terça-feira, 22 de outubro de 2019

Aos cuiteenses do futuro (Gilberto Cardoso dos Santos)


A pedido de Eliel Soares, educador e historiador, fiz o seguinte poema para a cápsula do tempo que se encontra enterrada no Museu Homem do Curimataú, em Cuité - PB. Só será aberta em 2068.



Aos cuiteenses do futuro (Gilberto Cardoso dos Santos)

Nasci em sessenta e quatro
Vi minha Cuité crescer
Hoje observo as mudanças
Sinto a saudade bater
Contemplando o que restou
Cuité se modernizou
Sem sua essência perder.

O antigo Cuité-Clube
Em museu foi transformado
Converteu-se num baú
Dos tesouros do passado
Tudo que de bom havia
Hoje virou poesia
No que ali é conservado.

Sou de Cuité dos Furtado,
Dos Venâncio, dos Medeiros
Dos Pereira, dos Fialho
Sujeitos bons e ordeiros
Do tempo dos Ascendino
Dos Palmeira, dos Galdino
Cuiteenses verdadeiros.

Dinamérico é de meu tempo
E comigo conviveu
Foi um artista de peso
Que Cuité reconheceu
Pelo importante legado
E foi imortalizado
Numa sala do museu.

No Olho D'água da Bica
Banhei-me na puberdade
Hoje a água ainda escorre
Servindo à comunidade
Bem perto vê-se o progresso
De jovens fazendo ingresso
Na bela universidade.

Foi transformado em abrigo
Um antigo cabaré
Feito pelo Nego Tota
Que hoje vive da fé
De modo bem respeitoso
Busca tratar-se o idoso
Sem condições de Cuité.

Em espaços importantes
Bons nomes são colocados
O Largo José Soares
Ecoa fatos passados
No antigo Bar de Biléu
A lembrança ergue o seu véu
Primórdios são resgatados.

As lembranças me embriagam
Diante do  ex Drink Bar
Ou do mercado central
De existência secular
Abaixo, com novo emblema
Vê se o antigo cinema
Que tanto nos fez sonhar.

Grande troca de poder
Cuité ora vivencia;
O espetáculo da Paixão
De Cristo se evidencia
Como parte da cultura
Que ao passado emoldura
Com a tecnologia.

Ecoa em meu pensamento
a voz de Zé Luzia
Nos tempos da Mobralteca
declamando poesia
Lembro do bar de Braulino
Onde eu ainda menino
Lanche e cachaça servia.

Sou do tempo de Aécio,
Poeta, ator, pensador;
Cresci junto com Ramilton
Bom contista e educador.
E percebo que Israel,
Júnior de Moca e Eliel
Fazem algo de valor.

Pois lutam pela cultura
Com Crisólito e Zé Pereira
Na defesa de Cuité
Enfrentam qualquer barreira
Com paixão obsessiva
Querem ver corada e viva
A cultura brasileira.

Claro que há acidentes,
Que aumentou a violência
Nada que em outros lugares
Não esteja em evidência
Mas com ações pontuais
Medidas racionais,
Venceremos a imprudência.

Há muita coisa a dizer
Mas prefiro ser sucinto
Contemplo a minha Cuité
E é grande a emoção que sinto
Apesar do que sofreu,
Cuité saudável cresceu,
Tornou-se um lugar distinto.

Daqui a cinquenta anos
Muita coisa irá mudar
Aqui não mais estarei
Não poderei contemplar
Os avanços do progresso
Mas com confiança expresso
Que tudo irá melhorar.

Daqui a 50 anos
Uma nova geração
De 3 séculos de existência
Fará comemoração
Muito do que hoje vemos
Com certeza não teremos
Além da recordação.

Ao pensar que estarei morto
De mim mesmo sinto dó
Mas que fazer? É a vida
Irei, mas não irei só
Milhares que aqui estão
Na presente geração
Terão retornado ao pó.

Você que está no futuro
Adulto, velho ou criança
Saiba que escrevo estes versos
Repleto de confiança
Em um porvir radiante
Numa "cuité" transbordante
De paz, amor e bonança!


Santa Cruz, 13.07.2018






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Um comentário:

  1. Parabéns Gilberto, você descreve sua terra com conhecimento de causa, amor e carinho. Quando abrirem a cápsula do tempo sentirão orgulho do filho ilustre de Cuite.

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