domingo, 19 de maio de 2019

É MELHOR JAIR (cordel)





É MELHOR JAIR (cordel)

a um amigo ultradireitista

Amigo, desde o começo
Ja irei desabafando
Saiba que lhe tenho apreço
É bom Jair meditando
Em tudo que vou dizer 
Se por acaso o ofender 
Melhor Jair perdoando.

Melhor Jair ir abrindo
O seu sigilo bancário
É melhor Jair saindo
Deste sufocante armário
Melhor deixar de alarde
E perceber, mesmo tarde
Que deu uma  de otário.

É bom Jair percebendo
Que a máscara está caindo
Até cego já está vendo
A fortaleza ruindo
Melhor Jair se calando
Ou Jair se desculpando
Pois de você estão rindo.

É bom Jair se juntando
Aos muitos arrependidos
Que vivem se desculpando
Pois se sentiram traídos.
Por ser idiota útil
Você se tornou inútil
Ferindo os entes queridos.

Melhor Jair esquecendo
A Dilma, o Lula e o PT
Não fique se defendendo
E fazendo que não vê
Que os cristãos se desviaram
Quando ao Jair apoiaram
Prejudicando você.

É bom Jair percebendo
Que você foi enganado
Quando saiu defendendo
Um cara despreparado
Com quem você se parece
Vê se evolui, vê se cresce
Deixe de ser pau mandado.

É bom Jair descartando
Argumentos idiotas
Melhor Jair apagando
As bobagens e as lorotas
Fonte de vergonha alheia
Porque a coisa tá feia
Para os falsos patriotas.

É melhor Jair notando
Que o Jair nunca mitou.
Jair desmistificando
As bobagens que falou
Pois você votou, eu sei
Por causa do kit gay
Feito um trouxa acreditou.

Melhor Jair se livrando
Dessas ideologias
Que acabam prejudicando
Florestas e minorias
Promovendo guerra e fome
É bom ver que só no nome
Este Jair é messias.

É bom Jair se curando
Desse falso moralismo
Pois acabou colocando
Nosso país no abismo
Veja que tem mente estreita
E apoia a Extrema Direita
Devido o seu egoísmo.

Melhor Jair aceitando
Que se aceitar não dói menos
Melhor ir se acostumando
Com os argumentos serenos
De mestres e pensadores
Que denunciam os horrores
Dos que liberam venenos.

Vejo robôs e zumbis
Babando e dando palpite
Sem perceber os ardis
e os propósitos da elite.
Procure ser mais amável
Não defenda o indefensável
Babaquice tem limite.

Melhor Jair pesquisando
Olhando as acusações
Pois estão se acumulando
Em torno dos figurões
A quem você defendeu
Por quem panelas bateu
Servindo aos espertalhões.

Você que apoiou Aécio,
Cunha, Temer e o Jair
Perceba o quanto foi néscio
Quando tentou se iludir
Creu numa falsa esperança
Procedeu como criança
Se errou, deve admitir.

É melhor Jair pensando
Numa outra solução
O país tá afundando
Chega de alienação
Deixa de olhar o passado
Seu governo é o culpado
Se cale e peça perdão.

Melhor eu Jair pedindo
Desculpas por lhe ofender
Estou só  advertindo
Mas devo reconhecer
Fiz generalização
Sempre há uma exceção
Você é um bom cidadão
Errou, mas foi sem querer.


AUTOR:
Gilberto Cardoso Dos Santos

19.05.2018

domingo, 5 de maio de 2019

SE ARREPENDIMENTO MATASSE..





SE ARREPENDIMENTO MATASSE..

Pouquíssimas coisas são tão eficazes em produzir bons sentimentos quanto a sensação de estar certo, de ter procedido corretamente. Já ser enganado, fazer papel de bobo, sentir a consciência com o dedo em riste não é nada agradável.

Após ver as tristes notícias sobre os rumos sombrios que o país está tomando – cortes e mais cortes nos já parcos recursos – fui para a feira, tristíssimo por um lado, mas feliz por não ter parte nisso tudo que está ocorrendo.

Seguia eu tomado por esses sentimentos conflitantes quando um feirante estendeu-me a mão, e disse: Olá, meu amigo! Você é uma pessoa a quem eu posso chamar de meu amigo, não aqueles que estão lá em cima, esses políticos safados e enganadores!

