segunda-feira, 25 de abril de 2011

IMPORTANTE ENTREVISTA COM ESTUDIOSO DO CANGAÇO


ENTREVISTA COM DR EPITÁCIO, ESTUDIOSO DO CANGAÇO

GILBERTO: Olá, Dr. Epitácio! Fale-nos sobre sua pessoa, profissão e trabalhos que tem desenvolvido.

DR. EPITÁCIO: Sou médico psiquiatra por formação. Pertenço ao quadro de saúde da Polícia Militar e do Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado, em Natal, onde resido. Trabalho em várias cidades do estado. Nasci em Catolé do Rocha/PB, “a praça de guerra”, como chama o conterrâneo Chico César, e fui criado no Patu, no médio-oeste potiguar, terra natal de Jesuíno Brilhante.

GILBERTO: Desde quando surgiu seu interesse pelo fenômeno do cangaço e o que o motivou a estudar o tema com tanto empenho?

DR. EPITÁCIO: Herdei o meu nome do meu pai Epitácio Andrade, ex-prefeito de Patu, que foi aluno do Professor Raimundo Nonato, no Colégio Diocesano de Mossoró. Doutor Raimundo Nonato é o autor de “Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico”, sendo, portanto, o principal biógrafo de Jesuíno. Na minha infância, os meus pais recebiam e acolhiam o Professor Nonato em nossa residência em Patu, quando ele vinha pesquisar no acervo da casa paroquial. Talvez por meu nome significar “ofício de estado”, sentia-me na obrigação de acompanhá-lo em suas investigações. Posteriormente, passei a entender o resgate da nordestinidade como um ofício de estado.


GILBERTO: Fale-nos, em linhas gerais, sobre a figura do cangaceiro Jesuíno Brilhante e sobre o que mais chama sua atenção na pessoa dele.

DR. EPITÁCIO: Jesuíno Alves de Melo Calado, “Jesuíno Brilhante”, apelido para homenagear um tio, nasceu no Sítio Tuiuiú, na zona rural de Patu, no Oeste do Rio Grande do Norte, em o2 de janeiro de 1844, e morreu na Comunidade rural Santo Antônio, em São José de Brejo do Cruz, na fronteira paraibana, em dezembro de 1879. A sua capacidade de transformar a tragédia cotidiana sertaneja em questão política, acredito ser sua característica mais louvável.


GILBERTO: Há alguma associação entre seus estudos na área da psiquiatria e o tema do cangaço? Do ponto de vista psiquiátrico, poder-se-ia dizer que Jesuíno Brilhante, mesmo tendo vivido uma vida tão fora do comum, fosse uma pessoa normal?

DR EPITÁCIO: A violência é o principal fator estressogênico na sociedade contemporânea. Estudar os seus determinantes sociais ajuda a compreender o sofrimento psíquico das pessoas. No “Banquete dos Signos”, o poeta de Brejo do Cruz diz assim: “Discutir o cangaço com liberdade é saber da viola, da violência...”, fazendo-nos acreditar que compreendendo conflitos familiares e outros determinantes do cangaço, poderemos elaborar mecanismos de superação da violência humana, com arte, com poesia, com música. Jesuíno era um sertanejo comum até ser vítima da violência, quando partiu para o cangaço. Neste caso é preciso parafrasear outro poeta: “De perto, ninguém é normal”.


GILBERTO: Seus estudos são direcionados exclusivamente à saga de Jesuíno brilhante ou outros personagens e fatos relativos ao cangaço entram em pauta?

DR EPITÁCIO: Entrei para a Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço a convite de Kydelmir Dantas, em 2005, quando apresentei a tese: “A Importância Histórico-social do Cangaço de Jesuíno Brilhante”, defendida numa sessão de estudiosos do cangaço, no museu Lauro da Escóssia, em Mossoró. Realizei pesquisa etnográfica sobre o cangaceiro Liberato Cavalcanti de Carvalho Nóbrega, contemporâneo de Jesuíno Brilhante, inspirando o Poeta Gil Hollanda a compor o cordel “O delegado que virou cangaceiro”. Produzi, em parceria com o Coronel PM/RN Ângelo Mário de Azevedo Dantas, o artigo: “O Fogo da Caiçara – Início da Resistência ao Bando de Lampião no Rio Grande do Norte”. No momento, estou empenhado na viabilização de lugares de memória do cangaço, uma conseqüência direta da aprovação da dissertação de mestrado da Professora Lúcia Souza, de quem fui coorientador.

