com a certeza da impunidade.


Resta-nos indignar-nos por mais esta perda, chorar com os que choram. Resta-nos tentar contribuir, ainda que seja através de uma pequena crônica, para que mude esta situação!


Nenhum comentário:

Postar um comentário