Estranhando a saudação e o gesto, observei e vi que não estava bêbado. Conheço-o há um bom tempo, confio muito nos produtos que me vende. É daquele tipo de homem simples, de pouco estudo, que odeia mentira, que busca honrar os fios do bigode. O gesto inusitado me surpreendeu porque ele em geral se mostra desconfiado; é de poucas palavras e nada expansivo; Tivéramos, além disso, certo estranhamento no último pleito eleitoral. Tacitamente, sem que externássemos qualquer acordo, chegamos ao ponto de evitar tratar do tema em nossos poucos encontros sabáticos. Limitávamo-nos ao mútuo envio de vídeos pelo Messenger e às relações de compra e venda. Nunca nos tratamos com desrespeito. Com diplomacia, mas em vão, busquei abrir seus olhos durante a campanha. A surpresa só não foi maior porque, depois da vitória de seu candidato, vi-o mudado, compartilhando algumas postagens minhas contrárias à Reforma da Previdência

Quando retornei, acrescentou: Eu sou muito mole, professor! Só duas vezes inventei de me envolver com política e fazer campanha: na eleição de Fernando Collor e nessa. Pense num arrependimento grande, meu amigo.

Só ri, respeitosamente, e depois disse alguma coisa para justificar e intensificar sua decepção. Apareceu outro freguês; aproveitei e disse que precisava ir noutra banca; ao voltar, passaria por lá, pra continuarmos a conversa.

Voltei, e ele me apresentou a razão de sua frustrada paixão pelo presidente: Sabe por que decidi votar nele? Por causa daquela frase que ele repetia: ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Eu achava aquela frase bonita e pensava ‘esse é um homem de Deus’. Mas me enganei feio! Ah, miserável mentiroso! Mas ele vai pagar caro! Deus tá vendo o que ele fez, usando a palavra dele com mentira.

Nesse instante, tive outra surpresa: chegou um senhor branco, baixo e gordo, até então desconhecido; perguntou ao vendedor, com ar agitado: Esse é o professor de quem você falava, né? E dirigiu-se a mim: Professor, nós, lá no IFRN, estamos no maior desespero. Bem que o senhor vivia avisando a ele. O coordenador do IF chorou e tudo, disse que não podia fazer nada, infelizmente. Segunda-feira serão demitidos dois funcionários já, e isso é só o começo. Eu trabalho lá há 11 anos, mas pelo jeito também vou ser despedido. Eu sou auxiliar de serviços gerais. Sou pai de família e estou preocupado com meu futuro. Morro de vergonha do voto que dei, fico lá calado, com medo que eles me culpem, pois eu achava que a educação ia melhorar, não piorar desse jeito. Como é que pode mexer num dinheiro que já é pouco, fazer um negócio desses com a gente?

Muito triste, amigos, disse-lhes eu. Países que deram certo como Finlândia, Canadá e Holanda, investiram muito em educação e o resultado é que se tornaram muito prósperos. Nós estamos indo na contramão.

Ao fim de nossa conversa, quando já me dirigia a outra banca, deparo-me com J. Nildo, evangélico. Este passava o dia inteiro e boa parte da noite no Facebook defendendo a candidatura de um mito, em nome de Deus.

Não resisti e disse: Anda calado, sumido das redes sociais... o que é que está acontecendo, amigo?

Resposta: Rapaz... é  muita ocupação. Chego em casa, janto, logo bate o sono e vou dormir.

Eu entendo, disse-lhe. Percebo que tem muita gente passando por isso ultimamente. A gente abusa, né? Facebook já não é mais como antes. Disse-lhe, e fui conversar um pouco com um vendedor mais à frente, também decepcionado. Não confio mais em nenhum desses ladrões. Fiz papel de besta, pode acreditar, professor!

Por último, entrei na barbearia de um amigo, cuja cabeça não consegui fazer durante a campanha - arrependidíssimo por haver apostado todas as fichas numa miragem. Com tanta raiva e vigor se exprimia, que temi pelo cliente de quem tirava a barba. Este não resistiu e, mesmo com a navalha ao pescoço, balançou a cabeça afirmativamente, e disse repetidamente: É verdade.

Completei, então, para mim mesmo, a frase que intitula a crônica:


SE ARREPENDIMENTO MATASSE, MUITOS ELEITORES JÁ TERIAM MORRIDO.

Gilberto Cardoso dos Santos

domingo, 28 de abril de 2019

UM SHOW DE HUGO TAVARES EM MINHA IMAGINAÇÃO



UM SHOW DE HUGO TAVARES EM MINHA IMAGINAÇÃO



Vendo o momento difícil
Dramático para a nação
Meditei no que faria
Hugo em tal situação
E respirei novos ares
Ao ouvir Hugo Tavares
Em minha imaginação.

Ouvi “Voto aos dezesseis”
E senti desesperança
Ao me recordar de adultos
Que votam feito criança
Pensei em sua cartilha
E vi o quanto hoje brilha
Mais que nunca e nos alcança.