GILBERTO:Do ponto de vista psiquiátrico, como analisa o desejo de justiça e vingança inerente ao ser humano que busca fazer justiça com as próprias mãos?

DR EPITÁCIO: A prática da vingança é a realização da justiça com as próprias mãos, que consiste na persistência de impulsos heterocidas primitivos do animal humano. Do ponto de vista social, é a manutenção da lei do Talião: “Dente por dente, olho por olho”. É a contramão dos caminhos civilizatórios.

GILBERTO: Trace um quadro comparativo entre Jesuíno Brilhante e Lampião.

DR EPITÁCIO: Estou formulando um projeto de pesquisa que procura contextualizar a história das principais lideranças do cangaço (Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Lampião e Corisco) com a evolução do diagnóstico da personalidade psicopática. Estou com 45 anos e acredito que levarei até o resto da vida pra concluí-lo, se chegar a concluir. Este projeto permitiria desenvolver, como técnica de investigação científica, uma espécie de “necrópsia psiquiátrica”. Como tenho consciência que esta não é uma tarefa para uma pessoa só, estou recebendo o suporte teórico do Doutor em Psiquiatria Ivanor Veloso; convidei o Psicólogo Júlio Cesar Ischira para ingressar no projeto; e vou convidar a colega psiquiatra Suzana Brilhante, da descendência de Jesuíno, para colaborar com esta formulação científica. Utilizo este comentário para justificar a dimensão da complexidade da resposta a sua pergunta. Se fosse realmente traçar um paralelo entre Jesuíno e Lampião, apresentaria inferências históricas, não conseguiria, no estado atual do conhecimento científico, descrever, fidedignamente, suas personalidades.

GILBERTO: O que, de seu conhecimento, já se produziu em termos de literatura culta ou popular e arte cinematográfica sobre a pessoa de Jesuíno Brilhante? Que trabalhos destacaria?

DR EPITÁCIO: Podemos dividir a produção literária sobre o cangaço de Jesuíno Brilhante em autores memorialistas, como Raimundo Nonato, José Gregório, Alicio Barreto, Frederico Pernambucano de Melo e Luiz da Câmara Cascudo, que fica na transição com os ficcionistas, como Rodolfo Teófilo e Gustavo Barroso. O menestrel Ariano Suassuna dedicou seu romance “A Pedra do Reino” a Jesuíno Brilhante. A literatura de cordel é extremamente significativa para a memória do cangaço, sendo cordelistas importantes: Rodrigues de Carvalho, autor do “ABC de Jesuíno”, Gil Holanda, Luiz Antônio de Malta e Zé de Alzerina. O comunicador Miguel Câmara Rocha editou dois números da Revista “Roteiros de Patu”, que narra o conflito dos brilhantes com os limões, com base no livro “Solos de Avena” de Alício Barreto, editado em 1905. O filme “Jesuíno, o cangaceiro”, do Cineasta ipanguaçuense William Cobbet, produzido em 1972, reveste-se de importância cultural para o Rio Grande do Norte por ter sido o primeiro, integralmente, rodado no estado e o trânsito dos atores, durante as filmagens em Natal, ter originado o nome da “Praia dos Artistas”. Destacaria duas produções culturais sobre o cangaço de Jesuíno: O espetáculo teatral “O Auto de Jesuíno”, do Dramaturgo Ricardo Veriano, editado no período de 2001 a 2008, durante a feira da cultura de Patu, e “Jesuíno Brilhante em História de Quadrinhos”, de Emanoel Amaral e Alcides Sales.

GILBERTO: Acha que se tem dado a devida importância à preservação da memória de Jesuíno ou o Rio Grande do Norte peca nesse aspecto?

DR EPITÁCIO: Não conheço iniciativas de governo voltadas para o desenvolvimento da memória do cangaço de Jesuíno Brilhante. Só conheço ações independentes, construídas com muitas dificuldades e, praticamente, sem apoio.

GILBERTO: Qual a importância de se batalhar para manter viva a memória de uma pessoa com o perfil de Jesuíno Brilhante; seria apenas um hobby ou muito mais que isso?

DR EPITÁCIO: O desenvolvimento da memória do cangaço de Jesuíno permite o alargamento da compreensão de nossa história, da história do Sertão, do Brasil e dos fenômenos sociais, ampliando nossos horizontes culturais, favorecendo a criação de alternativas de desenvolvimento sustentável para uma das regiões mais pobres do mundo. Como também, possibilita a superação de idéias e comportamentos preconceituosos, melhorando a consciência política do povo, ajudando a formar massa crítica.

GILBERTO: Que projetos tem em mente relativos à preservação da memória de Jesuíno Brilhante?

