quarta-feira, 27 de maio de 2020

AGRADAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO! (Gilberto Cardoso dos Santos)



AGRADAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO! (Gilberto Cardoso dos Santos)



Ao construir o poema "Nietzsche Atualizado", lembrei de um educador, Mestre em Física. Enviei-lhe a estrofe sem no entanto solicitar opinião, mas ele deu um feedback  positivo e resolveu partilhá-la em seus  grupos. Algo inesperado, porém, ocorreu. Ele me trouxe a má noticia:

- Gilberto, eu mandei seu poema aí para um amigo meu e acho que ele não compreendeu a ideia e disse que você era muito presunçoso. Estava se comparando a Nietzsche, estava muito longe de ser Nietzsche... o que é que você tem a dizer a ele?”

Fiquei triste pela apreciação negativa, mas respondi assim:

- Amigo, diga a ele que eu concordo com a parte final. Estou muito longe de ser semelhante a Nietzsche. Quanto à pretensão de querer ser Nietzsche, ele errou nesse ponto. Mas qualquer coisa que nós escrevemos está sujeita a três reações:  indiferença, admiração ou desprezo. É uma reação natural que cada um tem de acordo com a sua percepção do que foi escrito.

- Gostaria muito que se você explicasse para ele, qual foi o seu objetivo, quando escreveu esse poema.

- Não se incomode com isso não, meu querido. Você sabe que todo escritor está sujeito a ser ou não aceito. As pessoas vão de alguma maneira se apegar ou não ao texto. O próprio Nietzsche tem seus escritos amados por uns e odiados por outros. Ora, quanto mais eu, reles poeta sem muitas pretensões! Este poema tem a ver com um aforismo dele que diz: “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Eu apliquei isso para o conhecimento que nós temos hoje em relação aos buracos negros. Esquente com isso não. Foi melhor ele ser sincero com você a respeito que aplaudir pra lhe agradar. Talvez isso revele uma boa qualidade nele.”

Meu amigo confirmou que ele era, de fato, sincero. Não lhe disse então, mas pensei comigo que o desconhecido aparentava ser uma dessas pessoas excessivamente emotivas, precipitadas no falar. Ora, havia me julgado sem conhecer-me, com base num único poema, sem levar em conta que devemos separar o escritor do eu poético. Perguntava-me: Não seria ele um religioso? 

Por mim a coisa estava encerrada, conformara-me com seu juízo, mas meu leitor não estava satisfeito e prosseguiu  a discordar respeitosamente do colega. Disse-lhe:

“Você não entendeu. Ele fez o oposto do que você está pensando. Totalmente o oposto.
Segundo Mortimer Adler, existem quatro níveis de leitura, consequentemente, de interpretação.

Nível 1: leitura elementar
Nível 2: leitura averiguativa ou inspecional
Nível 3: leitura analítica
Nível 4: leitura sintética

O nível 4 é o mais complexo, trata-se da análise comparada de obras literárias. Quando digo obra literária, incluo toda forma de manifestação intelectual: música, pintura, escrita...
Ele fez uma síntese brilhante de estudos sobre buraco negro, teologia, a obra do autor supracitado. Tudo isso numa ironia com a situação vigente em nosso país.

Estudo comparado:
Buraco negro é uma região do espaço-tempo em que o campo gravitacional é tão intenso que nada — nenhuma partícula ou radiação eletromagnética como a luz — pode escapar dela. (Esse você conhece muito bem)."

Agradeci a Nelson Almeida pela generosa e desnecessária porém brilhante defesa . Acrescentei:

- Talvez seu amigo tenha estranhado o título do poema. Tive dificuldade quanto a isso, pois de algum modo queria deixar clara a ponte com o aforismo nietzscheano.

- Provavelmente. Ele também é religioso.

Ao ter ciência de sua religiosidade, entendi melhor sua reação.