Decerto conosco hoje
Ele também sofreria
Ao drama dos oprimidos
em versos expressaria
Levantaria seu brado
Ao ver que um golpe foi dado
Em nossa democracia.

Falaria de açaí,
De laranjas, goiabeira
De Fake News, de um Brasil
Sem freios rumo à ladeira
Com vigor e ousadia
Citaria a hipocrisia
Da elite vil brasileira.

Reforma da Previdência
Seria um tema central
Em versos embelezados
Pelo verniz musical
Sempre em defesa dos pobres
Contra os nobres nada nobres
Da política nacional.

Lembrei da bela entrevista
Que há tempos me concedeu
Não somente do que disse
Também de como viveu
Quando entre nós habitou
Das lutas que encabeçou
Das pautas que defendeu.

Ele, tão religioso,
Decerto não pouparia
A padres, bispos, pastores
Que em sua moral vazia
Defendessem a tortura
Assumindo uma postura
Que Jesus condenaria.

Em sua prosa matinal
Ao povo esclareceria
Do sono e da idiotice
A muitos despertaria
Raiva iria provocar
Eu rio ao imaginar
Tudo que Hugo diria.

Sua língua, feito um chicote
Tal qual Cristo iria erguer
Nos que estão acomodados
Decerto iria bater
Em mais de cinquenta tons
De cinza, “Sigam-me os bons”
Poderia nos dizer.

No Espiritismo não creio
No entanto, se acreditasse
A um médium pediria
Que ao poeta incorporasse
A fim de ouvi-lo de novo
E encorajaria o povo
Com o que Hugo falasse.

Gilberto Cardoso dos Santos
Cuité/PB e Santa Cruz/RN


sexta-feira, 26 de abril de 2019

BANCO DE HÉTEROS


MARIA GORDA E A MOÇA DO WHATSAPP - Gilberto Cardoso dos Santos



MARIA GORDA E A MOÇA DO WHATSAPP - Gilberto Cardoso dos Santos

Antes de dormir,  conferi o Zap. Um número desconhecido tinha enviado:

“Oiii”

Cinco minutos depois, repetira:

“Oii”

Olhei a foto, era de mulher. Resisti, fui dormir; deixei para conferir no dia seguinte.
De manhã, cliquei na foto, vi que fora alterada. Jovem bonita, risonha, pele brilhante. Quem seria: Ex-aluna? mãe de aluno? Alguém querendo vender algo?
 Após meu “Bom dia”, enviou um áudio com pergunta bastante inesperada:

“Olá, bom dia. Desculpe incomodar, mas eu queria saber se esse telefone… se esse contato é da boate de Maria Gorda.”

A voz era  agradável, suave e e bem modulada. Antes de responder-lhe, tentei acalmar os pensentimentos recém agitados pelo teor da abordagem. Lembrei de um escritor local e da personagem que protagoniza sua obra, a Maria Gorda. Teria uma coisa a ver com a outra? A princípio não atinei bem, e respondi:

“É não. Você é do RN? Fica onde essa boate? Eu conheço uma Maria Gorda que tinha uma “boate” em Santa Cruz, onde moro.”

“Desculpa então”, disse-me ela. “Fica no Pernambuco”. E citou o município.

“Ah”, disse-lhe, “coincidentemente havia uma Maria Gorda em minha cidade que tinha uma casa dessas. Um amigo e compadre da dona dessa ‘boate’  escreveu um livro em sua homenagem.”

E postei a capa do livro “Crônicas da Casa de Maria Gorda”, de Rosemilton Silva.



Montando melhor o quebra-cabeça, acrescentei:

“Talvez sua busca tenha levado ao blog onde postamos algo sobre ela”.

Ela confirmou:

“Eu não sabia. Eu peguei esse número na Internet. Mas me desculpe ai, tá bom?"

“Então foi isso daí mesmo”. Fui conscientemente repetitivo, buscando manter o diálogo:  “Você estava fazendo uma pesquisa, procurando ‘Maria Gorda’ e, no blog, onde a gente fala sobre ela, achou esse número que é o meu. Uma coincidência bem interessante. Foi bom saber que onde você mora há alguém com este mesmo apelido e que exerce a mesma atividade.”

Retrucou:

“Mas a daqui já faleceu mesmo. Aqui tem uma casa que era dela, tá entendendo? E funciona. É uma boate, mas… é uma boate do sexo, tá entendendo? Eu já ouvi falar muito e por isso que eu pensei que era de lá. Eu não sei aonde fica, nem sei nome de rua,  nada. Eu só peguei o número achando que era de lá pra me informar. Mas, de boa, desculpa ter incomodado”.