DR EPITÁCIO: Estou empenhado na viabilização de lugares de memória do cangaço, em dois epicentros principais: o município de Patu, lugar de nascimento de Jesuíno Brilhante, onde defendemos a criação de uma reserva ambiental que englobe o conjunto de serras do município, possibilitando a preservação das cavernas que o cangaceiro utilizava como esconderijo e desenvolvimento do turismo ecológico, adsorvendo-se ao turismo centrado no Santuário do Lima; e o outro epicentro é o município de São José de Brejo do Cruz, na Paraíba, lugar da morte do cangaço, onde defendemos a implantação de um parque temático do cangaço. Fora destas articulações políticas, estou ultimando a feitura do livro “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”

GILBERTO: O que se conseguiu resgatar dos objetos pessoais de Jesuíno e onde esse material pode ser visto?

DR EPITÁCIO: Recentemente, eu e Ricardo Veriano descobrimos uma relíquia que pode ter pertencido ao cangaceiro brilhante. No próximo dia 29 de abril de 2011, em Currais, numa pousada rural, estaremos apresentando o punhal de Jesuíno e estimulando um debate com estudiosos do cangaço para testar a autenticidade da descoberta. Na casa da cultura de Campo Grande/RN, encontram-se a moringa e a garrucha. No museu Lauro da Escóssia, em Mossoró/RN, está o bacamarte “Bargado”. E em Martins/RN, encontra-se o bacamarte de cano longo, pertencente ao acervo do autodidata Júnior Marcelino.


GILBERTO: Fale-nos sobre o documentário que produziu sobre o local da morte do cangaceiro.

DR EPITÁCIO: Em 2005, produzi o Documentário: “O lugar da Morte de Jesuíno Brilhante”, que apesar das limitações técnicas subsidiou o projeto, que resultou na dissertação de mestrado da Professora Lúcia Souza. O roteiro da produção é centrado no depoimento do cidadão centenário Mário Valdemar Saraiva Leão, fundador da cidade de São José de Brejo do Cruz, que apontou em visita a localidade, chamada “Serrote da Tropa”, na comunidade rural Santo Antônio, como o lugar mais provável da morte de Jesuíno, ratificando as informações dos memorialistas. O documentário tem a participação do cancioneiro octogenário Chico Mota e do repentista Zé de Alzerina, conterrâneo do Sítio Tuiuiú. Uma dupla de descendentes de Jesuíno Brilhante entoa a música de domínio popular “Corujinha”, que era cantada por Jesuíno e seu bando. Ao som de grupos culturais do município, a benzedeira Francisca de Mica encenou um fechamento coletivo de corpos, tradição ritualística dos tempos do cangaço de Jesuíno Brilhante.

GILBERTO: Conte-nos fatos relativos à vida de Jesuíno que fazem parte do imaginário popular mas não têm qualquer base histórica.

DR EPITÁCIO: O Professor Raimundo Nonato procurava, insistentemente, alguma certidão de casamento que constasse o nome de Jesuíno Brilhante como padrinho. Nunca conseguiu encontrar. Porém, na história oral do cangaceiro romântico constam inúmeras referências que ele reparava a honra de moças pobres seviciadas pelos filhos dos ricos fazendeiros da região, no seu processo de iniciação sexual, forçando-lhes o casamento. Os apologistas de Jesuíno afirmam que isso ocorria por uma questão puramente ética, que estava relacionada a moral inabalável de Jesuíno. Nossos dados apontam para a determinação econômica da ação do cangaceiro, ou seja, forçando o casamento não-programado, Jesuíno introduzia novos atores sociais na divisão da terra.

GILBERTO: Para o senhor Jesuíno deve figurar como herói ou bandido? Por quê?

DR EPITÁCIO: Tem-se que contextualizar, historicamente, as ações cangaceiras de Jesuíno. Não devemos fixá-lo num ponto dessa polaridade herói-bandido. A palavra, que julgo mais adequada para a resposta é do antropólogo Roberto da Mata, relativizar.

GILBERTO: Como diferencia o fenômeno do cangaço das gangues que controlam certas regiões pobres do Brasil?

DR EPITÁCIO: O cangaço é um fenômeno geo-histórico, que ocorreu da segunda metade do século XIX ao início da década de 40 do século XX,principalmente nas áreas rurícolas do Sertão do Nordeste Brasileiro. A alta delinqüência é um fenômeno da contemporaneidade, que se espalha nas grandes cidades, sobretudo, no espaço suburbano. No cangaço não havia intenções de tomada do poder político, simplesmente porque o líder cangaceiro era a incorporação do poder absoluto. Na marginalidade organizada, não há intenções de tomada de poder pela total ausência de um referencial ideológico. Poderíamos pensar várias outras diferenças.