Fazer poemas, meu amigo, é como construir espelhos. Estes podem ter defeitos próprios, distorcer a realidade das coisas, mas podem também apenas mostrar o que quem nele se mira não gostaria de ver. A pouca visão de quem nele fixa o olhar também pode atrapalhar a apreciação.

Encerro dando um conselho a quem quer se aventurar na escrita: não se intimide diante das críticas, nem se deixe levar pelos elogios, pois nem todos serão verdadeiros. Desagradar também faz parte do ofício. A crítica, ainda que negativa, é melhor que a indiferença.

Agradar ou não, eis a questão, mas o importante mesmo é agradar-se.








quarta-feira, 20 de maio de 2020

O ÓDIO PERDEU O FREIO


Na Esquerda e na Direita
O ódio marca presença
Na ambição e na descrença
Mesmo na igreja ele espreita
Cruel tem sido a colheita
Na história da humanidade
Se disfarça de bondade
Mas é outro o seu anseio
O ódio perdeu o freio
Na ladeira da maldade.


O ódio vem disfarçado
De fé e patriotismo
Com as armas do fascismo

Busca o controle do Estado
Um grupo é discriminado
Tratado sem piedade
Faz-se uma polaridade
E o belo passa a ser feio
O ódio perdeu o freio
Na ladeira da maldade.

Repórteres agredidos
Cala a boca e palavrões
Temendo investigações
Insultos são desferidos
Alianças com bandidos
Pra ter estabilidade
Dançam na calamidade
Da Covid sem receio
O ódio perdeu o freio
Na ladeira da maldade.

O ódio vestiu um terno
Botou gravata e colete
E foi pro seu gabinete
Pra construir nosso inferno
Usa um arsenal moderno
De mentira e falsidade
Ataca sem piedade
Distorce o ideal alheio
O ódio perdeu o freio
Na ladeira da maldade.

Glosa: Gilberto Cardoso Dos Santos
Mote: Hélio Crisanto

terça-feira, 19 de maio de 2020

A QUEM TIVER SACO E INTERESSE PARA LER



A QUEM TIVER SACO E INTERESSE PARA LER 


Após ler a reportagem contida na manchete "Xi Jinping: Vacina chinesa contra covid-19 será “bem público global”, alguém comentou: 

"Eles que meteram q gente nesta merda não fazem mais que obrigação."

Reagi negativamente, dizendo: "quanta ignorância."

De imediato, veio a resposta: "não acho não . Estou longe de ser ignorante . E atenta um detalhe : estou longe tb de ser Bolsominion."

Prosseguimos: " bom saber, amiga"

Ela: "alguém que me chama de ignorante sem me conhecer nao pode se permitir de me chamar de amiga .."

Dai, lhe dei a seguinte resposta:

Já que você a quem não conheço insiste em reagir negativamente, mesmo diante de minha posterior abordagem positiva – que resultaria, provavelmente, num apagamento de minha postagem ou pedido de desculpas - buscarei explicar porque a chamei de ignorante.
A Bíblia, tão mal utilizada nesses dias, diz algumas verdades. Uma delas, é: “pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.” Isso é verdade, principalmente em plataformas como o Facebook. Nós nos expomos no que dizemos. Como não a conheço, julguei-a por suas palavras. Dei uma rápida olhada em suas postagens para não cometer mais injustiças e vi o quanto você é ríspida, seca, no que posta. Ignoro isso, decerto, por ter um temperamento diferente do seu. Atitudes como a sua sempre me chocarão, independentemente de onde venham.
O que você disse me pareceu típico de quem acredita que os chineses intencionalmente espalharam um vírus para desgraçar o mundo. Essa revolta contra o povo chinês é bem comum entre os bolsominions. Eles dizem coisas semelhantes a respeito deles.
Numa outra postagem, você insinua que os chineses podem ter tramado algo. Eis o que postou: Vai haver uma recessão muito grande e eu acho que sim devemos mandar a conta pra China se é que eles acham que vão se dar bem depois.” Se um bolsomínion postasse isso, não estranharíamos, pois é bem típico deles.
Não sendo seguidora de Bolsonaro, você se expressou como um deles. Reproduziu seu discurso. Daí o meu ato reflexo. Diariamente luto aqui e em outros espaços contra o fascismo e influência das Fake News. Vejo essa dureza de discurso, sempre recheada de ofensas contra a esquerda, reveladoras de uma deficiência no campo da empatia e do exercício da alteridade.
Há um detalhe interessante: em nenhum momento eu a chamei de bolsomínia. Para ser ignorante sobre determinado assunto não é necessário ser bolsomínion. Ante minha indignação, porém, você deve ter percebido quão semelhante era seu discurso do deles e aceitou a carapuça.
No Rio Grande do Norte o adjetivo ignorante tem dupla significação. Alguém pode ser cultíssimo, sapientíssimo, inteligentíssimo, detentor de diversos diplomas e ser um ignorante. Ignorante aqui pra nós é quem é ríspido nas respostas, mal-educado, bruto. Em uma de suas postagens, você se dirige ironicamente a quem lhe pede moderação nas palavras com a expressão “Vá se lascar”. Isso pra nós é uma resposta ignorante. Ignorante no sentido de que ignora os sentimentos do interlocutor.
O que menos a China precisa nesse momento é de xingamentos. Não custa nada manter um silêncio eloquente ou expressar gratidão pelo gesto. Claramente eles estão indo na contramão do que dizem os ultradireitistas. Não esperam lucrar com a vacina.
Fiquei feliz por saber que você é de esquerda, por isso a chamei de “amiga”. Julguei que a partir daí poderíamos interagir positivamente, mas você foi tão grossa comigo quanto foi com o povo chinês.
Creio que suas palavras representam um fogo amigo, altamente indesejável nesse momento crucial de nossa história. Vêm-me à mente as palavras de Drummond: Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Precisamos ter um discurso mais coeso, cada vez mais afinado com a ética, com o humanismo, com o bom senso. Deixemos essa dureza toda e amargura para a turma da Direita, tão afeita a esse tipo de linguagem.
Sei que não é fácil sermos amigos depois disso tudo. Sinto-me culpado pela deflagração da bomba. Mas saiba que é sempre um prazer interagir com gente inteligente como você. Se sua inteligência emocional tiver a estatura de sua racionalidade, certamente saberá relevar minha falha inicial.
Abraços!


Reportagem:


domingo, 17 de maio de 2020

PRESENÇA DE ANITTA, A BELA E A FERA


PRESENÇA DE ANITTA, A BELA E A FERA
Que tal nesse Domingão, sem o Faustão, assistir à bela e à fera?
À morena e à loira fissurando estereótipos?
Estou gostando da nova presença de Anitta.
Sim! Ela entrou numa onda diferente. Que tal surfarmos com ela nas águas traiçoeiras da política?
Recentemente, uma querida educadora referiu-se desalentada à geração Anitta.
Disse-me: "E quem vai lutar pela redemocratização do Brasil? A geração Anita?? Uma imensidão de
jovens sem leitura, sem formação política..."
Com imensa satisfação, lhe falei dessa nova fase e ela se sentiu revigorada.
Anitta, Felipe Neto e outros influenciadores digitais podem ser bastante úteis nesse instante trevoso
em que vivemos.
Sim! Anitta está abraçando as diferenças. Admite, com todas as letras que não entende nada do tema e se dispõe a aprender com os melhores! Em breve poderá ser uma menina má, de esquerda, comunista. Mais útil que inútil. Se começar a exercitar o cérebro como exercita o bumbum, fará um grande bem ao Brasil.
Gilberto Cardoso Dos Santos - gcarsantos@gmail.com

https://www.youtube.com/watch?v=izJj4fkajPs