Tentei sossegá-la: 

“Não foi incômodo nenhum, amiga. Ficamos felizes quando alguém faz buscas na Net e encontra nosso blog.  Outro dia ocorreu com alguém do RJ. Sinal que aparece bem nos resultados.”

Com certo receio, perguntei:

“Você estava à procura de emprego, alguma coisa?”

A resposta demorou e veio em  voz entrecortada; expressava sinais de angústia:

“É. Eu… tou desempregada, tenho três filhos...e a situação tá bem complicada. Por isso que eu tava procurando. Nunca fiz esse tipo de coisa, nunca precisei… mas aqui na minha cidade não tem serviço. Eu já fiz de tudo pra conseguir serviço e não consegui. E por isso eu tava em busca pra poder eu me informar, sabe, como era... tudo.”

Neste instante parei para pensar no que lhe diria. Senti  certo mal estar. Suas palavras, o modo como as dizia, bem como as circunstâncias que nos conduziram àquele ponto do diálogo, não me deixavam margens para dúvida: eu estava diante de alguém em desespero.
Parei para ouvir as vozes dos eus que me habitam com seus imperativos nem sempre éticos; pensei em minha falecida mãe -  jovem, com 3 crianças; abandonada pelo esposo que se mandara para o sul... -  Décadas depois,  soube do desespero com que enfrentou os obstáculos após o fim do  casamento: carregava água em 3 burros dando assistência a construções e de tudo fez na tentativa de sobreviver e reorganizar sua humilde existência; rendeu-se, inclusive, aos encantos de alguns jovens aparentemente apaixonados. E foi assim que eu nasci.
Muitas coisas pensei e senti nessa  breve pausa: na onda de desemprego que assola o país, na enorme quantidade de jovens depressivas… lembrei de uma que pulou da ponte e levou consigo o filho de dez anos. Uma das vozes gritou quando meus olhos se umedeceram: "Deixa de ser bobo!"
Voltamos à conversa.

“De fato, amiga. A necessidade às vezes é mais forte que a gente.”

“É verdade. Eu sou um tipo de pessoa que eu jamais deixaria meus filhos passar necessidade, tá entendendo? Então, se tivesse que apelar pra esse caminho, eu ia de boa. desculpa aí eu ter pegado o numero errado. Achei que realmente fosse de lá. Desculpa.”

 “Nada. Eu que lhe peço desculpa pela curiosidade. Salvei seu número. se aparecer alguma novidade, lhe digo.”

“Como assim, ‘alguma novidade’? Você trabalha com esse tipo de coisa?

“Não, amiga. Mas a vida tem seus mistérios e às vezes pode pintar alguma proposta, não sei. Caso aconteça, comunicarei a você.”

De fato, leitor, desde que tivemos esse bate-papo,  tenho desejado encontrar um jeito de ajudá-la. Merecerá, de fato, que nos comovamos com sua situação? Tendo a dizer que sim, ainda embalado pelo calor da conversa. Falei  com uma pesoa amiga sobre como poderíamos prover-lhe ajuda. Disse-me que não adiantaria enviar-lhe dinheiro, porque seria uma solução passageira. Quem sabe se o acaso, semente deste texto, de algum modo não proverá uma saída para ela? Nada ocorre por acaso, dizem os místicos. Como consequência, intermediei a venda do livro sobre Maria Gorda a alguém com quem conversei sobre Sânzia. Ao salvar seu número, coloquei  “Sânzia G P”. A partir daqui, só imaginação
Pensei em pedir permissão à Senhora Santos para enviar-lhe algum dinheiro, mas tive receio. Esta estranhou o nome.

“Quem é Sânzia GP?”

Expliquei-lhe que “GP” não era “Garota de Programa” e sim “garota pernambucana”
Ontem demorei a pegar no sono; Não me adaptei bem ao sofá. Acordei ainda pensando em como ajudar à jovem mãe. Terá tudo um propósito? Terá o Universo conspirado a favor dessa garota aflita? Só o tempo dirá.  Quiçá, você que me lê, venha a fazer parte dessa conspiração.









quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Bráulio Bessa em Santa Cruz


Que evento maravilhoso
Tivemos em Santa Cruz!
Bráulio, hiper talentoso,
Espargiu bastante luz
A emoção que sentimos
Com as maravilhas que ouvimos
Nenhuma estrofe traduz.

O sujeito é bom de prosa,
Não só mestre em poesia;
A sua história exitosa
A qualquer um contagia.
Seu bom humor envolvente
E história comovente
Nos encheu de alegria.


Mônica Poggi e Bráulio Bessa
deram dicas importantes
Nós aprendemos à beça
Com estes bons palestrantes
Momentos áureos tivemos
E jamais esqueceremos
Desses momentos marcantes!