GILBERTO: Que acha da abordagem dada à vida de Jesuíno na novela Cordel Encantado?

DR EPITÁCIO: É uma abordagem ficcionada, que tende a reforçar o processo de mitificação do cangaço. Algumas pessoas da produção da novela conhecem a professora Lúcia Souza, e estão articulando um encontro para conhecer a tese. O próprio ator Cauã R..., que faz o papel de Jesuíno, poderá receber algumas orientações da mestra em cangaço. Caso isso venha a acontecer, com certeza, serão assimilados elementos críticos que melhorarão a capacidade de transformação social da novela.

GILBERTO: Qual o papel e importância da leitura em sua vida, como se deu sua entrada no mundo dos livros e que autores o influenciaram?

DR EPITÁCIO: Comecei a ler influenciado por minha mãe Lourdinha Holanda e pela Professora Raimunda Cleonice Dantas, Dona Nice. Na infância, recebi a influência de Monteiro Lobato. Na adolescência, do médico Ernesto Che Guevara. Para desenvolver os estudos sobre Jesuíno Brilhante, a principal influência, foi, sem dúvidas, do Professor Raimundo Nonato. Já na fase adulta, percebo a influência de Euclides da Cunha, Josué de Castro e do Escritor peruano Mário Vargas Llosa. Quanto ao papel e a importância da leitura, não consigo identificar outro caminho que possa mais contribuir com a busca pela plenitude humana, que não seja o caminho das letras. Por outro lado, Seu João de Artur, que comanda um grupo folclórico e afirma que “ a diversão é necessária”, diz que o homem deve ser “ou bem lido, ou bem corrido”.

GILBERTO: Cite algum pensamento, trecho de livro ou poesia que aprecia muito.

DR EPITÁCIO: Um pensamento matemático-cabalístico: “Deus é o conjunto de pontos de uma esfera sem circunferência”.

domingo, 24 de abril de 2011

Jadeize Marques e Kleyton





1
JADEISE obra-prima
que a natureza pintou
e extraiu de mil mulheres
o que nela colocou
por causa duma imprudência
criancice, inconsequência,
tão nova se acabou.
2
Jadeise era uma jovem
bela e bem-humorada
circulava com destaque
era muito cobiçada
mesmo a mulherada chique
perto desse Titanic
se sentia uma jangada.
3
Com apenas vinte anos
tanta vida pela frente
viu tudo se desfazer
num terrível acidente
Kleiton Anderson também
dum modo que não convém
morreu repentinamente.
4
Um jovem cheio de vida
e uma bela menina
foram-se de modo trágico
e tal fato nos ensina
a importante lição
que o vício, sem exceção,
com direção não combina.
5
Ficaram quatro famílias
tristonhas a lamentar
duas, por seus filhos mortos
tentam se recuperar
de uma dor desmedida
Remediando a ferida
que não vai cicatrizar.
6
Para tais familiares
fica nossa condolência
que tais acontecimentos
sirvam de advertência
a quem quer se divertir
não beba se dirigir
para evitar imprudência.

Vejam os videos:


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Gregório de Mattos e o plágio




Buscando o Cristo Crucificado um Pecador com Verdadeiro Arrependimento


A vós correndo vou, braços sagrados,

Nessa cruz sacrossanta descobertos,

Que, para receber-me, estais abertos,

E, por não castigar-me, estais cravados.


A vós, divinos olhos, eclipsados

De tanto sangue e lágrimas cobertos,

Pois, para perdoar-me, estais despertos,

E, por não condenar-me, estais fechados.


A vós, pregados pés, por não deixar-me,

A vós, sangue vertido, para ungir-me,

A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.


A vós, lado patente, quero unir-me,

A vós, cravos preciosos, quero atar-me,

Para ficar unido, atado e firme.


Comentário meu:

Disseram que Gregório arrependeu-se
dos versos infernais que produziu
e um soneto ao Cristo dirigiu
quando ao final da vida converteu-se
Mas na verdade o que aconteceu
É que Gregório fama recebeu
por versos que não têm sua autoria
Doutor Manoel da Nóbrega é o autor
deste soneto cheio de esplendor
exemplo de excelente poesia.

Até mesmo suas sátiras famosas
a outros vates são atribuídas
algumas são de obras traduzidas
ou são derivações capciosas
Padre Lourenço o repreendeu
em uma sátira que escreveu
expondo alguns dos vergonhosos fatos
mas este texto que o denuncia
muitos afirmam ser da autoria
do acusado: Gregório de Mattos!

Resposta do Padre Lourenço contra o Dr Gregorio de Mattos e Guerra.

Satyra


.....................................................

Doutor Gregorio gadanha,

Pirata do verço alheyo

Callo, que ao mundo tem cheyo

De Satyras, e patranha:

Ja se conheceo a maranha

Das Poezias que vendes

Por tuas, quanto as pertendes

Traduzir de castelhano,

Naõ te envergonhas magano?

.....................................................

Cuida o mundo, que são tuas

As Satyras, que accomodas

Inda que o que vendo a todas

Pode chamar obras suas:

Os rapazes pellas ruas

O andão publicando ja,

E o mundo vaya dedà

Quando vê tal desengano,

Naõ te envergonhas magano?

.....................................................

O soneto que mandaste

Ao Arcebispo elegante

Do de Gongora ao Infante

Ao Cardeal lho furtastes:

Naõ sey como te chamaste

O mestre da Poezia

Furtando mais em hum dia

Que mil ladrões em hum anno.

Naõ te envergonhas mangano?

.....................................................

Falla de ti que so tens

Que fallar de ti Gregorio

A todo o mundo he notorio,

Que tens males, e naõ bens:

Naõ queiras por te aos itens

Com quem sobre castigar te

Sey hade esbofetearte,

E com este desengano

Naõ te envergonhas magano?

sábado, 16 de abril de 2011

Nova Direção na Casa da Cultura



Nós desejamos que Carla de Zulmira
e a professora Débora Raquiel
dedilhem firmes a sagrada lira
não deixem mais nossa cultura ao léu
possam cumprir de fato um bom papel
sempre com ética e cidadania
que gerenciem com sabedoria
tal patrimônio que pertence ao povo
dando à cultura um total renovo
e Santa Cruz respire poesia!

(Gilberto Cardoso dos Santos)



quinta-feira, 14 de abril de 2011

ENTREVISTA A ERIKA ZUZA DA TV CABUGI





Em uma manhã cinzenta
de chuva um pouco profusa
Recebemos a visita
da repórter Erika Zuza
que esbanjou simpatia
e nos trouxe alegria
feito inspiradora musa.

Edgar se arrumou
foi ao salão de beleza
tentou suprimir um pouco
as falhas da natureza
e Hélio se maquiou
até baton colocou
vejam quanta esperteza!

Eu, que não preciso disso,
fui todo ao natural
disse a Erika: "Me ponha
no Jornal Nacional"
Ela disse: "Se der certo
todos irão ver Gilberto
passar no Globo Rural."

Todos pretendendo ser
a principal personagem
Seu João tirou o boné
e declamou com coragem
feito um menino sapeca
mas o brilho da careca
atrapalhou a filmagem.

Quem filmou a entrevista
foi Zenóbio Oliveira
que veio a se revelar
um poeta de primeira
bom no verso e na prosa
foi uma manhã chuvosa
calorosa e prazenteira.

Eu convidei Adriano
para compor o enredo
mas ele disse que tinha
um compromisso bem cedo
penso que se assustou
e essa desculpa criou
decerto ficou com medo.

Hora e meia de entrevista
bom papo e declamação
que há de ser reduzida
ao se fazer edição
por mim podem retirar
a parte de Edgar
Hélio Crisanto e seu João.

(Gilberto Cardoso dos Santos)


domingo, 10 de abril de 2011

CANÇÃO - Cecília Meireles


Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


Comentário:

Meu Deus, que poema lindo
que imagens eloquentes
a poeta se faz deusa
seus atos são transcendentes
e o sonho que vai morrendo
vai a nossa alma enchendo
de sentimentos pungentes.

Lágrimas que viram ondas
tentam matar o anseio
e segue o sonho à deriva
no mar que se faz mais cheio
termos comuns, reciclados,
que deixam braços quebrados
no fim de tal devaneio.

(Gilberto Cardoso dos Santos)

POEMINHO DO CONTRA - Gilberto Cardoso dos Santos


No princípio era a flexão
substantiva, em estreito ninho
na gaiola da norma padrão
diminutivo dito com carinho
que perde asas, sua substância
na inusitada e nova circunstância
se torna verbo no "Eu passarinho"

Termo eloquente que não muda a forma
mesmo assim entra em transformação
se torna lei ao violar a norma
é virtuoso em sua transgressão
e sobrevoa todas as barreiras
passarinhando sobre as ribanceiras

para espanto dos que passarão.